Uma vida sem pães, massas, bolos e até cerveja — essa é a realidade de quem precisa eliminar o glúten da alimentação: as pessoas com doença celíaca. Identificada como uma condição autoimune, a doença afeta diretamente o intestino delgado e exige uma restrição alimentar severa, sendo a principal medida a eliminação completa do glúten da dieta. Caso essa proteína, presente em cereais como trigo, cevada e centeio, seja ingerida, ela danifica o intestino, interfere na absorção de nutrientes e causa diversos problemas de saúde.
O que acontece no intestino desses pacientes
A reação autoimune provocada pelo glúten leva à inflamação crônica e à atrofia das vilosidades intestinais — pequenas estruturas responsáveis pela absorção de nutrientes no intestino delgado. Com o tempo, essa lesão intestinal pode gerar complicações sérias, independentemente da quantidade de glúten ingerida.
Sintomas e perigos da doença celíaca
“A doença celíaca não é uma simples intolerância alimentar; ela é uma reação imunológica séria que, se não for adequadamente tratada, pode levar à desnutrição, perda de peso acentuada e deficiência de vitaminas”, alerta o Dr. Andrea Bottoni (CRM 87209/ RQE 33411), nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Além disso, a doença celíaca está associada a manifestações extraintestinais, como anemia por deficiência de ferro, osteoporose, alterações neurológicas (como neuropatia periférica e ataxia), distúrbios de fertilidade e até doenças autoimunes associadas, como diabetes tipo 1.
Como descobrir se você ou alguém da família tem doença celíaca
A doença celíaca é uma condição que hoje afeta cerca de 2 milhões de brasileiros, mas ainda é muito confundida com outros problemas de saúde. Os sintomas podem variar bastante, incluindo dores abdominais, inchaço, diarreia e perda de peso. Em alguns casos, a doença pode até se apresentar de forma silenciosa, o que dificulta o diagnóstico precoce. Por isso, é muito importante que familiares de primeiro grau façam o rastreamento, já que a predisposição genética é significativa.
Estudos mostram que cerca de 10% dos parentes próximos de pessoas com doença celíaca também podem desenvolver a condição. O diagnóstico costuma ser feito por meio de uma combinação de exames, como testes de sangue para identificar anticorpos e uma biópsia do intestino delgado, realizada por endoscopia.
“Uma avaliação criteriosa é essencial, porque o tratamento exige mudanças drásticas na alimentação”, alerta o Dr. Bottoni.
Diferença entre doença celíaca e sensibilidade ao glúten
É muito importante entender a diferença entre doença celíaca e sensibilidade ao glúten. Na doença celíaca, consumir qualquer quantidade de glúten pode causar danos sérios ao intestino, por isso a dieta sem glúten é obrigatória e para a vida toda.
Já a sensibilidade ao glúten não celíaca ainda é um assunto em estudo. Ela causa sintomas desconfortáveis, mas não provoca as lesões nem a resposta autoimune típica da doença celíaca. Por isso, um diagnóstico preciso é fundamental para evitar tratamentos desnecessários.
Alimentação segura para quem tem doença celíaca
Para manter a saúde e evitar complicações, quem tem doença celíaca deve apostar em alimentos naturalmente livres de glúten, como frutas, verduras, legumes, carnes frescas, ovos e grãos como arroz e milho.
Também é importante ficar atento aos alimentos industrializados, que podem conter traços de glúten. O controle da contaminação cruzada é essencial: utensílios compartilhados, armazenamento inadequado e produção em ambientes que manipulam glúten podem colocar a saúde do celíaco em risco. Por isso, ler rótulos com cuidado e optar por produtos certificados faz toda a diferença.
Pesquisas e avanços que trazem esperança
A ciência está avançando na busca por tratamentos que, no futuro, possam reduzir a necessidade da dieta restritiva para celíacos. Entre as possibilidades estão enzimas que ajudam a degradar o glúten no sistema digestivo, vacinas que modulam a resposta imunológica e medicamentos que bloqueiam a inflamação causada pela reação autoimune. Essas pesquisas trazem uma perspectiva muito promissora para quem convive com a doença celíaca.
Convivência e qualidade de vida: além da dieta
Ter doença celíaca não é só mudar o cardápio — é também aprender a viver com disciplina, adaptação e apoio. O suporte da família, a inclusão social e o respeito às necessidades alimentares são essenciais para garantir o bem-estar dos celíacos.
“A alimentação do celíaco deve ser a mais natural possível. Escolher alimentos frescos, priorizar a simplicidade nas refeições e evitar produtos ultraprocessados são estratégias que ajudam a manter a saúde intestinal em equilíbrio”, finaliza o Dr. Bottoni.