Reganho de peso após a bariátrica: quando acende o sinal de alerta?

Voltar a ganhar peso depois da cirurgia bariátrica não é incomum, mas é preciso atenção. O problema é quando esse reganho compromete, mais uma vez, a qualidade de vida do paciente

Para muitas pessoas que convivem com a obesidade, a cirurgia bariátrica representa uma verdadeira virada de vida. Reconhecida como uma ferramenta eficaz e cada vez mais segura, ela costuma despertar expectativas de transformação profunda. No entanto, mesmo após o procedimento, é comum surgirem dúvidas, principalmente sobre o que pode acontecer com o passar dos anos.

Um dos questionamentos mais frequentes é sobre o reganho de peso. Anos depois da cirurgia, esse retorno dos quilos perdidos pode gerar frustração e insegurança. Mas será que isso significa que a cirurgia falhou?

De acordo com o médico Ricardo Cohen, head do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente mundial da Federação Internacional para Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO – International Federation for Surgery of Obesity and Metabolic Disorders), a resposta é mais complexa e envolve entender que obesidade é uma doença crônica, multifatorial e progressiva.

No passado, o diagnóstico da obesidade era feito com base no índice de massa corporal (IMC). Mas esse cenário mudou. Os critérios foram atualizados, e outros fatores também entram na avaliação. “As definições de obesidade mudaram. Ela é caracterizada pelo acúmulo de gordura, que pode ser medido não só pelo IMC, mas também por outros parâmetros, como a circunferência da cintura, a relação cintura-quadril e, principalmente, pela presença de sintomas associados, como cansaço, apneia do sono, hipertensão e alterações menstruais. Não basta olhar apenas o peso na balança”, explica Cohen.

Ou seja, a obesidade é uma condição que vai além dos números. Ela vem acompanhada de sinais e sintomas, o que significa que uma pessoa com sobrepeso pode não receber o diagnóstico de obesidade, enquanto alguém com IMC dentro da faixa considerada normal pode, sim, ser diagnosticada com a doença, caso apresente manifestações clínicas associadas.

Reganho de peso: comum, mas nem sempre relevante

Uma das maiores preocupações de quem faz cirurgia bariátrica é o risco de voltar a ganhar peso com o passar do tempo. Cohen explica que o reganho pode acontecer, porém isso não significa, por si só, que o tratamento tenha falhado.

Não se deve considerar o reganho de peso apenas pelo número na balança. Se a pessoa perdeu 40 quilos e ganhou 10, mas não tem sintomas, então esse reganho pode não ter significado clínico nenhum”. O mais importante, segundo ele, é avaliar se o peso recuperado está afetando a saúde e o dia a dia da pessoa. “Só consideramos um problema se houver sinais e sintomas da obesidade junto com o ganho de peso. Caso contrário, é injusto com o paciente”.

O que causa o reganho?

Muita gente, ao ver o ponteiro da balança subir, sente culpa ou vergonha. Mas, como destaca o médico, esse tipo de pensamento é injusto e reforça estigmas que apenas sobrecarregam o paciente. “Isso é um preconceito desgraçado contra quem tem obesidade. Culpar a pessoa é devolver a ela a responsabilidade por algo que tem agressividade biológica”.

De acordo com o especialista, o reganho de peso não está necessariamente ligado a comportamentos inadequados, como escolhas alimentares ruins ou consumo excessivo de comida. Na verdade, ele explica que a recuperação do peso tem relação direta com a própria biologia da obesidade. “Não se trata apenas de comer menos e se exercitar mais. Isso, sozinho, não resolve a obesidade. O que determina o sucesso do tratamento é como a doença se manifesta biologicamente em cada pessoa”.

Ele compara a condição ao câncer: “Duas pessoas com o mesmo tipo de câncer podem ter evoluções completamente diferentes. Com a obesidade, é a mesma coisa”.

O que fazer quando o peso volta?

Quando um paciente que já passou por cirurgia bariátrica volta a apresentar sintomas relacionados à obesidade, a primeira linha de tratamento costuma ser medicamentosa, e não uma nova operação. “Hoje, a primeira opção é sempre o uso de medicações modernas. Temos remédios que funcionam muito bem, inclusive com eficácia ainda maior em pacientes já operados. Em até 95% dos casos, conseguimos reverter o reganho de peso com medicamentos”, afirma o médico.

A reoperação é reservada para casos específicos, como quando o procedimento inicial não se mostrou eficaz diante do quadro clínico do paciente. Cohen cita um exemplo recente: “Atendi uma paciente com artrite reumatoide, uma doença inflamatória. Ela havia feito uma gastrectomia vertical, mas o bypass gástrico tem um efeito anti-inflamatório mais potente. Realizamos o novo procedimento e, em apenas dois meses, a inflamação já havia diminuído”.

Tratamento por toda a vida

Como toda condição crônica, a obesidade exige acompanhamento contínuo e cuidados ao longo da vida, com o suporte de uma equipe multiprofissional, com endocrinologista, nutricionista, psicólogo e profissional de Educação Física. “O paciente precisa entender que pode voltar a precisar de tratamento, assim como ocorre em outras doenças crônicas. Quem faz uma cirurgia de mama por câncer, por exemplo, pode precisar de radioterapia depois. A lógica é a mesma”, explica Cohen.

A presença do psicólogo é especialmente importante nesse processo. Ele ajuda o paciente a lidar com as mudanças de comportamento, além de trabalhar aspectos emocionais como a culpa e o estigma ainda muito associados à obesidade.

Para quem já fez a cirurgia bariátrica e voltou a ganhar peso, o recado do Dr. Cohen é direto: “Não se culpe. Procure seu médico. Obesidade é uma doença crônica, e o reganho de peso pode ser tratado com sucesso. O mais importante é olhar para os sintomas, para a qualidade de vida e não apenas para o número na balança”.

Live Silvia Poppovic

A obesidade tem sido cada vez mais discutida na medicina e na sociedade, e recentemente novas definições para o seu diagnóstico foram atualizadas, trazendo mudanças importantes nas formas de tratamento.

Para esclarecer essas transformações e tirar dúvidas do público, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou uma live especial com a jornalista e apresentadora Silvia Poppovic e o Dr. Ricardo Cohen, head do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do hospital.

