O PERDÃO E O CORAÇÃO

Especial - Mês das Mulheres

A expressão “dor no coração” para se referir a momentos ruins, de tristeza e mágoa, pode ir muito além da metáfora. Com mais de 35 anos de prática clínica, a psicóloga Suzana Avezum decidiu ir atrás da conexão entre sentimentos negativos como ressentimento, raiva, injustiça e mágoa, e eventos cardíacos. “Na nossa cultura ocidental, o coração é o símbolo das emoções. Mas e se essa relação fosse mais do que figurada?”, diz Suzana, que, durante dois anos, estudou 130 pacientes – metade saudável e metade já tinha sofrido um infarto do miocárdio – para analisar seus perfis, a disposição para o perdão e a relação com a espiritualidade (neste contexto, a espiritualidade não tem a ver com religião, mas com a maneira com a qual o indivíduo olha para a vida e busca cultivar sentimentos positivos).

Os achados da pesquisa, apresentada no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, foram surpreendentes: quem tinha mais dificuldade para perdoar apresentava um histórico de problemas cardiovasculares. Além disso, 31% dos que já tinham infartado confessavam uma perda significativa de fé – entre os que não apresentaram problemas de coração, o índice foi de apenas 9%. “Lembranças ruins provocam estresse. Ruminar os acontecimentos antigos faz com que eles se tornem presentes. Ou seja, todas as vezes que você relembra, sente tudo de novo. O efeito prolongado disso bombardeia o organismo com substâncias que podem prejudicar a saúde”, explica a psicóloga.

Claro, na prática, perdoar não é fácil, mas, ao compreender que o perdão é benéfico sobretudo para o nosso próprio bem-estar físico e mental, podemos encontrar novas formas de nos abrir para dar este passo tão importante e libertador. “Perdoar é abrir mão do direito de sentir aquela mágoa. Quando somos ofendidos, magoados ou agredidos injustamente, nos sentimos autorizados a nutrir a raiva, guardar aquele ressentimento. Perdão é deixar para trás”, diz Suzana.

LEVE TALKS | MULHERES NA MEDICINA: QUAIS OS AVANÇOS E DESAFIOS DA PROFISSÃO

Quais os avanços e desafios da profissão?

  • Dra. Bruna Vailati, Coloproctologista do Centro Especializado em Aparelho Digestivo;
  • Dra. Natália Pascotini, Cirurgiã do Aparelho Digestivo com foco em Cirurgia de Hérnia de Parede Abdominal;
  • Dra. Maria do Socorro, Mastologista do Centro Especializado em Oncologia.

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Sociedades médicas voltam a destacar riscos do chip da beleza

Em documento à Anvisa, instituições cobram medidas para coibir o uso de implantes hormonais para fins estéticos.

O chamado chip da beleza, um implante hormonal usado para fins estéticos, voltou ao centro das atenções. Dessa vez, por causa de um conjunto de instituições médicas que elaborou, no fim do ano passado, um documento enviado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cobrando um reforço no controle de produtos hormonais e nas medidas de regulamentação da manipulação desses produtos.

O parecer é assinado por especialistas da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), além das sociedades de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), de Diabetes (SBD), de Urologia (SBU) e de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

As sociedades médicas enfatizam que não existe dose segura de hormônios para procedimentos estéticos ou de melhoria de performance física. Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) já havia vetado a prescrição médica de terapia hormonal e anabolizantes com esses objetivos, em pacientes sem deficiência comprovada de hormônios.

O que é o chip da beleza
Em geral, trata-se de um implante inserido na pele que traz uma combinação de hormônios manipulados – a composição exata varia. As promessas são variadas, incluindo o aumento da massa muscular, emagrecimento e redução da gordura corporal, além de melhora da libido, alívio dos sintomas da menopausa e ação contra o envelhecimento.
Vale destacar que esse tipo de produto não é aprovado pela Anvisa. E, como são materiais manipulados, não contam com bulas, como os medicamentos comuns registrados no país.

Efeitos adversos do chip da beleza
A princípio, pode parecer tudo muito bom, mas não se engane. “O uso prolongado de hormônios androgênicos acarreta riscos, como queda de cabelo, acne e, no caso das mulheres, aumento do tamanho do clitóris”, explica a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Esses hormônios também podem causar alterações adversas irreversíveis no sistema cardíaco e hepático.

O uso desse tipo de produto entre praticantes de esporte e musculação tem o objetivo de melhorar o desempenho físico e aumentar a massa muscular. Contudo, especialistas alertam que a prática pode trazer problemas como:

  • Hipertensão arterial;
  • Infarto;
  • Acúmulo de gorduras nos vasos sanguíneos;
  • Trombose;
  • Doenças no fígado, como insuficiência hepática aguda e câncer;
  • Transtornos mentais e de comportamento, incluindo depressão e dependência;
  • Infertilidade, disfunção erétil e diminuição de libido.

Médicos alertam que não existe dose segura para o uso de hormônios para fins estéticos ou de performance

Falsa sensação de segurança dos manipulados
“As pessoas costumam achar que medicamentos manipulados são fitoterápicos e, portanto, seguros. Mas pode-se manipular qualquer medicamento, como é o caso dos hormônios em questão”, diz Tarissa. Aliás, mesmo os produtos manipulados com derivados de plantas podem apresentar efeitos colaterais.

“Um dos motivos pelos quais os chips da beleza representam riscos é justamente a manipulação desses implantes. Cada médico tem liberdade para ajustar as quantidades de hormônios, como estradiol, testosterona, gestrinona, e DHEA, de acordo com sua preferência”, afirma Tarissa.

Para o presidente da SBEM Regional São Paulo, Felipe Henning Gaia Duarte, a variação na composição é tanta e as evidências científicas, tão escassas, que chega a ser difícil antecipar o tipo de problema.

Pior: segundo o especialista, os chamados chips da beleza passaram a incluir outros compostos além dos hormônios. “O que antes era basicamente um implante de gestrinona hoje engloba uma série de outras substâncias que teriam uma ação estética”, pontua.

E não se sabe se esse combo traria ainda mais problemas. Aliás, Duarte destaca a ausência de evidências científicas documentadas até para o benefícios associados ao uso dos implantes.

