Pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz alerta que o Brasil enfrenta a reinvenção do tabagismo e reforça o papel do cuidado resposta à dependência
São Paulo, 28 de maio de 2025 – O Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado neste 31 de maio, propõe mais do que uma pausa para reflexão. Ele nos convoca a agir com responsabilidade. O tema esse ano definido pela Organização Mundial da Saúde é: “Desmascarando o apelo: expondo as táticas da indústria dos produtos de tabaco e nicotina”.
Falar sobre tabagismo hoje é, sobretudo, reconhecer que milhões de pessoas vivem o desafio cotidiano da dependência e que o papel dos serviços de saúde é acolher essas pessoas com respeito, sem julgamento, e com ferramentas reais para que cada uma possa escrever sua própria trajetória de superação.
Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), no Brasil estima-se que cerca de 12% da população adulta ainda consome produtos de tabaco e reduzir esse número passa, antes de tudo, por entender que ninguém é definido por seu vício e que todo fumante é, antes, um paciente em potencial que precisa de cuidado, não de condenação.
Para a pneumologista Dra. Sandra Guimarães, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o caminho para abandonar o tabagismo precisa passar pelo acolhimento. “O primeiro passo não é dizer para o paciente parar, é perguntar como ele está. Parar de fumar não é um comando. É uma construção. E como toda construção humana, precisa de afeto, estratégia e tempo.”
Esse cuidado começa pela escuta ativa que implica em perguntar, ouvir e não apontar. É importante entender que o tabagismo muitas vezes se liga a questões emocionais, hábitos enraizados e contextos de vulnerabilidade. O acompanhamento de pessoas fumantes deve ser construído com base na confiança e no vínculo, com equipes preparadas para lidar com recaídas, dúvidas e medos não como falhas, mas como parte natural de um processo de mudança.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 90% dos casos de câncer de pulmão, um dos mais letais no país, são causados pelo tabagismo. O cigarro também é responsável por cerca de 30% das mortes por câncer em geral, afetando órgãos como laringe, boca, esôfago, bexiga e pâncreas.
Além disso, de acordo com dados do Ministério da Saúde referentes ao ano de 2023, o tabagismo foi responsável por aproximadamente 156 mil internações por doenças cardiovasculares no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo acidentes vasculares cerebrais (AVC) e infartos agudos do miocárdio. Estima-se que mais de 30 mil mortes por doenças cardiovasculares no país estejam diretamente ligadas ao consumo de produtos derivados do tabaco.
Compromisso institucional do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Dentro desse cenário o hospital que desenvolve um programa interno estruturado para apoiar colaboradores fumantes. Em 2024, a instituição identificou uma prevalência de cerca de 5% de fumantes entre seus profissionais, número inferior à média nacional. Os colaboradores interessados em parar de fumar são acolhidos durante suas consultas ocupacionais periódicas e encaminhados para acompanhamento médico especializado. O programa inclui avaliação clínica e motivacional, plano terapêutico individualizado, apoio psicológico, uso de medicação quando necessário e suporte contínuo durante todo o processo. A ação reforça o compromisso institucional com a promoção da saúde, construindo um ambiente de trabalho mais saudável, seguro e acolhedor.
É nesse ponto que o Dia Mundial Sem Tabaco de 2025 se torna especialmente relevante: ele nos convida a transformar o cuidado com o fumante em prioridade de saúde pública, não como punição, mas como política de vida. É necessário investir em capacitação profissional, em campanhas que valorizem a escuta e a empatia, e em redes de apoio capazes de sustentar o processo de cessação em longo prazo.
O cuidado com quem fuma, portanto, não se resume a estatísticas nem a campanhas de impacto. Ele se expressa na forma como escutamos, acolhemos e caminhamos junto. Servir à vida é, acima de tudo, assumir o compromisso com a experiência do outro. Não basta falar de riscos — é preciso falar de possibilidades. E garantir que o sistema de saúde seja, para cada paciente, uma ponte para respirar com mais liberdade, autonomia e dignidade.