Nesta conversa imperdível, eles abordam as novas perspectivas sobre obesidade, os tratamentos mais modernos disponíveis e a importância da informação para a saúde e o bem-estar. Confira!

 E se precisar de ajuda, agende uma consulta acessando: http://bit.ly/418Rf9L

Resp. Técnico: Haggeas da Silveira Fernandes CRM: 71855

Suplemento Psyllium  

O que você precisa saber antes de aderir à moda do psyllium

De tempos em tempos, surge um novo suplemento queridinho nas academias. Mas, antes de aderir às novidades, é preciso conhecer um pouco mais sobre o que está em jogo. A estrela da vez é o psyllium, que está sendo chamado de “Ozempic natural“. Mas será que é mesmo?

O psyllium é uma fibra alimentar solúvel de origem vegetal e ganhou o apelido de versão natural do medicamento para obesidade por estar sendo associado à perda de peso e ao controle do apetite — uma promessa tentadora, especialmente com a popularização de medicamentos como a semaglutida (substância presente no Ozempic), usados sob prescrição médica no tratamento da obesidade e diabetes.

Para esclarecer se essa promessa é real, ouvimos a nutricionista Thaís Sarian, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Ela afirma: “Isso se trata de propaganda enganosa. O psyllium tem um efeito discreto na saciedade, e não existe nenhum alimento ou suplemento que apresente a mesma atuação da semaglutida.

Derivado da casca das sementes da planta Plantago ovata, o psyllium forma um gel ao ser misturado com líquidos, aumentando o bolo fecal e melhorando o funcionamento do intestino. Além disso, sua viscosidade pode atrasar o esvaziamento gástrico, promovendo uma maior sensação de saciedade.

Qual a real finalidade do psyllium?

Apesar da distorção nas redes sociais, o psyllium tem, sim, aplicações positivas na rotina alimentar, sempre com orientação profissional. Segundo a nutricionista Thaís Sarian, ele pode ajudar no controle da glicemia e do colesterol, além de regular o intestino. “O gel que é formado também pode ajudar a retardar a digestão e a absorção dos carboidratos, o que pode ser útil para pessoas com diabetes tipo 2, por exemplo”, explica.

Na cozinha, o psyllium também se mostra versátil: pode ser adicionado à composição de pães, bolos e panquecas, especialmente entre pessoas que seguem dietas com restrição de glúten.

Alerta da especialista

O uso inadequado do suplemento pode trazer riscos. “Se consumido sem água suficiente, pode agravar a prisão de ventre ou até causar obstrução intestinal. Em excesso, pode provocar gases, cólicas e ainda atrapalhar a absorção de medicamentos”, alerta a nutricionista.

A lista de contraindicações é significativa: pessoas com hipersensibilidade à Plantago ovata, crianças com menos de seis anos, indivíduos com distúrbios gastrointestinais ou com dificuldades no controle do diabetes.

Escute a profissional

A obesidade é uma doença e precisa ser tratada com seriedade. Nenhum alimento ou suplemento, por si só, é capaz de promover perda de peso de forma isolada. Por isso, é sempre importante contar com o acompanhamento de uma equipe médica e assistencial capacitada para o manejo adequado da condição”, finaliza Thaís Sarian.

Fim do IMC?

Faz parte da consulta de rotina dos pediatras pesar e medir as crianças. Essas informações são essenciais para compor o índice de massa corporal (IMC) – utilizado para avaliar se o paciente está dentro do peso ideal. No entanto, a Comissão Global sobre Obesidade Clínica acaba de propor uma reformulação no diagnóstico da obesidade. Em um artigo publicado na revista The Lancet, pesquisadores defenderam a divisão da obesidade em dois tipos:

Pré-clínica: excesso de gordura corporal, mas a função dos órgãos e tecidos segue preservada.

Ou seja, a pessoa não apresenta sintomas devido à obesidade.

Clínica: doença crônica e sistêmica caracterizada por alterações na função dos tecidos e órgãos devido ao excesso de adiposidade.

Além disso, eles destacam que as medidas baseadas no IMC são insuficientes para o diagnóstico da obesidade como doença. De acordo com Ricardo Cohen, um dos autores do artigo e coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), o IMC só reflete o acúmulo de gordura. “O problema do IMC é sub ou hiper diagnosticar a obesidade clínica. Há adolescentes que terão um IMC alto, mas não apresentarão sintomas“, destaca. Para o especialista, é essencial incluir a obesidade no rol de doenças crônicas com sintomas definidos. Assim, é possível fazer um atendimento para o paciente, focando nos sinais apresentados.

A ciência quebrando mitos sobre a obesidade

Por décadas, a obesidade foi cercada por estigmas e soluções simplistas. Dietas da moda que prometem resultados milagrosos ganharam espaço, enquanto muitos acreditavam que bastava força de vontade para vencer a balança. As pessoas que convivem com obesidade foram frequentemente vistas como responsáveis únicas por sua condição, rotuladas por escolhas consideradas inadequadas. No entanto, a ciência está desmistificando essas ideias ultrapassadas, mostrando que a obesidade é uma condição complexa, influenciada por fatores genéticos, metabólicos, ambientais e psicológicos, que vai muito além das calorias consumidas ou do número na balança.

Nova definição amplia o diagnóstico e o tratamento da obesidade

A obesidade é uma condição crônica que há muito tempo desafia especialistas e gera debates sobre como classificá-la e tratá-la. Recentemente, o Dr. Ricardo Cohen, Diretor do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente da Federação Internacional para a Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos, ao lado de outros 55 especialistas da Comissão para definição de obesidade clínica da The Lancet, trouxe uma nova perspectiva para o diagnóstico da obesidade.

Até hoje, o Índice de Massa Corporal (IMC) tem sido o principal critério para identificar obesidade, mas essa medida apresenta limitações importantes. Ela não considera diferenças individuais, como a distribuição de gordura, a composição corporal ou fatores genéticos. A nova classificação, endossada por mais de 75 organizações médicas, propõe critérios mais abrangentes para avaliar o acúmulo de gordura e os riscos associados

Essa nova definição divide a obesidade em duas categorias principais:

  • Obesidade Clínica: Doença crônica caracterizada pelo excesso de gordura que prejudica os órgãos e compromete as atividades cotidianas no presente
  • Obesidade Pré-Clínica: Excesso de gordura que ainda não causa danos diretos no presente, mas aumenta o risco, em maior ou menor grau, de complicações futuras.