“Até o presente momento, não existe nenhum trabalho publicado em uma revista séria demonstrando realmente o quanto de hormônio é liberado, o tempo de duração no organismo, os efeitos adversos que pode trazer a longo prazo”, diz. Isso impede qualquer médico de prescrever esse tipo de estratégia com segurança.

A norma do CFM também destaca a inexistência de estudos clínicos que demonstrem a segurança e a magnitude dos riscos associados à aplicação de hormônios em níveis acima do comum, tanto em homens quanto em mulheres.

No caso de mulheres, Tarissa pontua que a indicação de derivados androgênicos, como a testosterona, é bastante restrita. “Casos de transtorno do desejo sexual hipoativo na pós-menopausa, nos quais a testosterona pode ser utilizada, são raros. Não há nenhuma indicação de testosterona ou outros androgênicos na pré-menopausa”, afirma.

Ministério da Saúde estima 17 mil casos de câncer de colo de útero até 2025

São Paulo, 18 de março de 2024 – De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Brasil, o câncer do colo de útero é o terceiro tipo mais incidente entre as mulheres. Pelo menos 6 mil brasileiras morrem a cada ano em decorrência da doença. O Ministério da Saúde estima que de 2023 a 2025, cerca de 17 mil pacientes sejam diagnosticadas com o tumor, causado pelo papilomavírus humano (HPV). Para conscientizar a população sobre a doença, a campanha Março Lilás alerta sobre a prevenção e detecção precoce deste tipo de câncer. A vacinação contra o HPV mais é uma forma eficaz de prevenção. Atualmente, a vacina é recomendada para meninas (de nove a 14 anos) e meninos (de 11 a 14 anos), e pode prevenir 70% dos cânceres de colo do útero e 90% das verrugas genitais, em ambos os sexos.

Outra forma de prevenção é o uso de preservativos na relação sexual, já que a contaminação ocorre por esta via, além de proteger contra outras doenças. Além disso, o exame Papanicolau deve ser feito periodicamente por todas as mulheres após o início da vida sexual, pois é capaz de detectar alterações pré-cancerígenas precoces, que se tratadas, são curadas na quase totalidade dos casos, não evoluindo para o câncer. O câncer do colo do útero é um tumor que costuma ter desenvolvimento lento. Na fase inicial, pode não apresentar sintomas. Já nos casos mais avançados, a doença mostra alguns sinais como o sangramento vaginal, principalmente durante ou após as relações sexuais, dores na região pélvica e na virilha, alterações urinárias e intestinais e secreção vaginal com odor desagradável.

De acordo com Dr. Giuseppe Coiro, ginecologista do Centro da Mulher, da Unidade Campo Belo, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os dois tipos mais frequentes de tumor maligno de colo de útero estão associados à infecção pelo HPV: os carcinomas epidermóides que infectam pele ou mucosas (oral, genital ou anal), tanto em homens como em mulheres, e causa o aparecimento de verrugas no colo do útero, e os adenocarcinomas que surgem a partir da infecção nas células da endocérvice, que é a parte interna do colo de útero. E temos ainda o carcinoma adenoescamoso, um tipo mais raro, que pode acontecer com o aparecimento de verrugas ou características mistas dos dois tipos anteriores.

“O câncer do colo do útero pode ser completamente curado se diagnosticado e tratado no estágio inicial. A doença costuma ser mais frequente na faixa etária de 30 a 39 anos e se torna mais comum entre 50 e 60 anos. Segundo levantamento da Fundação do Câncer, tumores do colo do útero, em sua forma mais grave, acometem de 49 a cada 100 mil mulheres no Brasil”, esclarece Dr. Giuseppe.

O tratamento do câncer de colo de útero pode ser feito por meio de cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. A definição depende do estágio da doença. “Por isso a prevenção é o melhor remédio, manter as vacinas em dia, realizar exames de rotina e sempre procurar orientação médica, é muito importante para evitar este tipo de doença que, a cada ano, aumenta no país”, finaliza o ginecologista do Centro da Mulher.

Ministério da Saúde estima que cerca de 10 milhões de pessoas convivem com osteoporose

A osteoporose é uma condição que resulta na perda gradual da densidade óssea, tornando os ossos mais frágeis e susceptíveis a fraturas.

A deficiência hormonal de estrogênio, comumente associada à menopausa, é um dos principais desencadeadores da doença, impactando sobretudo as mulheres. Segundo dados da Abrasso (Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo), uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens, a partir dos 50 anos, enfrentarão fraturas causadas pela osteoporose em algum momento. O Ministério da Saúde estima que a condição, que provoca cerca de 200 mil óbitos anualmente, afeta aproximadamente 10 milhões de pessoas no Brasil.

A osteoporose se divide em dois tipos: a primária e a secundária. A primária, por sua vez, divide-se em dois subtipos. O tipo 1, mais comum em mulheres após a menopausa, está diretamente relacionado à diminuição dos níveis de estrógeno, o hormônio feminino predominante nessa fase. Enquanto isso, o envelhecimento é um dos fatores predominantes para a osteoporose do tipo 2, caracterizada pela escassez de reservas de cálcio.

Por outro lado, a osteoporose secundária está associada a condições como insuficiência renal crônica, hipertireoidismo, uso de medicamentos como corticoides, doenças hepáticas e intestinais inflamatórias, bem como a artrite reumatoide.

As implicações das fraturas resultantes do enfraquecimento ósseo são alarmantes. A Abrasso estima que até 24% dos pacientes falecem no ano seguinte a uma fratura no quadril. Ademais, 40% dos pacientes necessitam de auxílio para locomoção, e cerca de 33% dos indivíduos com fraturas no quadril tornam-se totalmente dependentes ou acabam em casa de repouso.

Segundo a Dra. Marcia Veloso, reumatologista do Centro de Saúde da Mulher da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a osteoporose muitas vezes permanece assintomática nos estágios iniciais, o que pode dificultar o diagnóstico precoce. Geralmente, os sintomas se manifestam apenas com a ocorrência de fraturas, que podem ser tanto espontâneas quanto resultantes de traumas.

Atividades físicas regulares, exposição solar e uma alimentação equilibrada são aliados cruciais na prevenção da osteoporose. A prática adequada de exercícios aeróbicos e musculação, combinada a uma dieta rica em cálcio e vitamina D desde a infância, são fundamentais para a saúde óssea.

