Ondas de choque e plasma rico em plaquetas contra a disfunção erétil? Veja o que especialistas dizem

Data: 09/02/2024 Publicado em: ESTADÃO / SÃO PAULO

Para além dos já tradicionais tratamentos conhecidos para a disfunção erétil, como comprimidos e prótese peniana, começaram a surgir, nos últimos anos, terapias promissoras no campo da medicina regenerativa, que prometem agir na origem do problema, corrigindo problemas vasculares associados à dificuldade de ereção. Entre as principais promessas, estão as ondas de choque e a aplicação de plasma rico em plaquetas (PRP). Mas passados alguns anos de seu surgimento, o que a ciência descobriu sobre a eficácia desses tratamentos? Eles realmente funcionam? Há riscos?

O assunto foi tema de discussões entre especialistas nacionais e internacionais no último congresso da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), no fim do ano passado, mas, segundo os médicos, ainda não há respostas definitivas. Isso porque, embora alguns desses tratamentos tenham tido efeito positivo para parte dos pacientes, a ciência não conseguiu ainda comprovar um benefício inequívoco, seja pela falta de pesquisas robustas ou pelos resultados pouco significativos dos testes já realizados.

Segundo especialistas, a terapia com ondas de choque foi mais estudada e tem um nível de evidência que permite que ela seja considerada como opção terapêutica em alguns casos, sendo, inclusive, disponibilizada em algumas clínicas do País. Já o tratamento com PRP, por ter sido tema de menos estudos e não contar com uma regulamentação clara, é considerado experimental e só pode ser aplicado dentro de protocolos de pesquisa.

Antes de detalhar essas evidências, é importante entender o que são essas terapias regenerativas e qual é a diferença delas para os tratamentos tradicionais que já temos disponíveis para a disfunção erétil.

O urologista Fernando Facio Jr., chefe do Departamento de Andrologia e Sexualidade da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), explica que essas terapias seriam indicadas principalmente para homens com disfunção erétil de causas orgânicas e que não respondem ao uso de medicamentos orais, como Viagra e Cialis, ou injetáveis – estima-se que 30% a 40% dos pacientes com impotência sexual não têm resultado com esses remédios ou não conseguem utilizá-los por causa de seus efeitos colaterais.

As causas orgânicas estão relacionadas principalmente a alterações vasculares ou neurológicas causadas por problemas como diabetes, hipertensão e tabagismo ou como sequela de cirurgia para o câncer de próstata. Elas diferem da disfunção erétil de causa psicogênica, na qual o homem não tem nenhum problema fisiológico, mas não consegue ter ereção por transtornos como ansiedade, depressão ou outros quadros psicológicos.

Em ambos os casos, a recomendação é buscar tratamento para as doenças de base, mas, nos pacientes com causas orgânicas, a doença crônica pode já ter provocado danos vasculares ou neurológicos e, por isso, uma intervenção para a impotência sexual pode ser necessária.

Segundo Facio Jr., o tratamento com ondas de choque – cujo nome técnico é litotripsia – usa um aparelho que emite ondas sonoras para causar “microtraumas” nos corpos cavernosos, que são as estruturas do pênis que recebem o fluxo sanguíneo durante a ereção. A partir desses microtraumas, haveria uma reação biológica de aumento da produção de substâncias chamadas de fatores de crescimento, que melhorariam a microcirculação sanguínea no membro. “Com isso, haveria um aumento da chegada de sangue ao órgão e o paciente que não estava respondendo às medicações orais pode começar a responder”, explica o médico.

Já a terapia com plasma rico em plaquetas (PRP) consiste na aplicação de injeções no pênis de um composto sanguíneo retirado do próprio paciente e processado para que tenha maior concentração de plaquetas. Esse composto também induziria a produção dos chamados fatores de crescimento e melhoraria a microcirculação e a irrigação sanguínea do órgão.

“Quando tratamos um homem com problemas de ereção, tentamos fornecer um alívio temporário dos sintomas, enquanto que, com as terapias restaurativas, tenta-se restaurar a biologia normal, melhorar o fluxo arterial de maneira permanente”, diz Gerald Brock, presidente da Sociedade Internacional de Medicina Sexual e professor emérito do Departamento de Cirurgia da Western University, do Canadá, sobre a diferença entre as terapias regenerativas e o tratamento convencional, feito com medicamentos orais ou injeções no pênis.

O especialista esteve no Brasil no fim do ano passado para participar de um painel sobre o tema no congresso da SBU. Ele diz que, embora alguns pacientes tenham resultados bons e duradouros, mais estudos são necessários porque o mecanismo exato de ação das terapias não é conhecido, especialmente no caso do PRP.

“Não sabemos exatamente quais agentes estão envolvidos, o que é eficaz, o que não é, a dose e as melhores maneiras e melhores pacientes para serem tratados com PRP. Sabemos muito mais sobre ondas de choque e agora sabemos claramente que a função erétil vascular genética leve a moderada é o público-alvo. Estamos avançando, mas ainda não chegamos lá completamente”, afirmou.