A distinção entre obesidade clínica e pré-clínica é feita com base na presença de sinais e sintomas, como alterações na função orgânica ou limitações no dia a dia no presente. Essa abordagem reduz o estigma ao desvincular a obesidade de escolhas pessoais e reforçar que ela é uma condição complexa, influenciada por múltiplos fatores. Ao mesmo tempo, ela permite diagnósticos mais precisos e tratamentos ajustados às necessidades específicas de cada paciente.

Logotipo do World Obesity Day, com a silhueta de um corpo humano azul destacada sobre um fundo com contorno de mapa-múndi.

Panorama da obesidade

A obesidade é uma preocupação global que afeta mais de 1 bilhão de pessoas, incluindo 41,2 milhões de adultos no Brasil, segundo a PNS de 2020. No país, 56% dos adultos convivem com obesidade ou sobrepeso. Estimativas da Fiocruz apontam que, até 2044, 130 milhões de brasileiros terão sobrepeso ou obesidade, com 48% dos adultos obesos e 27% com sobrepeso.

Um desafio de saúde pública, a condição pode estar associada a complicações como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e câncer. As projeções reforçam a urgência de ações preventivas e tratamento eficazes para enfrentar esse cenário.

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Referência no tratamento da obesidade

O Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz está na vanguarda do tratamento da obesidade no Brasil. O centro desenvolve planos personalizados que consideram as necessidades de cada paciente. Com uma equipe multidisciplinar, o foco é oferecer suporte integral para transformar a saúde e proporcionar resultados duradouros.

A ciência e o conhecimento são as ferramentas mais poderosas para superar os mitos e estigmas associados à obesidade. Nosso compromisso é oferecer informações baseadas em evidências e garantir um tratamento eficiente, humanizado e individualizado para todos”, afirma o Dr. Ricardo Cohen.

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Quando a obesidade é uma doença? Cientistas propõem novos sinais e sintomas; saiba quais

A obesidade é uma doença? Nesta terça-feira, 14, cientistas reunidos pela The Lancet Diabetes & Endocrinology, revista de um dos mais respeitados grupos de periódicos científicos do mundo, dão o pontapé inicial para responder essa questão com a publicação de uma nova abordagem para entender e diagnosticar a obesidade.

Antes de tudo, eles destacam como essa pergunta não poderia estar mais equivocada. Não é uma questão de “tudo ou nada”, escrevem. “Alguns indivíduos com obesidade podem manter a função normal dos órgãos e uma saúde geral, mesmo a longo prazo, enquanto outros apresentam sinais e sintomas de doença grave aqui e agora”, declarou o presidente da comissão de pesquisadores, Francesco Rubino, do King’s College London, em comunicado à imprensa.

O que o novo documento faz é definir quando a obesidade, isto é, o excesso de gordura corporal (adiposidade), é uma doença. Para isso, eles introduzem dois conceitos: a obesidade clínica e a obesidade pré-clínica.

O primeiro refere-se a pacientes nos quais a adiposidade representa uma doença crônica e sistêmica. Já no segundo, há a preservação da função de órgãos e tecidos e da saúde de maneira geral, porém o quadro configura um fator de risco para o desenvolvimento da obesidade clínica e outras doenças não transmissíveis, como diabetes tipo 2.

Mas o que vai permitir dividir os pacientes entre os dois grupos? Um conjunto de 18 sinais e sintomas (critérios diagnósticos) definidos pelo trabalho da comissão — para crianças e adolescentes são 13 (leia mais abaixo). Eles representam indicativos graves ou limitações das atividades diárias devido a efeitos da adiposidade sobre os sistemas pulmonar, cardiovascular e/ou musculoesquelético, por exemplo.

(O problema) Não é o excesso de adiposidade, mas as consequências dela”, resume Ricardo Cohen, líder do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e atual presidente mundial da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO).

A comissão também propõe uma nova maneira de diagnosticar o excesso de gordura corporal que configura a obesidade, reduzindo a importância do índice de massa corporal (IMC). Ele passa a ser apenas um sinal de que algo pode estar errado. Ou seja, obesidade não se trata apenas da corpulência ou do “tamanho” de uma pessoa, que é o que o IMC (razão entre o peso, em kg, e o quadrado da altura, em metros) é capaz de medir.

Pessoas com excesso de gordura corporal nem sempre têm um IMC que indique que estão vivendo com obesidade”, afirmou o comissário Robert Eckel, da Universidade do Colorado, nos EUA, em comunicado à imprensa. Ele lembrou que o índice também não discrimina onde essa gordura está concentrada — o acúmulo na cintura ou em torno de órgãos como o fígado e o coração está associado a um risco maior à saúde, em comparação com quando está apenas sob a pele nos braços e pernas, destacou.

Por isso, para diagnosticar a obesidade conforme a nova proposta, além do IMC, os profissionais de saúde precisam de ao menos mais uma medida antropométrica, como circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura, e/ou uma medição direta da massa de gordura (por meio de um exame chamado DEXA ou de bioimpedância).

As discussões para avaliar as melhores evidências científicas ocorreram mensalmente entre 2022 e 2024, e envolveram 58 especialistas de diversos países, além de representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS). As recomendações foram endossadas por 76 organizações em todo o mundo, incluindo sociedades científicas e grupos de defesa de pacientes.

Para gravar

Obesidade: condição marcada pelo excesso de gordura corporal, com ou sem distúrbios anormais ou disfunção do tecido adiposo. Obesidade pré-clínica: estado de excesso de adiposidade com função preservada de outros tecidos e órgãos e com risco variável, mas geralmente aumentado, de desenvolver obesidade clínica e várias outras doenças não transmissíveis (como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, certos tipos de câncere transtornos mentais). É um estado de obesidade com saúde preservada no momento, mas não existe “obesidade saudável”, aponta Cohen. Obesidade clínica: é uma doença crônica, sistêmica (afeta vários órgãos e tecidos), contínua e recidivante, marcada pelo excesso de adiposidade com sinais e/ou sintomas objetivos de redução na função dos órgãos, ou uma capacidade significativamente diminuída de realizar atividades diárias padrão, como tomar banho, vestir-se e comer.