Para o tratamento eficaz da osteoporose, é essencial buscar orientação médica e realizar exames de rotina para avaliar os níveis de vitamina D e cálcio no organismo, independentemente da idade. A Dra. Marcia Veloso destaca a importância de iniciar a educação sobre saúde óssea desde a infância, enfatizando que crianças com uma dieta rica em cálcio têm menos probabilidade de enfrentar problemas relacionados a fraturas ósseas na vida adulta.

O tratamento é altamente individualizado e pode envolver medicamentos e, em casos mais graves, procedimentos cirúrgicos. A colaboração entre reumatologistas, ortopedistas, fisioterapeutas e nutricionistas é essencial para a reabilitação dos pacientes e a prevenção de futuras fraturas.

Além disso, medidas simples no ambiente doméstico, como manter espaços desobstruídos e bem iluminados, podem reduzir o risco de quedas e, consequentemente, de fraturas ósseas. Eliminar tapetes, instalar pisos antiderrapantes e utilizar calçados adequados também são medidas preventivas valiosas.

SAÚDE DA MULHER

Um passo de cada vez

Diante de um câncer de mama, há inúmeras angústias e dúvidas a respeito da evolução da doença, tratamentos, efeitos colaterais e possíveis desfechos. Trazemos aqui um apanhado de dúvidas comuns com informações precisas dos especialistas da equipe multidisciplinar do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz  

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o ano de 2023 deve registrar cerca de 75 mil novos casos de câncer de mama em mulheres brasileiras. Graças aos avanços em tratamentos e medicações, grande parte das pacientes com diagnóstico precoce será curada. Mas é importante dizer: o tratamento do câncer de mama é multidisciplinar, afeta a mulher em diversas dimensões, pode ser relativamente longo e conter várias etapas. Por isso, a informação é um recurso importantíssimo para encarar essa jornada. A seguir, reunimos algumas das dúvidas mais comuns sobre a doença respondidas por especialistas do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

É POSSÍVEL PREVENIR O CÂNCER DE MAMA?

Aqui vale dizer antes: prevenção e detecção precoce são coisas diferentes. Enquanto a detecção precoce, por meio de exames de diagnóstico periódicos, é fundamental para o sucesso do tratamento, a prevenção é um conjunto de hábitos saudáveis que podem colaborar para evitar o aparecimento ou crescimento de um tumor, situação em que podemos intervir – no entanto, é importante ressaltar: não existe prevenção primária. Porém, como os fatores ambientais podem ter um impacto importante, as ações preventivas devem ser mantidas ao longo da vida. De acordo com Inara Santos Nascimento Souza coordenadora de nutrição clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, com atuação no Centro Especializado em Oncologia, a alimentação é um dos principais pontos de atenção quando falamos em prevenção. “Manter o peso adequado e a alimentação variada e saudável são ações chave na prevenção do câncer de mama. Principalmente em alguns subtipos hormonais, já que a alimentação tem impacto direto na secreção dos nossos hormônios”, diz Inara, que ressalta que a água também tem um papel indispensável nessa manutenção. “A ingestão hídrica é muito importante para todos nós. De forma geral, a recomendação diária para um adulto é de 35ml por quilo de peso. A água é fundamental para manter o metabolismo funcionando da maneira adequada, os órgãos, as glândulas etc.” E nada de dietas mirabolantes: alimentação saudável é comida de verdade. “Alimentos in natura, comida de feira, sabe? E, claro, evitar os industrializados”, ensina a nutricionista.

Entre as outras orientações estão praticar exercícios físicos regularmente – 150 a 300 minutos semanais de atividade moderada, de acordo com a Organização Mundial da Saúde –, ter sono de qualidade, evitar o fumo e o abuso de bebidas alcoólicas e manter o peso adequado. Especificamente nos casos de câncer de mama, um fator de risco associado é a terapia de reposição hormonal, por isso, recomenda-se evitar o uso prolongado de hormônios.

Inara dos Santos Nascimento

“Para a manutenção adequada da saúde, devemos seguir sempre o lema da boa alimentação: descascar mais e desembalar menos”


Inara Santos Nascimento Souza, coordenadora de nutrição clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, com atuação no Centro Especializado em Oncologia

A DETECÇÃO PRECOCE FAZ DIFERENÇA MESMO?

Esta é uma velha máxima fundamental: quanto mais cedo o câncer for detectado, maiores as chances de cura. Nesse sentido, realizar os exames periódicos de acordo com a recomendação do seu médico para o seu perfil é extremamente importante, já que, em fase inicial, o câncer de mama costuma ser silencioso. “A doença no início não produz nenhum sintoma, é totalmente indolor. Algumas pacientes percebem porque o nódulo está mais próximo à pele, mas tumores mais profundos e menores de 2 centímetros só podem ser vistos na mamografia”, explica o Dr. Ricardo Caponero, oncologista clínico do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “No geral, a mulher só vai passar a apresentar sintomas quando a doença estiver mais avançada, como alteração ou retração do mamilo com secreção purulenta, vermelhidão e inchaço na mama, presença de gânglios ou linfonodos, que indicam que o câncer está em fase de disseminação.”

Hoje, preconiza-se a mamografia anual para mulheres a partir dos 40 anos. No entanto, com a incidência cada vez maior de câncer de mama em mulheres mais jovens, é interessante fazer o acompanhamento com o médico ginecologista e, com base no histórico individual, definir o manejo mais adequado.

90% dos casos de câncer de mama diagnosticados na fase inicial têm cura

A CIRURGIA É PARA TODO MUNDO?