Urologistas brasileiros concordam. O tratamento com ondas de choque, dizem, foi tema de mais estudos do que a terapia com PRP e é considerado seguro, por isso já é oferecido em muitos consultórios brasileiros. Mesmo assim, ainda há dúvidas sobre sua eficácia.

“Há necessidade de estudos com uma amostra maior de pacientes. Mesmo nos estudos com resultados positivos, a análise é qualitativa (o paciente é quem diz se teve melhora na satisfação sexual), então não tem um rigor científico tão robusto”, diz o urologista Bruno Benigno, do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“Os trabalhos científicos são muito díspares porque não existe um protocolo de tratamento bem estabelecido. Existem inúmeros tipos de máquinas, dosagens. Então há essa dificuldade de conseguirmos uma evidência científica”, complementa Facio Jr.

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Para os médicos, a terapia com ondas de choque pode ser uma opção válida para pacientes com disfunção erétil de leve a moderada e que não apresentam resposta aos medicamentos orais e injetáveis. “Pode ser um paciente que respondia à medicação e, pelo envelhecimento natural, parou de responder. Nesse caso, usamos as ondas de choque para melhorar a microcirculação e tentar fazer com que ele volte a ter resultado com as medicações”, diz o especialista da SBU.

Pacientes com disfunção erétil severa, associada a questões vasculares mais graves e indicação de prótese peniana, portanto, não são elegíveis ao tratamento, segundo Benigno. A prótese é um dispositivo implantado cirurgicamente dentro do pênis que permite ao homem ficar com o pênis ereto. Os dois tipos principais de prótese são a maleável, que deixa o órgão rígido permanentemente, e a inflável, que vem com uma espécie de bombinha que deve ser pressionada pelo paciente no momento da relação sexual.

Importante ressaltar que qualquer indicação de tratamento, mesmo os convencionais, deve ser feita após avaliação de um urologista. Isso porque a causa da disfunção deve ser rigorosamente investigada para que o melhor tratamento seja prescrito. Além das causas orgânicas e psicogênicas mais comuns, o uso de alguns medicamentos, por exemplo, podem levar à disfunção erétil.

Riscos das terapias regenerativas para disfunção erétil

Do ponto de vista da segurança, a terapia com ondas de choque não costuma resultar em efeitos colaterais – hematomas podem aparecer no órgão após as sessões, mas somem depois de alguns dias. De acordo com os especialistas, a técnica é indolor e causa apenas um incômodo ao paciente.

A terapia com PRP também foi considerada, de forma geral, segura nos poucos estudos existentes, mas o risco de efeitos colaterais é maior. “Como envolve a preparação de um composto sanguíneo e aplicação no pênis, há risco de infecção”, diz Facio Jr.

Quanto à eficácia, os estudos mais recentes não demonstraram diferença entre pacientes tratados com PRP e aqueles que receberam placebo, mas as pesquisas também tinham amostras pequenas de pacientes, o que mostra a necessidade de mais trabalhos. “Realmente há muitas perguntas ainda sem resposta”, diz Brock.

Há necessidade de mais estudos, diz CFM

Procurado pelo Estadão, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou que ainda não recebeu qualquer solicitação para análise das terapias com ondas de choque e PRP para o tratamento da disfunção erétil, mas que monitora o tema por meio de sua Câmara Técnica de Urologia e “entende que ainda há necessidade de mais estudos científicos de alto nível, com metodologia reconhecida, para verificar sua eficácia e segurança”.

O órgão disse ainda que qualquer tratamento para disfunção erétil deve “ser conduzido por médico capacitado, o qual adotará a conduta adequada com foco em questões como melhora da qualidade de vida e prevenção e tratamento a comorbidades que têm relação com esse tipo de transtorno, como hipertensão, diabetes, estresse, câncer de próstata e distúrbios circulatórios, hormonais e neurológicos”.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também foi procurada, mas esclareceu que, no caso da terapia com PRP (seja para disfunção erétil ou outra indicação), “não possui a competência para reconhecer o uso clínico deste produto/terapia”, sendo ela de responsabilidade dos conselhos de classe profissional.

Do ponto de vista regulatório, diz a agência, o PRP não é passível de registro sanitário, mas a Anvisa tem a atribuição de “avaliar o processo produtivo do PRP, estabelecendo critérios mínimos de segurança e qualidade para produto final, bem como de regularizar os kits e equipamentos destinados a sua obtenção”.

Segundo a agência, apenas o Conselho Federal de Odontologia (CFO) possui resolução habilitando seus profissionais a utilizarem o PRP em procedimentos cirúrgicos. Em qualquer outro caso, portanto, diz a Anvisa, “o uso do PRP deve ocorrer apenas em caráter experimental e/ou no âmbito da pesquisa científica, não sendo permitido qualquer tipo de publicidade e propaganda, bem como sua comercialização”.

Sobre a terapia com ondas de choque, a Anvisa afirmou que regulamenta apenas os produtos e equipamentos utilizados na intervenção, e que o procedimento em si é tratado pelas sociedades médicas.

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