Uma controvérsia aparentemente irreconciliável

A OMS reconheceu a obesidade como doença em 1948. Mais recentemente, especialmente a partir da década de 2010, várias sociedades médicas e países fizeram o mesmo.

O problema é que a atual definição para essa doença é muito vaga: um acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde. Além disso, o diagnóstico adota pontos de corte do IMC, uma ferramenta que não foi criada para ser diagnóstica.

O discurso médico predominante também é problemático. Apesar das evidências de que algumas pessoas com excesso de gordura corporal apresentam problemas de saúde objetivamente atribuíveis apenas à obesidade, o que mais se enfatiza é como ela pode ser precursora de outras doenças, como diabetes tipo 2 e hipertensão.

Isso sustenta uma discussão polêmica e polarizada, com argumentos contrários aparentemente irreconciliáveis.

Conforme os cientistas resumem no novo documento, os defensores da obesidade como doença apontam que esses pacientes, embora haja evidências objetivas de problemas de saúde, enfrentam barreiras para receber tratamento adequado e sofrem com um forte estigma social relacionado ao peso.

Ao reconhecer a condição como doença, seria possível conferir legitimidade ao sofrimento deles e angariar recursos para pesquisa, tratamento e prevenção. Em países onde os cidadãos dependem predominantemente da saúde privada, como nos EUA, isso seria primordial para a garantia dos cuidados — esse argumento ficou conhecido como pragmático ou utilitarista.

Outros se preocupam com possíveis prejuízos de definir a obesidade para esses pacientes. Um grupo aponta que isso desviaria a atenção do papel da responsabilidade individual, “incentivando comportamentos não saudáveis e enfraquecendo os esforços para lidar com o problema”. A própria ciência vem desbancando esse argumento, ao passo que evidências têm mostrado que, sem intervenção medicamentosa e/ou cirúrgica, mudanças de estilo de vida não são suficientes para a perda de peso necessária para alguns pacientes.

Há ainda um grupo que aponta questões objetivas do problema de assumir a obesidade, na definição atual, como doença. Primeiramente, eles afirmam que a condição, como posta, engloba um grupo muito heterogêneo de pacientes e que um fator de risco não é necessariamente uma doença. Além disso, destacam que o IMC não fornece informações sobre a saúde de um indivíduo e pode fomentar um estigma contra corpos gordos.

Em meio à polêmica, alguns lugares, como Reino Unido e Dinamarca, convencionaram considerar a obesidade apenas como fator de risco.

Para mais ou menos 70% dos comissários da Lancet, a definição atual, de fato, não permite classificar a obesidade como doença. “Essa controvérsia revela um ponto crucial que falta na forma como a obesidade é conceituada: a doença diretamente causada pela obesidade ainda não foi claramente definida, deixando a obesidade sem uma identidade clínica precisa”, escreveram.

Obesidade clínica: uma doença crônica

Para superar essa lacuna conceitual, os cientistas da comissão da Lancet escolheram um caminho do meio, dividindo a obesidade em duas situações distintas: a obesidade clínica, uma doença, e a obesidade pré-clínica, fator de risco.

Eles chegaram a um consenso de que “diversos mecanismos fisiopatológicos decorrentes da adiposidade excessiva podem também causar diretamente alterações estruturais e funcionais em outros tecidos e órgãos”. “Essas alterações não necessitam de mecanismos patogênicos adicionais além daqueles característicos da própria obesidade e, portanto, podem se desenvolver independentemente da presença de outras doenças relacionadas à obesidade.

Esses mecanismos próprios superam a ideia de problemas exclusivamente metabólicos, como resistência à insulina. Segundo os especialistas, os efeitos podem se impor, por exemplo, no sistema respiratório (a massa excessiva de gordura sobre os pulmões pode prejudicar a capacidade de se expandirem e encherem de ar durante a respiração) e musculoesquelético (com prejuízos às grandes articulações de suporte de peso, como os quadris e joelhos), além de restrições para executar atividades diárias.

Eles chegaram a 18 sinais e sintomas objetivos do excesso de adiposidade que permitem distinguir a obesidade clínica e pré-clínica em adultos. Para crianças e adolescentes, são 13. A presença de apenas um permite o diagnóstico.

O problema do IMC

Se antes o IMC era o grande aliado na classificação da obesidade, agora ele se torna apenas um indicador de alerta. “Ele é muito menos um amigo hoje. É um colega distante. É aquele tio que mora em outro país e vai falar: ‘O tio sabe das coisas, tem que dar uma olhada nisso’”, simplifica Cohen.

A verdade é que o índice já estava perdendo protagonismo. No ano passado, a Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) publicou uma nova proposta de classificação, com foco em medidas da circunferência abdominal e avaliação do impacto funcional e psicológico do excesso de gordura.

Os cientistas da comissão seguem um caminho parecido. Para dizer que alguém vive com obesidade, além do IMC, é preciso de outra medida antropométrica e/ou um exame que avalie exatamente o percentual de gordura do paciente, como o DEXA (usado comumente para densitometria óssea) — e para classificar essa obesidade como clínica é preciso avaliar os sinais e sintomas.

Com o IMC, os profissionais de saúde também classificavam os pacientes em diferentes graus de obesidade: 1 (IMC entre 30 e 34,9), 2 (entre 35 e 39,9) e 3 (igual ou maior que 40). “(Com o novo consenso) Isso cai parcialmente por terra. IMCs mais altos são um sinal de alerta de que esse indivíduo, quase com toda certeza, vai ter algum sinal ou sintoma. Nas faixas de 40, 50, são indivíduos que ainda vamos classificar como uma obesidade extrema. Agora, grau 1, grau 2, grau 3 não tem mais nexo”, fala Cohen.

