Dr. Ariel Kann, coordenador da Oncologia, é coautor de pesquisa publicada pelo The New England Journal of Medicine
São Paulo, 02 outubro de 2024 – Muitos avanços ocorreram nos últimos anos no tratamento para o câncer de bexiga. Novas drogas foram desenvolvidas, principalmente as imunoterapias e os ADCs (sigla em inglês para anticorpo conjugado à droga). O estudo NIAGARA, apresentado em setembro, durante o Congresso Europeu de Oncologia, em Barcelona, mostra que, pela primeira vez, uma imunoterapia injetável, o Durvalumabe, quando combinado à quimioterapia demonstrou benefício em pacientes com a doença com invasão da camada muscular do órgão. A pesquisa de fase 3 divulgada durante sessão plenária do congresso, foi publicada no The New England Journal of Medicine, importante periódico científico mundial.O estudo mundial, realizado com 1.063 pacientes, tem como coautor o Dr. Ariel Kann, coordenador do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Segundo o especialista, os resultados demonstraram que a imunoterapia, quando aplicada antes, junto à quimioterapia, e depois da cirurgia, diminuiu o risco de recidiva da doença.
A incorporação desta nova imunoterapia aumentou em 34% a chance de resposta patológica completa, ou seja, a chance de o tumor desaparecer (quando observado no microscópio após a cirurgia). Além disso, levou a uma redução de 32% no risco de o paciente apresentar recidiva após a término do tratamento. Não houve aumento significativo dos eventos adversos com a adição da imunoterapia, afirmou o oncologista.
“Os resultados obtidos neste estudo são importantes e poderão levar a uma mudança na forma como os pacientes com câncer de bexiga passarão a ser tratados, com chance de cura e qualidade de vida”.
A bexiga é um órgão muscular, elástico, com localização na pelve e com capacidade de retenção e eliminação da urina. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e American Cancer Society, todos os anos, 614 mil pessoas são diagnosticadas com câncer no órgão, sendo o 9º tipo de mais frequente de câncer. A doença é quatro vezes mais comum em homens do que mulheres e o principal fator de risco é o tabagismo, além de exposição ocupacional a alguns produtos químicos.
O principal sintoma é o sangramento urinário e os outros são a dor pélvica e irritação ou dor para urinar. Um médico deve ser procurado caso esses sintomas apareçam.
Para o diagnóstico, os exames iniciais são de urina, imagem (ultrassom, tomografia ou ressonância) e cistoscopia: um aparelho com uma câmera é introduzido na uretra, analisa a bexiga e colhe fragmentos para realizar uma biópsia.
Os tumores superficiais, aqueles que não infiltram a camada muscular, são tratados primariamente com a remoção endoscópica e com medicamentos via sonda urinária para tratamento apenas local.
“Há o risco de os tumores superficiais invadirem a camada muscular da bexiga. Tumores que invadem a camada muscular da bexiga são sempre agressivos pois têm risco de infiltrar outros órgãos e gerar as temidas metástases. Quando o tumor é diagnosticado nesta fase, o paciente precisa ser tratado com maior radicalidade, seja com cirurgia para a retirada da bexiga ou com radioterapia”, explicou o especialista coautor do estudo.
Segundo Dr. Kann, os melhores resultados são atingidos com cirurgia, porém, historicamente, mesmo após o procedimento, existe um risco aproximado de 50% de recidiva da doença. Desde a década de 1980, recomenda-se quimioterapia previamente à realização da cirurgia com intenção de reduzir a chance de metástases.
Atualmente novas tecnologias provaram-se eficazes no tratamento da doença avançada, quando a doença já teve metástases. E muitas outras estão em pesquisa já em fases adiantadas