Nos casos de câncer de mama, sim, mas existem procedimentos diferentes para cada estágio ou fase da doença. Hoje, a mastectomia, que é a retirada completa da mama, não é a recomendação absoluta para todos os casos – dependendo do tipo e subtipo tumoral, do tamanho do tumor, e principalmente da relação tamanho de mama e tamanho de tumor, é possível a cirurgia mais conservadora, na qual se preserva a mama. “A cirurgia do câncer de mama tem evoluído muito. Quanto mais conhecemos a doença, melhores e mais personalizados ficam os tratamentos”, diz a Dra. Maria Socorro Maciel, mastologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Antigamente, acreditava-se que a doença se espalhava de forma ordenada da mama para a axila, então era uma cirurgia extremamente radical. Foi apenas depois da década de 80, com um conhecimento mais aprofundado sobre a biologia do tumor, que surgiu o tratamento conservador.” Em tumores em que a relação entre tamanho de tumor e tamanho de mama é adequada, e seguindo o subtipo tumoral, principalmente nas lesões detectadas no exame de imagem, é possível remover apenas o tumor com margem, avaliando a axila por meio da pesquisa do linfonodo sentinela, outro ganho em qualidade de vida e redução de efeitos colaterais do tratamento. “Esse procedimento, chamado inicialmente de quadrantectomia ou setorectomia ou lumpectomia, é equivalente à retirada total da mama em termos de sobrevida, associado à radioterapia”, diz a especialista.

Outra dúvida muito comum é sobre a cirurgia de reconstrução da mama, a cirurgia oncoplástica. Atualmente, além das técnicas para a paciente que foi submetida à lumpectomia, também é possível reconstruir a mama que passou pela mastectomia. “Temos técnicas tanto para o tratamento conservador bem como para a reconstrução da mama imediata, com implantes de silicone, expansores ou retalhos musculares e, dependendo da localização do tumor, a preservação do complexo aréolo-papilar (aréola e mamilo)”, diz a Dra. Maria do Socorro. A mastologista conta também que a oncoplastia, em alguns casos, traz mais segurança ao médico durante a cirurgia, sabendo que aquela mama poderá ter resultados cosméticos e oncológicos satisfatórios e seguros.

Maria Socorro

“Para a manutenção adequada da saúde, devemos seguir sempre o lema da boa alimentação: descascar mais e desembalar menos”


Dra. Maria Socorro Maciel, mastologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA?

Entre os muitos tratamentos para o câncer, a radioterapia e a quimioterapia são os mais conhecidos. Mas nem todo mundo sabe a diferença entre eles e a indicação de cada um.

De modo geral, a radioterapia tem aplicação localizada, na área do tumor, e consiste em radiações que eliminam as células doentes. É indicada para cânceres que não se disseminaram e como complemento ao procedimento cirúrgico.

“Historicamente, a radioterapia entrou para reduzir os casos de mastectomia, que é a retirada completa da mama. Antigamente, a cirurgia conservadora, em que você só tira a lesão com uma margem de segurança, dava um índice de recidiva mais alto do que de uma mastectomia. E a adição da radioterapia à cirurgia conservadora proporcionou à técnica a mesma segurança da radical”, explica o Dr. Rodrigo Hanriot, radioterapeuta do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Área que avançou bastante nos últimos anos, hoje, a radioterapia apresenta métodos muito eficientes e que reduzem consideravelmente a exposição da paciente à radiação e a necessidade de frequentar as sessões por semanas ou meses, interferindo menos na sua rotina. Um deles é o Halcyon™, acelerador linear de partículas que une a tecnologia mais moderna de irradiação com a técnica mais precisa de localização diária, o IGRT (radioterapia guiada por imagem, na sigla em inglês) – isso se converte em sessões mais rápidas e em menor número, danos mínimos aos tecidos saudáveis e máxima irradiação ao tumor. Outro equipamento que apresenta uma eficácia elevada é o Intrabeam®, indicado para cânceres de mama em estágio inicial. Trata-se de uma radioterapia intraoperatória em dose única – ou seja, logo após a cirurgia, o equipamento é aplicado no lugar onde estava o tumor e, entre 20 e 30 minutos, seu acelerador linear em miniatura irradia a área periférica do tumor. O procedimento diminui possíveis efeitos colaterais da radioterapia convencional, como fadiga, vermelhidão na região, sensibilidade ou alteração na cor da pele, e evita a irradiação de pulmão e coração. “Além de melhorarem a qualidade de vida da paciente, essas tecnologias também são pensadas para preservar a saúde a longo prazo. Hoje, as pessoas estão vivendo mais e com tendência a apresentar câncer mais cedo. Então, se antes o foco era imediatista, salvar a vida daquela paciente naquele momento, a tecnologia evoluiu a ponto de definirmos um tratamento que leva em conta o hoje, o futuro próximo e o futuro distante”, diz o médico.

Já a quimioterapia tem ação sistêmica, ou seja, age em todo o corpo. Por isso, é recomendada em tumores com potencial mais agressivo ou metástases, quando a doença já se disseminou. “No geral, a quimioterapia é indicada em dois cenários macros: quando se trata de uma lesão agressiva, que, mesmo em estágio inicial, apresenta crescimento acelerado; e quando a lesão é diagnosticada tardiamente e, mesmo não sendo agressiva, já se espalhou”, explica o Dr. Rodrigo. Outra diferença é que, enquanto a radioterapia ataca as células por meio da radiação, tendo aplicação local, a quimioterapia é medicamentosa e pode ser feita por meio de aplicação intravenosa, subcutânea ou por via oral, a depender do tipo de tumor, tratamento escolhido e fármaco.

Rodrigo Hanriot

“A radioterapia apresenta métodos muito eficientes e que reduzem consideravelmente a exposição da paciente à radiação e a necessidade de frequentar as sessões por semanas ou meses, interferindo menos na sua rotina”


Dr. Rodrigo Hanriot, radioterapeuta do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

O TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA PODE INTERFERIR NA FERTILIDADE DA MULHER?

Sim, mas existem alternativas que devem ser previamente discutidas com seu médico, como a possibilidade de preservar os óvulos. Antes, vamos a alguns dados relevantes sobre esse tema: o tratamento quimioterápico pode gerar infertilidade em quase 50% das pacientes que estão em idade reprodutiva. “A quimio afeta tanto as células cancerígenas quanto as saudáveis. A seleção é sobre células que estão se replicando, por isso a queda do cabelo é um efeito colateral comum, e o mesmo acontece com os óvulos. Então o tratamento quimioterápico pode induzir a menopausa quimicamente”, diz a Dra. Taciana Mutão, oncologista clínica do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Em resposta a isso, as técnicas de preservação de óvulos e embriões também avançaram bastante, incluindo os protocolos para pacientes oncológicas, que podem induzir a ovulação em menos de 15 dias. “Além disso, existe um medicamento que inibe a função ovariana, protegendo-a durante o tratamento”, acrescenta a oncologista.