Mas o IMC não será completamente abandonado. Ficou acordado que em pessoas com IMC acima de 40, o excesso de adiposidade pode ser assumido pragmaticamente, sem necessidade de confirmação adicional de outras medidas antropométricas — aí o profissional de saúde já pode pular para a avaliação dos sinais e sintomas.

Na prática

Perguntamos a Cohen como isso vai funcionar no consultório. Em suma, depois que for confirmada a obesidade, seja porque o IMC supera 40 ou pelo uso de outras medidas antropométricas e/ou exame específico, começa a investigação para classificá-la em clínica ou pré-clínica:

O médico vai questionar o histórico familiar; Fazer o exame físico; Pedir e avaliar testes laboratoriais (como exames de sangue, que ajudam a identificar manifestações metabólicas); E solicitar exames mais específicos se achar necessário.
Isso não só permite classificar entre obesidade clínica e pré-clínica, mas também entender a gravidade do problema e o risco do paciente. “Você tem excesso de adiposidade, e vai falar para mim: ‘Olha, meu pai também tinha e teve uma complicação: infartou’. Isso vai acender um alerta: ‘Esse cara tem risco um pouco maior’”, exemplifica Cohen.

Tratamento

O objetivo da comissão não foi discutir indicações específicas para o tratamentos da obesidade clínica. No entanto, eles frisam que a definição do quadro tem implicações práticas e foi concebida para facilitar a tomada de decisões clínicas e políticas.

Os especialistas propõem que pessoas com obesidade clínica são fortes candidatas para tratamento, enquanto aquelas com obesidade pré-clínica, para ações de prevenção — mas cada caso é único, advertem.

Eles também avançam em relação à avaliação do tratamento. “Assim como em qualquer tratamento para doenças, o sucesso no tratamento da obesidade clínica deve ser definido com base na melhoria real das manifestações clínicas, e não em medidas substitutivas de risco ou redução de peso propriamente dita”, escrevem. Esse avanço foi possível graças a estudos com as últimas drogas antiobesidade, que indicaram benefícios para complicações variadas com diferentes percentuais de perda de peso corporal.

É um passo em direção à medicina de precisão. “Outra vantagem de se definir sinais e sintomas é ter grupos diferentes de pacientes com objetivos diferentes nos seus tratamentos”, diz Cohen. “O (novo) diagnóstico, apesar de ser cheio de etapas clinicamente, é o mais simples que a gente conseguiu, para não deixar passar pacientes que precisam ser tratados e também não tratar excessivamente pacientes que não precisariam ser tratados tão agressivamente.

Em relação à obesidade pré-clínica, os cientistas escrevem que ela “geralmente não requer tratamento com medicamentos ou cirurgia, e pode necessitar apenas de monitoramento da saúde ao longo do tempo e aconselhamento de saúde, se o risco de progressão para obesidade clínica ou outras doenças for considerado suficientemente baixo”. Se o risco for alto, intervenções no estilo de vida e medicamentos, por exemplo, podem ser necessários.

De acordo com os cientistas, conseguir diferenciar pacientes que precisam de tratamento e aqueles que vão se beneficiar de ações de prevenção pode ser um avanço importante para as autoridades públicas de
saúde. Afinal, como estava posto e considerando as cifras das novas drogas antiobesidade, seria economicamente insustentável para os sistemas de saúde arcar com os custos do tratamento para todos — para se ter uma ideia, no ano passado, um estudo mostrou que mais de 1 bilhão de pessoas conviviam com obesidade ao redor do planeta, considerando o IMC.

Próximos passos

É ingênuo acreditar que a polêmica esteja resolvida — e os cientistas da comissão sabem disso. O próximo passo, conta Cohen, é entender como essas novas classificações vão funcionar na prática. Segundo ele, estudos já estão em andamento para entender exatamente quantas pessoas no mundo vivem com obesidade clínica e quantas vivem com a pré-clínica, por exemplo.

“É o kick off [pontapé inicial] para refinarmos esses critérios e educarmos o prestador de serviço de saúde a não sub ou super diagnosticar o excesso de adiposidade”, finaliza.

OBESIDADE INFÂNCIA OU ADOLESCÊNCIA: UMA DOENÇA EM CRESCIMENTO

Ilustração de médico avaliando paciente com obesidade, destacando impactos na saúde e cuidados necessários.

A obesidade é uma doença crônica complexa, causada por fatores genéticos, comportamentais, genéticos e ambientais. Além disso, é progressiva; se não tratada, tende a resultar em doenças associadas. Representa um problema de saúde mundial que afeta pessoas de todas as idades, desde a infância até a terceira idade.

O índice de obesidade é alarmante. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade (WOF 2024), até 2035, mais de 750 milhões de crianças (com idades entre 5 e 19 anos) deverão viver com sobrepeso ou obesidade, o que equivale a duas em cada cinco crianças globalmente.

Com dados que nos mostram que a obesidade tem aumentado entre crianças e adolescentes, é importante destacar que, embora a genética seja a principal causa, outros fatores têm influenciado cada vez mais essa condição. “A genética é responsável por cerca de 70% das causas da obesidade em todas as idades, mas há uma combinação com o ambiente e fatores obesogênicos, que incluem aspectos da vida moderna: a falta de tempo, o aumento do consumo de alimentos industrializados e o sedentarismo. No caso específico das crianças, o que é preocupante é que elas estão sendo expostas a essas mudanças ambientais muito cedo, aumentando a chance de desenvolver uma doença relacionada à obesidade, como pressão alta, colesterol alto ou diabetes tipo 2 que, conforme observamos, pode ser até mais grave que na fase adulta”, explica a Dra. Tarissa Beatrice Zanata Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Ainda segundo o relatório do WOF, em 2035 “estima-se que 68 milhões de crianças estarão sofrendo de pressão arterial alta devido ao seu IMC elevado, cerca de 27 milhões estarão vivendo com hiperglicemia devido ao seu IMC elevado, me 76 milhões terão baixos níveis de colesterol HDL devido ao seu IMC elevado”.

