POR TRÁS DA BALANÇA

Embora a obesidade seja uma doença crônica e multifatorial que atinge uma enorme parcela da população mundial, pessoas com a enfermidade enfrentam julgamento e preconceitos que, além de prejuízos para a saúde física e emocional, dificultam o acesso ao tratamento.

Vivemos uma epidemia mundial de obesidade. Os números, já altos, trazem projeções alarmantes: segundo o Atlas Global da Obesidade, em até 12 anos, mais da metade da população do planeta terá sobrepeso e obesidade caso a prevenção, o tratamento e o suporte à doença não evoluam. Sim, doença: a obesidade é uma enfermidade crônica com orientações de manejo bem definidas pela medicina. Nos seus bastidores moram muitas causas, como saúde física e emocional, genética, acesso, costumes, contexto social, entre outros fatores, que, mesmo sendo uma doença crônica, progressiva e multifatorial, considerada uma emergência da saúde pública global, as pessoas portadoras da obesidade ainda são socialmente estigmatizadas: tratadas como responsáveis por sua condição, como se ter obesidade fosse uma consequência direta de preguiça, desleixo ou falta de força de vontade. “Quando falamos de comportamento ou de saúde mental, ainda é algo muito abstrato, estando fora daquilo que é biológico e estando fora do que poderia ser considerado doença. Como se fosse algo que a pessoa tem o poder de controlar, mas escolhe não mudar”, explica o Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital.

“O preconceito e a falta de informação pioram muito a qualidade de vida da pessoa com obesidade. Por isso, é fundamental criar acesso ao tratamento adequado, que, assim como a doença, é complexo: deve cuidar de todos os aspectos, não apenas o biológico, mas o emocional, o comportamental e o social também”

Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e
Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Nesse sentido, ainda que exista um fator emocional por trás da obesidade, é fundamental colocar que a dimensão psíquica não é menos relevante do que a física para nossa saúde. “Existe uma relação importante entre saúde mental e doenças comórbidas. Os casos de pacientes com obesidade acabam tendo doenças psiquiátricas, e vice-versa, são muito prevalentes”, diz a Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Diversas enfermidades psiquiátricas levam a um comer disfuncional, em que, muitas vezes, o alimento é utilizado como um mecanismo compensatório. Ou, ainda, pacientes que fazem uso de medicamentos que chamamos de obesogênicos, que acabam levando ao aumento da ingestão calórica.”

RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

Além dos prejuízos sociais e emocionais, a estigmatização da obesidade dificulta o acesso ao tratamento adequado, já que cria obstáculos para a circulação das informações corretas acerca da doença. Ao serem cobrados socialmente, os pacientes com obesidade se sentem culpados e frustrados, não procuram ajuda médica especializada e tentam resolver a doença por conta própria. Estima-se que, dos pacientes com obesidade, só 10% recebem o diagnóstico de um profissional de saúde. E somente 2% têm algum tipo de tratamento“, aponta a Dra. Lívia. “Estamos falando de uma doença muito prevalente e de diagnóstico inicial simples. É um número muito baixo. Então, quando negamos a obesidade como doença, afastamos o paciente do tratamento regular. Aí esse paciente vai buscar na internet soluções sem evidências científicas, dietas mirabolantes, chás milagrosos etc., colocando sua saúde ainda mais em risco.”

“Essa conscientização sobre a doença é muito importante. Pessoas com obesidade não precisam de julgamento, precisam de acolhimento e tratamento”

Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

No macro, estamos falando de um problema de saúde global, que depende de uma série de investimentos públicos e mudanças – que vão desde a merenda oferecida nas escolas a campanhas de conscientização –, e que também demanda uma transformação cultural enorme. No micro, naquilo que afeta diretamente a vida das pessoas, a pressão que vem do próprio círculo íntimo. “Vemos muitos casos de pais que cobram que os filhos emagreçam, façam esportes ou se alimentem melhor, mas o entorno não muda. Aí os hábitos daquela pessoa são uma extensão dos hábitos da casa”, pontua Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Você pergunta se na família alguém faz algum tipo de atividade física, ninguém faz; se alguém se senta à mesa para realizar uma refeição, já não é mais um costume. A família tem que ser a primeira rede de apoio desse paciente.”

Curiosamente, como pontua o Dr. Maurício, é justamente esta sociedade que cobra corpos magros como ideal estético a responsável por criar relações pouco saudáveis com a comida. “Desde os primórdios, a comida é central para o homem, é um dos nossos pilares sociais. Não se trata apenas de nutrição, mas de um ritual social, um momento de prazer compartilhado“, diz o psiquiatra. “E isso, claro, não é um problema, mas, desde a infância, somos ensinados a ‘limpar o prato’, estimulados a não reconhecer os sinais de saciedade – não paramos de comer quando estamos saciados, mas estufados –, e levamos isso para a vida. Então estamos falando de uma mudança nas raízes, é um processo complexo. Precisamos rever essa dinâmica, aprender a associar prazer com bons hábitos, com alimentação saudável e equilibrada.”

Os perigos da positividade tóxica e da distorção digital

Você já deve ter visto no seu feed: posts de superação, discursos de autoajuda e incentivo, promessas do tipo “Perca cinco quilos em 14 dias”, entre outras fórmulas milagrosas. Esse tipo de conteúdo pode gerar expectativas irreais e sensação de fracasso, frustração e menos valia. Além disso, diversos estudos e pesquisas já comprovaram que o tempo que passamos nas redes sociais pode alterar a percepção que temos de nós mesmos, impactando a autoestima e afetando a saúde mental.

Isso não significa que as redes sejam vilãs ou que você deva cortá-las, mas exercitar o senso crítico é importante para tirar o melhor proveito delas. A seguir, reunimos algumas dicas:

Pare de consumir conteúdo que te faz mal. Às vezes, a gente nem se dá conta, mas aquele perfil que esbanja perfeição e alegria pode ser nocivo para nossa saúde mental e autopercepção. Se, toda vez que você se depara com esse tipo de post, sente tristeza, raiva de si, frustração ou ansiedade, esse é um alerta importante para considerar clicar no botão de unfollow.

Faça boas escolhas nas redes. Vale também buscar perfis que têm mais a ver com a sua realidade – e não com supostos ideais. Busque perfis que gerem sentimentos de identificação, acolhimento e aceitação.

Cuidado com as tendências sem fundamento. Dietas, procedimentos estéticos, fórmulas milagrosas, treinos que prometem resultados rápidos… Cair num modismo de internet pode ser tentador, mas perigoso. Além do risco de se frustrar pela falta de resultado, você ainda pode botar sua saúde em risco.

Monitore o tempo que você passa nas redes. Pode parecer uma dica óbvia, mas navegar nas plataformas é um hábito tão enraizado que fica difícil controlar essa frequência. Aqui vale usar a tecnologia a favor e apostar em ferramentas e aplicativos que monitoram e limitam o tempo de tela.

Fonte: www.worldobesity.org/resources/resource-library/world-obesity-atlas-2023

videocast: Obesidade na adolescência

Você sabia? Adolescentes portadores de obesidade têm mais chances de continuar com a doença na vida adulta. Segundo a projeção da World Obesity Federation, a obesidade atingirá 30% da população […]

Podcast: O QUE CARACTERIZA A OBESIDADE E COMO ELA AFETA AS PESSOAS

Neste episódio, a endocrinologista do nosso Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, Dra. Ana Carolina Calmon, explica os muitos fatores que caracterizam a obesidade, as repercussões da doença na vida das pessoas a curto e longo prazos e as possibilidades de tratamento.

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