A terapia hormonal, tratamento normalmente recomendado para tumores de subtipo luminal – ou seja, que se caracterizam pela superexpressão de receptores hormonais (estrógeno e progesterona) –, também pode interferir na vida fértil da mulher, uma vez que, como a quimioterapia, tem ação sistêmica. Neste caso, é preciso ter um olhar cuidadoso e individualizado, já que a hormonioterapia, que consiste em suprimir o crescimento do tumor ao retirar o hormônio de circulação, tem duração de cinco anos. “No entanto, estudos atuais já mostram que, dependendo da evolução do tratamento, é possível pausá-lo para a mulher poder engravidar e, dois ou três anos depois, retomar a medicação”, explica a Dra. Taciana. Um dos estudos mais recentes, o Positive, demonstrou que a pausa hormonal durante três anos foi segura do ponto de vista oncológico, e que cerca de 75% das pacientes conseguiram engravidar durante o período de acompanhamento.

Além da evolução em tratamento e tecnologias para combater a doença, a medicina também avançou bastante no cuidado, trazendo um olhar mais humanizado para o impacto do câncer na vida da paciente para além da sua saúde física, proporcionando a possibilidade de fazer escolhas que preservam seus planejamentos de vida, como o desejo de ser mãe.

DÁ PARA LEVAR UMA VIDA NORMAL DURANTE O TRATAMENTO?

Sim, mas é fundamental respeitar seus limites. “A resposta ao tratamento varia de mulher para mulher, algumas sentem mais os efeitos adversos, outras, menos. Mas, no geral, dá para seguir sua rotina anterior com algumas restrições”, diz o Dr. Caponero. “Pacientes que já tinham hábitos mais saudáveis, mais jovens, podem se sentir melhor, e a tolerância aos medicamentos também vai aumentando ao longo do tempo.”

Além disso, o médico ressalta que os tratamentos avançaram muito, abrandando os efeitos colaterais – sejam eles transitórios ou permanentes. “Os efeitos adversos da quimioterapia, por exemplo, são menos intensos e menos frequentes do que antigamente, permitindo que a paciente consiga lidar melhor com a medicação. Além disso, existem fármacos e tratamentos que ajudam a amenizar os efeitos colaterais mais comuns, como náusea, fadiga e até queda de cabelo”, diz.

E, para a preservação da qualidade de vida, o Dr. Ricardo destaca que o olhar multidisciplinar e individualizado é essencial. “Nós temos diversos profissionais no Centro Especializado em Oncologia do Hospital – oncologistas, cirurgiões, enfermagem, nutricionista, psicóloga, farmacêutica, entre outros. Todos os profissionais são muito importantes não só para garantir o sucesso do tratamento, mas para tornar essa jornada mais confortável e segura para a paciente”, ele diz.

Ricardo Caponero

“Você não trata o câncer, trata a pessoa. E nós cuidamos das pessoas”


Dr. Ricardo Caponero, oncologista clínico do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Outubro Rosa: projetos sociais resgatam autoestima de mulheres com câncer de mama

Em meio ao tratamento, dentre outros efeitos colaterais, pacientes podem perder cabelos e serem submetidas a intervenções cirúrgicas nas mamas.

A perda de cabelo, a cirurgia na mama e os diversos efeitos colaterais que podem resultar dos medicamentos associados ao tratamento contra o câncer de mama são alguns dos obstáculos que pacientes oncológicas precisam superar.

“Tudo isso impacta na autoestima da mulher, ou mais ou menos. Então é super importante o médico abordar esse tema no dia a dia”, ressalta Pedro Exman, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

De acordo com o especialista, cabe ao oncologista tratar a paciente, e não somente sua doença. “A gente precisa estar o tempo inteiro conversando sobre como a mulher está se sentindo, como está sua autoestima, como está a relação dela com as pessoas, como ela está se vendo no espelho”, explica.

Embora também possa acometer homens, representando 1% do total de casos da doença, segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca) , as mulheres são as principais impactadas pelo câncer de mama. No Brasil , excluídos os tumores de pele não melanoma, é o tipo de câncer mais frequente no público feminino. Por isso, no mês de outubro, várias iniciativas de conscientização sobre a doença tomam corpo, no chamado “Outubro Rosa”.

Diagnóstico precoce

Vanessa Araújo descobriu o câncer em maio de 2023, após notar, durante o autoexame da mama, o crescimento de um nódulo que vinha acompanhando com seu médico. Depois de uma mamografia, a biópsia confirmou o câncer em grau 2.

“Desse processo todo, o que me impactou mais foi a perda do meu cabelo. Com 14 dias depois da primeira sessão de quimioterapia, meu cabelo começou a cair em tufos”, conta a paciente.

Pelo tamanho do tumor, a paciente pôde fazer a cirurgia de retirada antes de começar a quimioterapia. O procedimento se concentrou no quadrante inferior de sua mama, mas a reconstrução foi feita no mesmo dia, usando sua própria gordura — sem alterações na aréola.

O oncologista explica que o tratamento é escolhido a partir do diagnóstico da paciente, uma vez que existem mais de um tipo de câncer de mama.

“De acordo com o tipo de doença, a cirurgia é a escolha inicial e, depois, o tratamento com medicação, mas, se tem uma doença mais avançada, normalmente, a gente começa com medicação e quimioterapia e, depois, vai para a cirurgia”, afirma Exman.

Um mês depois de ter sido operada, em agosto, Vanessa começou as sessões de quimioterapia. Quando estava decidida a raspar a cabeça, seu caminho cruzou com o da ONG Cabelegria, que, desde 2013, arrecada cabelos para confeccionar e distribuir, gratuitamente, perucas para pacientes que lutam contra o câncer.

Já com pouco cabelo, Vanessa estava decidida a comprar uma peruca e raspar a cabeça, quando encontrou um stand da organização em uma feira de beleza, em São Paulo. No mesmo dia, a paciente saiu de lá com sua peruca.

“Foi um alento”, diz sobre o acessório. Depois de raspar a cabeça, “eu senti até um alívio de não ver mais aquele monte de cabelo caindo no chão.”