Hoje, discutimos cada vez mais sintomas e sinais que antes eram ignorados, como cansaço e dores no corpo. Como explica a especialista: “a obesidade não é apenas uma questão de vontade; ela aumenta a preferência por alimentos altamente palatáveis, como gordura e açúcar, o que pode levar a um estilo de vida mais sedentário”. Por isso, é essencial que as famílias busquem orientação médica para o diagnóstico e tratamento da obesidade, assim como ocorre com qualquer outra doença. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado, menores as chances de que crianças e adolescentes sofram com a inflamação causada pela doença e desenvolvam complicações associadas.

Para orientar pais e familiares, a endocrinologista pediátrica do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dra. Ruth Rocha Fraco, respondeu às principais dúvidas sobre o tema. Confira a entrevista:

Qual sinal de alerta para os pais sobre a obesidade em crianças em adolescentes?

A obesidade é uma doença crônica de difícil controle, então o sinal mais importante é a identificação do ganho de peso demasiado em qualquer faixa etária. O tratamento correto desde o início é muito importante para evitar consequências mais serias como o diabetes e doenças cardiovasculares.

O pai/ mãe com obesidade tem que ficar mais alerta?

Sim, justamente por ser uma doença com forte influência genética. Pais com obesidade terão mais chance de terem filhos com mais predisposição a obesidade também. Se um dos pais tem obesidade a chance de o filho ter obesidade é 50%, se os dois pais têm obesidade a chance aumenta para 80%.

Como a obesidade é diagnosticada em crianças/ adolescentes?

Diferente do adulto que a classificação de obesidade é dada por um número fixo de IMC (IMC > 30), para crianças e adolescentes este número varia com a idade e o número não é fixo, por isso, usamos os gráficos de índice de massa corporal.

Quais são os principais fatores que contribuem para a obesidade nessa faixa etária?

Os principais fatores são: genética; sedentarismo (falta de brincadeiras ao ar livre; falta de atividades programadas); excesso de tempo de tela (TV, celular, computador); baixa qualidade de sono; uso de alguns medicamentos (como corticoides); ambiente alimentar obesogênico (com excesso de alimentos industrializados e altamente calóricos com muito açúcar e gordura).

Quais abordagens são mais eficazes para tratar a obesidade em jovens?

O tratamento envolve principalmente a mudança de hábitos; o que não é fácil. Então para o tratamento funcionar bem o primeiro passo é a conscientização sobre a doença obesidade e depois o envolvimento dos adolescentes nas decisões e propostas do tratamento. Um passo muito importante é retirar a culpa que em geral o adolescente sente por estar acima do peso.  Isto leva a baixa autoestima e resistência a mudanças.  O que mais funciona é quando, além do adolescente, a família apoia e ajuda no tratamento, ao invés de apenas cobrar ou jogar toda a responsabilidade para o adolescente.

Como a obesidade impacta a saúde mental das crianças/ adolescentes?

A obesidade pode levar a baixa autoestima, ao isolamento social, a depressão e a quadros graves de ansiedade, o que causa impacto na formação da personalidade e de como este adolescente vai se posicionar na vida adulta. Em geral um adolescente com obesidade pode gerar mais problemas de relacionamento na vida adulta.

Quais estratégias são eficazes na prevenção da obesidade infantil?

A melhor e mais eficaz estratégia é a prevenção da obesidade, que começa na vida intrauterina com o ganho de peso da mãe. Depois a instituição de um estilo de vida saudável desde infância para um melhor controle de peso.

Quais são os desafios no tratamento a longo prazo da obesidade?

A obesidade é uma doença redicivante, ou seja, mesmo após a perda de peso o organismo tenta retornar ao peso anterior, o que torna processo de manutenção difícil e exige envolvimento do núcleo familiar, não só por um período, mas por toda a vida.

Como os pais encaram o tratamento dos filhos? Ainda há muito medo/preconceito?

A maioria das famílias tem dificuldade de entender a obesidade como uma doença e, por isso, muitas vezes tem e dificuldade em aceitar a indicação de um medicamento. Além do mais, o abuso das medicações para obesidade (que causavam dependência e problemas de saúde) no passado, ainda marcam a sociedade e geram medo sobre o tratamento. Mas hoje as medicações são muito seguras e já aprovadas para a adolescentes.

O adolescente com obesidade passará por mais dificuldade na fase adulta?

Sim, pois como exposto anteriormente a recorrência da obesidade é grande e vai acontecer principalmente se não houver mudança no estilo de vida, que seja duradoura. Já a obesidade não tratada vai trazer consequências tanto sociais, como na saúde.

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Brasil pode ter 50% de crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso em 2035

O Brasil pode ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035, aponta Atlas Mundial da Obesidade 2024, lançado nesta sexta-feira (1º) pela Federação Mundial de Obesidade. O documento traz dados atuais sobre a doença no mundo e as projeções para os próximos anos. De acordo com o documento, a taxa anual de crescimento da obesidade em crianças e adolescentes brasileiros entre 2020 e 2035 será de 1,8%. Segundo os dados, a prevalência de crianças e adolescentes com IMC (Índice de Massa Corporal) elevado era de 34% em 2020, com mais de 15 milhões de afetados.

Em 2035, a projeção é de que essa taxa chegue a 50%, com mais de 20 milhões de crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso. Em relação aos adultos, o Atlas sugere que haverá um aumento anual de 1,9% nos números de adultos brasileiros com obesidade e sobrepeso entre 2020 e 2035. Além disso, o documento mostra que, em 2019, ocorreram 177.929 mortes em decorrência de doenças não transmissíveis atribuídas à obesidade, como diabetes, doença arterial coronariana, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e câncer.

Dessas, 33.811 óbitos decorreram de diabetes. Dados apontam para obesidade crescente em países pobres Além dos dados sobre o Brasil, o documento também traz as estimativas globais para a obesidade. De acordo com as informações, quase 3,3 bilhões de adultos serão afetados pela obesidade em 2035, representando 54% da população mundial. Em 2020, o número estimado de pessoas adultas obesas no mundo era de 2,2 bilhões. Esse é um valor maior do que os dados anunciados na quinta-feira (29) em estudo publicado no The Lancet em colaboração com a OMS (Organização Mundial da Saúde), que mostrou que há 1 bilhão de pessoas convivendo com a obesidade no mundo.

Ambos os documentos, porém, mostram que os países mais pobres são os mais afetados pela doença. De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade, as nações com a maior proporção de adultos vivendo com obesidade e sobrepeso são Tonga e Samoa. O estudo publicado no The Lancet indica os mesmos países como os líderes em obesidade. “As maiores incidências dessas doenças no mundo estão saindo dos Estados Unidos e indo para outras regiões, muito por conta da exportação de comidas de baixo valor nutritivo, mas com grande apelo calórico”, comenta Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que não esteve envolvido nos estudos, à CNN. Diante desse cenário, na visão do especialista, a prevenção da obesidade deve ser a principal estratégia adotada a nível global, além de aumentar o acesso a tratamentos, como medicamentos antiobesidade e cirurgia.

“A prevenção é feita comendo melhor, dormindo melhor, ficando longe das telas e tendo menos estresse. Em resumo, é preciso fazer uma higiene da vida. Essa é a mensagem que precisa ser passada e espero que, em 20 anos, esses números sobre a obesidade comecem a cair”, finaliza.

Os dados do estudo publicado no The Lancet também mostraram que a obesidade mais do que dobrou entre adultos e quadruplicou entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos, no período entre 1990 e 2022. Segundo a análise, 159 milhões de crianças e adolescentes e 879 milhões de adultos viviam com obesidade em 2022. Em 1990, o número de meninos e meninas obesos era de 31 milhões, enquanto o de adultos era de 195 milhões.

4/3: Dia Mundial da Obesidade

A obesidade afeta 7 milhões de adultos, ou 1 em cada 4 brasileiros acima de 18 anos, segundo o Ministério da Saúde. Até 2035, é esperado que esses números atinjam 41% dos adultos

São Paulo, 29 de fevereiro de 2024 – A obesidade e o sobrepeso vão comprometer a saúde de mais de 2,5 bilhões de pessoas no mundo até 2035, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E, para lembrar deste número cada vez mais alarmante, no dia 4 de março é intitulado como o Dia Mundial da Obesidade. Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados no ano passado, a obesidade afeta 7 milhões de adultos, ou 1 em cada 4 brasileiros acima de 18 anos. Segundo dados do Vigitel de 2022 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito Telefônico), atualmente 22,4% da população adulta brasileira apresenta obesidade. Até 2035, porém, é esperado que esses números atinjam 41% dos adultos. Nas crianças, já são 6,4 milhões com sobrepeso. Essa alta prevalência acarreta diversas outras complicações e doenças.

A obesidade é uma doença crônica e progressiva, por isso, precisa de tratamento, é classificada como um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis (DNTs), como diferentes tipos de câncer, diabetes tipo 2, doença cardiovascular e hipertensão. “Estratégias de reeducação alimentar e atividade física são fundamentais para a prevenção da obesidade e suas complicações, porém podem ser insuficientes e são adjuvantes aos tratamentos com medicações ou cirurgia para a doença”, esclarece Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, referência global no tratamento da obesidade e diabetes e presidente eleito mundial da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO). Dr. Cohen foi nomeado um dos 30 médicos mais influentes do mundo na área pela Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica (ASMBS) conta com mais de 250 artigos científicos e nove livros publicados. 

Tratamento da obesidade: para definição do melhor tratamento, é preciso analisar as consequências da obesidade sobre o corpo. A partir desta avaliação serão definidos os critérios para indicação da prescrição de medicamentos, que estão revolucionando o tratamento da doença – drogas que imitam os hormônios classificados como incretinas, que têm entre suas ações, a redução do apetite e maior saciedade, mas que precisam ser administrados com orientação e acompanhamento médico. “Essas opções terapêuticas modernas, como semaglutida e tirzepatida, devem ser aplicadas de modo contínuo e com prescrição médica. Se o paciente deixa de tomá-las, pode recuperar o peso que foi perdido durante o tratamento. Isto não difere do manejo de outras doenças crônicas, como colesterol alto, diabetes e hipertensão. Caso o paciente deixe de tomar os fármacos por qualquer razão a tendência é que esses problemas fiquem descontrolados e gerem complicações em órgãos como rins, cérebro e coração. Com os remédios e as cirurgias metabólicas disponíveis atualmente, conseguimos tratar os pacientes, desde os casos mais leves até os mais graves”, pontua Dr. Cohen.

Segundo o especialista, a perda ponderal significativa e duradoura promove controle ou até remissão nas doenças que caminham junto com a obesidade, que pode ser considerada a epidemia do século XXI. “E a missão do cirurgião é conseguir unificar todas as opções terapêuticas, para que cada paciente seja atendido de forma personalizada, e que no futuro, o tratamento de doenças crônicas e progressivas como a obesidade, seja realizada por meio da medicina de precisão”, finaliza Cohen.

POR TRÁS DA BALANÇA

Embora a obesidade seja uma doença crônica e multifatorial que atinge uma enorme parcela da população mundial, pessoas com a enfermidade enfrentam julgamento e preconceitos que, além de prejuízos para a saúde física e emocional, dificultam o acesso ao tratamento.

Vivemos uma epidemia mundial de obesidade. Os números, já altos, trazem projeções alarmantes: segundo o Atlas Global da Obesidade, em até 12 anos, mais da metade da população do planeta terá sobrepeso e obesidade caso a prevenção, o tratamento e o suporte à doença não evoluam. Sim, doença: a obesidade é uma enfermidade crônica com orientações de manejo bem definidas pela medicina. Nos seus bastidores moram muitas causas, como saúde física e emocional, genética, acesso, costumes, contexto social, entre outros fatores, que, mesmo sendo uma doença crônica, progressiva e multifatorial, considerada uma emergência da saúde pública global, as pessoas portadoras da obesidade ainda são socialmente estigmatizadas: tratadas como responsáveis por sua condição, como se ter obesidade fosse uma consequência direta de preguiça, desleixo ou falta de força de vontade. “Quando falamos de comportamento ou de saúde mental, ainda é algo muito abstrato, estando fora daquilo que é biológico e estando fora do que poderia ser considerado doença. Como se fosse algo que a pessoa tem o poder de controlar, mas escolhe não mudar”, explica o Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital.