Segundo informações da Cabelegria, a ONG já recebeu a doação de 345 mil cabelos e confeccionou 13 mil perucas — sendo que 95% dos artigos foram doados para mulheres em tratamento contra o câncer de mama.

Apesar de o diagnóstico precoce de Vanessa ter sido decorrente do autoexame, o médico explica que essa não é uma ferramenta de rastreamento.

“O autoexame é importante para a mulher se conhecer, conhecer sua anatomia e, eventualmente, notar se tiver alguma coisa diferente, mas ele não é uma ferramenta para rastreamento”, afirma.

Segundo Exman, a recomendação é de que as mulheres realizem a mamografia anualmente a partir dos 40 anos.

Uma nova mulher

Dados do Inca referentes ao ano de 2020 indicam que, a cada 10 mil mulheres, 11,84 morrem no país em razão do câncer de mama.

Sobre novos casos, a estimava do instituto é de que, para cada ano do triênio 2023-2025, sejam diagnosticadas 73.610 pessoas com câncer de mama.

Cada uma dessas pacientes lidará com a doença de uma forma diferente. No caso de Rose Mota, de 50 anos, o diagnóstico foi um “mal que veio para o bem”. A carioca se define como “uma nova mulher depois do câncer”.

Rose descobriu o câncer aos 39 anos, em 2012, ao solicitar um exame de mamografia, devido à casos anteriores na família.

Vítima de violência doméstica e criando quatro filhos ao lado de seu então marido, que “vivia na rua, bebendo e se drogando”, a cabeleireira diz que quando soube da doença “já não tinha mais lágrimas”.

O tratamento durou cinco anos, contando mastectomia — que é a retirada cirúrgica de toda a mama —, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia.

A cirurgia ocorreu ainda em 2012, mas a reconstrução da mama foi feita dois anos mais tarde, em 2014. Segundo Rose, lidar com a ausência do seio não foi tão difícil: ela usava próteses removíveis e conseguia disfarçar com as roupas.

Mas, depois de ter passado por duas intervenções cirúrgicas, a paciente decidiu que não retornaria para fazer a reconstrução da aréola.

“Quando eu olhava no espelho, eu sentia que faltava alguma coisa, mas procurava nem olhar muito para aquela mama, olhava só para a outra. E eu consegui bloquear na minha cabeça”, relembra.

Alguns anos mais tarde, em reuniões da Fundação Nacional de Combate ao Câncer (FNCC), Rose conheceu Patrícia Bastos, uma micropigmentadora paramédica que se dedica a ajudar pacientes com câncer ou vitiligo.

O projeto Volte a Ser Feliz foi fundado por Patrícia em 2014. Desde então, ela é a única financiadora, embora conte com algumas parcerias eventuais.

A dermopigmentadora mantém uma clínica na cidade do Rio de Janeiro e outra em Petrópolis e já atendeu mais de 800 mulheres com a iniciativa.

“A intenção que sempre tive é mostrar que elas ainda podem viver normalmente”, afirma.

Eu me olhava no espelho e me sentia reconstruindo. Conforme eu ia reconstruindo os pedaços do meu corpo, eu também fui reconstruindo a minha vida emocional.

Rose Mota

De acordo com o oncologista Pedro Exman, a mastectomia tem sido evitada pelos profissionais da saúde, tanto em hospitais privados quanto públicos.

“Na minoria das vezes, hoje em dia, a gente faz uma cirurgia mais agressiva com a retirada completa. Atualmente, a cirurgia conservadora poupa a mama, o mamilo, e acaba tirando só o setor em que está o tumor”, explica o médico.

Nos casos em que a mama precisa ser completamente retirada, a lei garante a realização de cirurgia plástica reparadora pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Mesmo com a garantia legal, apenas 20% das 92,5 mil mulheres que fizeram mastectomia entre os anos de 2008 e 2015 passaram pelo procedimento de reconstrução mamária, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) com base em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS).

Além disso, a reconstrução da aréola costuma ser feita alguns meses após a reparação da mama, devido ao período de cicatrização. Isso faz com que muitas mulheres desistam de se submeter a uma nova cirurgia — assim como aconteceu com Rose.

Esse cenário reforça a necessidade de acompanhamento de uma equipe médica formada por profissionais de diferentes áreas, como oncologia, psicologia, nutrição e fisioterapia, conforma aponta Exman. “A gente tem que deixar a paciente próxima de opções que a farão se sentir melhor”, afirma o especialista.

Infecção vaginal: causas, sintomas e tratamentos para recuperar o equilíbrio

Doenças podem causar coceira, dor e corrimento, entre outros sintomas. Procurar um médico quando notar um sinal de desconforto pode ajudar a eliminar rapidamente a infecção e prevenir complicações.

As infecções vaginais estão entre as queixas mais comuns das pessoas que procuram um ginecologista. Só a candidíase , para citar uma, afeta 75% das mulheres ao longo da vida, segundo projeções dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos.

Infecções da vagina e da vulva podem causar sintomas como coceira, dor e corrimento. Buscar um médico ao notar um sinal de desconforto pode ajudar a eliminar rapidamente a doença e prevenir complicações. Essas enfermidades, algumas transmitidas pela via sexual, são causadas por bactérias, fungos, vírus ou protozoários.

“As mais comuns são a candidíase e a vaginose bacteriana. Dentre as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), as mais frequentes são HPV, clamídia, herpes, gonorreia, sífilis e tricomoníase”, cita a ginecologista Marair Sartori, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Gestantes têm risco aumentado para algumas infecções. Alterações hormonais, oscilações do sistema imune e aumento do fluxo sanguíneo elevam a probabilidade de candidíase e vaginose bacteriana.

Sintomas e sinais de infecção vaginal

A médica explica que os sintomas das infecções no aparelho reprodutor feminino podem aparecer na vulva, na vagina ou nos órgãos internos. Na vulva, região externa da genitália, a pessoa pode ter feridas, características de sífilis (em estágio inicial) e herpes. A úlcera é também sintoma de outra IST menos comum, o cancro mole.

Na mesma área, verrugas podem ser indicativas de HPV, enquanto fissuras, semelhante a rachaduras no canto da boca, apontam candidíase, caso venham acompanhadas de vermelhidão, coceira e ardor.