“O preconceito e a falta de informação pioram muito a qualidade de vida da pessoa com obesidade. Por isso, é fundamental criar acesso ao tratamento adequado, que, assim como a doença, é complexo: deve cuidar de todos os aspectos, não apenas o biológico, mas o emocional, o comportamental e o social também”

Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e
Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Nesse sentido, ainda que exista um fator emocional por trás da obesidade, é fundamental colocar que a dimensão psíquica não é menos relevante do que a física para nossa saúde. “Existe uma relação importante entre saúde mental e doenças comórbidas. Os casos de pacientes com obesidade acabam tendo doenças psiquiátricas, e vice-versa, são muito prevalentes”, diz a Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Diversas enfermidades psiquiátricas levam a um comer disfuncional, em que, muitas vezes, o alimento é utilizado como um mecanismo compensatório. Ou, ainda, pacientes que fazem uso de medicamentos que chamamos de obesogênicos, que acabam levando ao aumento da ingestão calórica.”

RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

Além dos prejuízos sociais e emocionais, a estigmatização da obesidade dificulta o acesso ao tratamento adequado, já que cria obstáculos para a circulação das informações corretas acerca da doença. Ao serem cobrados socialmente, os pacientes com obesidade se sentem culpados e frustrados, não procuram ajuda médica especializada e tentam resolver a doença por conta própria. Estima-se que, dos pacientes com obesidade, só 10% recebem o diagnóstico de um profissional de saúde. E somente 2% têm algum tipo de tratamento“, aponta a Dra. Lívia. “Estamos falando de uma doença muito prevalente e de diagnóstico inicial simples. É um número muito baixo. Então, quando negamos a obesidade como doença, afastamos o paciente do tratamento regular. Aí esse paciente vai buscar na internet soluções sem evidências científicas, dietas mirabolantes, chás milagrosos etc., colocando sua saúde ainda mais em risco.”

“Essa conscientização sobre a doença é muito importante. Pessoas com obesidade não precisam de julgamento, precisam de acolhimento e tratamento”

Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

No macro, estamos falando de um problema de saúde global, que depende de uma série de investimentos públicos e mudanças – que vão desde a merenda oferecida nas escolas a campanhas de conscientização –, e que também demanda uma transformação cultural enorme. No micro, naquilo que afeta diretamente a vida das pessoas, a pressão que vem do próprio círculo íntimo. “Vemos muitos casos de pais que cobram que os filhos emagreçam, façam esportes ou se alimentem melhor, mas o entorno não muda. Aí os hábitos daquela pessoa são uma extensão dos hábitos da casa”, pontua Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Você pergunta se na família alguém faz algum tipo de atividade física, ninguém faz; se alguém se senta à mesa para realizar uma refeição, já não é mais um costume. A família tem que ser a primeira rede de apoio desse paciente.”

Curiosamente, como pontua o Dr. Maurício, é justamente esta sociedade que cobra corpos magros como ideal estético a responsável por criar relações pouco saudáveis com a comida. “Desde os primórdios, a comida é central para o homem, é um dos nossos pilares sociais. Não se trata apenas de nutrição, mas de um ritual social, um momento de prazer compartilhado“, diz o psiquiatra. “E isso, claro, não é um problema, mas, desde a infância, somos ensinados a ‘limpar o prato’, estimulados a não reconhecer os sinais de saciedade – não paramos de comer quando estamos saciados, mas estufados –, e levamos isso para a vida. Então estamos falando de uma mudança nas raízes, é um processo complexo. Precisamos rever essa dinâmica, aprender a associar prazer com bons hábitos, com alimentação saudável e equilibrada.”

Os perigos da positividade tóxica e da distorção digital

Você já deve ter visto no seu feed: posts de superação, discursos de autoajuda e incentivo, promessas do tipo “Perca cinco quilos em 14 dias”, entre outras fórmulas milagrosas. Esse tipo de conteúdo pode gerar expectativas irreais e sensação de fracasso, frustração e menos valia. Além disso, diversos estudos e pesquisas já comprovaram que o tempo que passamos nas redes sociais pode alterar a percepção que temos de nós mesmos, impactando a autoestima e afetando a saúde mental.

Isso não significa que as redes sejam vilãs ou que você deva cortá-las, mas exercitar o senso crítico é importante para tirar o melhor proveito delas. A seguir, reunimos algumas dicas:

Pare de consumir conteúdo que te faz mal. Às vezes, a gente nem se dá conta, mas aquele perfil que esbanja perfeição e alegria pode ser nocivo para nossa saúde mental e autopercepção. Se, toda vez que você se depara com esse tipo de post, sente tristeza, raiva de si, frustração ou ansiedade, esse é um alerta importante para considerar clicar no botão de unfollow.

Faça boas escolhas nas redes. Vale também buscar perfis que têm mais a ver com a sua realidade – e não com supostos ideais. Busque perfis que gerem sentimentos de identificação, acolhimento e aceitação.

Cuidado com as tendências sem fundamento. Dietas, procedimentos estéticos, fórmulas milagrosas, treinos que prometem resultados rápidos… Cair num modismo de internet pode ser tentador, mas perigoso. Além do risco de se frustrar pela falta de resultado, você ainda pode botar sua saúde em risco.

Monitore o tempo que você passa nas redes. Pode parecer uma dica óbvia, mas navegar nas plataformas é um hábito tão enraizado que fica difícil controlar essa frequência. Aqui vale usar a tecnologia a favor e apostar em ferramentas e aplicativos que monitoram e limitam o tempo de tela.

Fonte: www.worldobesity.org/resources/resource-library/world-obesity-atlas-2023

videocast: Obesidade na adolescência

Você sabia? Adolescentes portadores de obesidade têm mais chances de continuar com a doença na vida adulta. Segundo a projeção da World Obesity Federation, a obesidade atingirá 30% da população […]

Podcast: O QUE CARACTERIZA A OBESIDADE E COMO ELA AFETA AS PESSOAS

Neste episódio, a endocrinologista do nosso Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, Dra. Ana Carolina Calmon, explica os muitos fatores que caracterizam a obesidade, as repercussões da doença na vida das pessoas a curto e longo prazos e as possibilidades de tratamento.

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