Com relação à vagina, o principal sinal é o corrimento. “Se a secreção estiver amarelada, em grande quantidade, meio grossa e sem muito cheiro, associada a vermelhidão e ardor, vou pensar em tricomoníase”, diz a ginecologista.

Já um corrimento amarelado, grosso, com cheiro de peixe no fim da feira, sem dor ou ardor, indica vaginose bacteriana. Se o líquido for branco, com textura de leite coalhado e acompanhado de coceira, ardor, irritação e vermelhidão, trata-se, possivelmente, de candidíase.

Sangramento na hora da relação sexual talvez aponte clamídia, enquanto dor pélvica, dentro do útero, pode ser sinal de doença inflamatória pélvica, uma possível complicação da mesma IST.

“Na presença de qualquer sintoma, é melhor ir ao posto de saúde e pedir para o ginecologista dar uma olhada, principalmente para não deixar passar uma infecção sexualmente transmissível, que pode afetar, por exemplo, a parte reprodutiva da mulher. É importante também ter o rastreamento anual de Papanicolau”, recomenda a médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Diagnóstico e tratamento de infecção vaginal

O diagnóstico de uma infecção vaginal é feito pelo ginecologista e começa a partir dos sinais e sintomas descritos pela paciente, com o auxílio de testes laboratoriais. “Primeiro, o médico faz um exame físico. Geralmente, é preciso coletar material para examinar a amostra no microscópio e descobrir o agente infeccioso”, afirma Marair Sartori.

O HPV e a clamídia, por exemplo, podem ser pesquisados na coleta do Papanicolau de rotina. Outras ISTs precisam de exames de sangue complementares.

Uma vez determinada a causa da moléstia, o médico prescreve medicamentos adequados para eliminá-la. O tratamento adequado para a candidíase, por exemplo, envolve o uso de antifúngicos, uma vez que ela é desencadeada pela proliferação exagerada do fungo cândida. O fármaco pode ser tópico, como creme ou pomada, para casos cutâneos ou vaginais, ou oral, em comprimidos e cápsulas, para infecções mais graves.

Já a vaginose bacteriana é desencadeada por um desequilíbrio na microbiota da região. A proliferação anormal das bactérias naturais da vagina, em especial uma chamada Gardnerella vaginallis , pode desencadear os sintomas desagradáveis. “A vaginose bacteriana nem é, de fato, considerada uma verdadeira infecção”, aponta a médica. Antibióticos são usados para eliminar a condição.

O herpes, por sua vez, é tratado com antivirais, por se tratar de um vírus. Para outro vírus, o do HPV, não existe nenhum tratamento específico. “Nesse caso, a gente controla as lesões que a doença pode causar. Se houver um machucado no colo do útero, por exemplo, é possível cauterizá-lo. A gente também pode tirar verrugas ou tirar o pedacinho que está afetado pelo HPV”, explica a médica.

Outras ISTs, como sífilis, clamídia, gonorreia e tricomoníase, podem ser curadas com antibióticos.

Prevenção de infecção vaginal

Uma série de estratégias ajuda a prevenir tanto a candidíase quanto a vaginose bacteriana. Dentre as ações que podem causar o desequilíbrio do pH vaginal, estão duchas vaginais, episódios de stress, uso de calça muito apertada e falta de ventilação na região.

A recomendação médica é usar calcinha de algodão, dormir sem calcinha e não usar protetor diário, para não abafar a vagina. Em relação à rotina de higiene, a ação ideal é manter a área vaginal limpa com água e sabão neutro sem cheiro.

Redobrar a atenção ao usar o banheiro também é importante, já que o correto é limpar a região da frente para trás para evitar espalhar leveduras ou bactérias do ânus para a vagina ou trato urinário. Lenço umedecido pode ser utilizado, desde que não tenha perfume. Sabonete íntimo também é bem-vindo, com a condição que respeite o pH da região genital.

Outras orientações incluem não ficar muito tempo com o biquíni molhado e tratar o diabetes, se a doença estiver presente — o excesso de açúcar no sangue pode criar um ambiente ideal para o crescimento do fungo cândida.

No caso das ISTs, a melhor maneira de preveni-las é usar preservativo. Outra medida fundamental é vacinar-se contra o HPV e fazer testes periódicos de rastreio.

As 3 queixas gastrointestinais mais comuns em mulheres

Indigestão, intestino preso e síndrome do intestino irritável são condições que podem melhorar com remédios e mudanças no estilo de vida.

Azia, queimação, gases, inchaço, constipação… quem sempre? Alguns distúrbios gastrointestinais são tão comuns, que chegam a afetar 30% da população, sobretudo mulheres.

Muitas pessoas, no entanto, sofrem em silêncio, por se tratar de sinais e sintomas considerados um tabu. Um outro tanto se automedica.

“A automedicação é algo que a gente sempre desencoraja. Às vezes, a pessoa toma um remédio por conta própria achando que tem gastrite, por exemplo, mas nem tem. Se o paciente sente dor ou outro sintoma, deve procurar um médico”, informa a gastroenterologista Maira Marzinotto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A seguir, as três queixas gastrointestinais mais comuns em mulheres.

Dispepsia funcional (indigestão)

Dor, azia, queimação, arrotos e inchaço no estômago são desconfortos que muitas mulheres sentem, principalmente depois de ingerir comidas gordurosas e com temperos fortes. Esses sintomas e sinais são típicos da dispepsia funcional, uma condição popularmente conhecida como indigestão

De acordo com a Fundação Internacional para Distúrbios Gastrointestinais, a dispepsia funcional afeta cerca de 30% da população . A condição é mais prevalente em mulheres do que em homens.

Quando um paciente procura um médico com essas queixas, ele pode ser submetido a exames como ultrassonografia abdominal e endoscopia, na tentativa de encontrar uma causa para seus sintomas. “No entanto, em muitos casos, nenhum achado orgânico é identificado. Às vezes, a pessoa até tem uma gastrite leve, mas não justifica tanta dor e estufamento, e gente fica com diagnóstico de dispepsia funcional”, diz Marzinotto.

O tratamento da doença é direcionado para aliviar os sintomas predominantes de cada indivíduo. Se for dor, o médico pode prescrever analgésicos.

Em caso de estufamento abdominal, medicações pró-cinéticas ajudam o estômago a se contrair. “Tem pacientes que comem pouco e, mesmo assim, têm a sensação de estômago cheio, porque o órgão se esvazia mais lentamente”, explica a médica.

O tratamento de dispepsia funcional, porém, não deve se limitar apenas ao alívio dos sintomas. “É fundamental abordar as causas subjacentes, que muitas vezes incluem ansiedade e depressão”, aponta Marzinotto.

Nesse sentido, o acompanhamento psicológico pode ser recomendado como parte integrante do tratamento, ajudando a atenuar as crises e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Constipação (intestino preso)

Pela definição clássica, uma pessoa é constipada quando vai ao banheiro menos de três vezes por semana. No entanto, segundo Maira Marzinotto, esse padrão varia muito de pessoa para pessoa.

“O critério mais importante é o sofrimento do paciente. Tem gente que, se não evacuar todo dia, fica com as fezes muito endurecidas ou sente dor. Outros evacuam a cada dois dias e não têm nenhum desconforto por causa disso”, diz.

Estima-se que a constipação, popularmente conhecida como intestino preso, afete 20% das pessoas. Ela é uma queixa frequente entre as mulheres, principalmente durante a idade fértil. Os hormônios femininos, como a progesterona e o estrogênio, têm a tendência de diminuir a motilidade intestinal, o que pode levar à constipação.

O diagnóstico é clínico, mas o médico pode solicitar uma colonoscopia para verificar se há alguma obstrução mecânica que possa estar causando a constipação. “Na maioria dos casos, a colonoscopia não revela nenhuma alteração que justifique o quadro, o que leva a um diagnóstico de constipação funcional”, afirma a gastroenterologista.

O tratamento da constipação envolve mudanças na dieta, com a inclusão de alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais. Além disso, é essencial manter-se hidratado, consumindo pelo menos 2 litros de água por dia, pois a água auxilia na formação do bolo fecal e na evacuação. A prática regular de exercícios físicos, como caminhadas ou bicicleta, também estimulam o funcionamento intestinal.

No entanto, caso essas medidas não sejam suficientes para melhorar a constipação, medicamentos laxativos podem ser prescritos. É importante destacar que o uso prolongado de laxativos deve ser acompanhado por um médico, a fim de evitar efeitos indesejados e dependência desses medicamentos.

Síndrome do intestino irritável

A síndrome do intestino irritável é outro distúrbio gastrointestinal comum. Segundo o Colégio Americano de Gastroenterologia, ela afeta de 10 a 15% dos norte-americanos e é mais prevalente em mulheres do que em homens.

Seus sintomas incluem cólicas abdominais, acompanhadas de diarreia ou constipação, inchaço e gases. Assim como a dispepsia funcional, a síndrome do intestino irritável é uma condição na qual não é encontrada uma causa orgânica que justifique os sintomas.

“O diagnóstico é baseado principalmente na avaliação clínica, a depender do histórico do paciente. No entanto, em pessoas com mais de 45 anos, a gente costuma solicitar uma colonoscopia como medida preventiva para detectar possíveis casos de câncer de intestino”, diz a médica do Hospital Oswaldo Cruz.

A investigação pode incluir exames de fezes para descartar inflamações no intestino e verminoses. “Muitas vezes, todos os exames apresentam resultados normais e a gente conclui que é síndrome do intestino irritável, uma patologia relacionada à motilidade intestinal”.

O tratamento é direcionado para o alívio dos sintomas predominantes. Analgésicos reduzem a dor, enquanto outros fármacos ajudam a prender ou a soltar o intestino.

Segundo a médica, a dieta desempenha um papel importante na síndrome do intestino irritável, mais até do que na dispepsia funcional. A recomendação é que a pessoa evite ingerir alimentos que causem gases, como leite e derivados, vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, repolho) e grãos (feijão, grão de bico, ervilha, lentilha).

A dieta é combinada com medicação e, quando necessário, tratamento para condições psicológicas que possam desencadear crises. “Na maioria das vezes, a síndrome do intestino irritável está associada a hábitos alimentares e estado emocional. Essa é aquela patologia em que o paciente às vezes conta que foi fazer uma prova e teve diarreia”, relata a médica.

SOS Sexo: "Faz mal tomar pílula do dia seguinte com frequência?"

Especialista alerta sobre as consequências de tomar a pílula do dia seguinte muitas vezes e diz quando é mais recomendado fazer o uso deste método.

Muitos mitos e equívocos pairam sobre o uso da pílula do dia seguinte. Para início de conversa, é fundamental entender que ela não é um método preventivo, mas de emergência. Então, diferente das pílulas anticoncepcionais, que devem ser tomadas diariamente, o uso dela é em casos específicos.

Uma dúvida muito recorrente é se tomar a pílula do dia seguinte com frequência faz mal. Para responder, convocamos Mayra Boldrini, ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Ela explicou quando e como é recomendado este tipo de método e as consequências de exagerar no seu uso. Vem entender!

“A pílula do dia seguinte é uma contracepção de emergência, que previne uma gravidez não planejada, p rincipalmente quando utilizada nas primeiras 24 horas. Mas o tempo limite que ela pode ser utilizada é 120 horas (5 dias) após a relação sexual – mas com o passar do tempo, ocorre uma pequena diminuição da eficácia, viu? Vale ressaltar que ela não funciona quando a pessoa já está gravida e também não previne infecções sexualmente transmissíveis.

Não existe na literatura uma frequência aceitável para o uso da pílula do dia seguinte, mas é importante pensar na real necessidade de uso dela. O método é indicado quando há uma falha conhecida ou presumida no uso de outros métodos de contracepção. Por exemplo, em situações onde há o esquecimento do uso de preservativo ou o rompimento dele durante o sexo. Quando acontece um erro na tomada das pílulas contraceptivas ou um atraso nas injeções mensais, a pílula também é indicada.

O intervalo para fazer o uso novamente da pílula com segurança é de cinco dias. Contudo, é muito importante entender as consequências de usá-la com uma frequência mais elevada. A principal delas é a diminuição progressiva da eficácia desse contraceptivo. Ou seja, o uso repetitivo acaba comprometendo o efeito, sim. Além disso, eficácia dela vai ser sempre menor do que a obtida com o uso de um método contraceptivo de rotina”.

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