4/3: Dia Mundial da Obesidade

A obesidade afeta 7 milhões de adultos, ou 1 em cada 4 brasileiros acima de 18 anos, segundo o Ministério da Saúde. Até 2035, é esperado que esses números atinjam 41% dos adultos

São Paulo, 29 de fevereiro de 2024 – A obesidade e o sobrepeso vão comprometer a saúde de mais de 2,5 bilhões de pessoas no mundo até 2035, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E, para lembrar deste número cada vez mais alarmante, no dia 4 de março é intitulado como o Dia Mundial da Obesidade. Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados no ano passado, a obesidade afeta 7 milhões de adultos, ou 1 em cada 4 brasileiros acima de 18 anos. Segundo dados do Vigitel de 2022 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito Telefônico), atualmente 22,4% da população adulta brasileira apresenta obesidade. Até 2035, porém, é esperado que esses números atinjam 41% dos adultos. Nas crianças, já são 6,4 milhões com sobrepeso. Essa alta prevalência acarreta diversas outras complicações e doenças.

A obesidade é uma doença crônica e progressiva, por isso, precisa de tratamento, é classificada como um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis (DNTs), como diferentes tipos de câncer, diabetes tipo 2, doença cardiovascular e hipertensão. “Estratégias de reeducação alimentar e atividade física são fundamentais para a prevenção da obesidade e suas complicações, porém podem ser insuficientes e são adjuvantes aos tratamentos com medicações ou cirurgia para a doença”, esclarece Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, referência global no tratamento da obesidade e diabetes e presidente eleito mundial da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO). Dr. Cohen foi nomeado um dos 30 médicos mais influentes do mundo na área pela Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica (ASMBS) conta com mais de 250 artigos científicos e nove livros publicados. 

Tratamento da obesidade: para definição do melhor tratamento, é preciso analisar as consequências da obesidade sobre o corpo. A partir desta avaliação serão definidos os critérios para indicação da prescrição de medicamentos, que estão revolucionando o tratamento da doença – drogas que imitam os hormônios classificados como incretinas, que têm entre suas ações, a redução do apetite e maior saciedade, mas que precisam ser administrados com orientação e acompanhamento médico. “Essas opções terapêuticas modernas, como semaglutida e tirzepatida, devem ser aplicadas de modo contínuo e com prescrição médica. Se o paciente deixa de tomá-las, pode recuperar o peso que foi perdido durante o tratamento. Isto não difere do manejo de outras doenças crônicas, como colesterol alto, diabetes e hipertensão. Caso o paciente deixe de tomar os fármacos por qualquer razão a tendência é que esses problemas fiquem descontrolados e gerem complicações em órgãos como rins, cérebro e coração. Com os remédios e as cirurgias metabólicas disponíveis atualmente, conseguimos tratar os pacientes, desde os casos mais leves até os mais graves”, pontua Dr. Cohen.

Segundo o especialista, a perda ponderal significativa e duradoura promove controle ou até remissão nas doenças que caminham junto com a obesidade, que pode ser considerada a epidemia do século XXI. “E a missão do cirurgião é conseguir unificar todas as opções terapêuticas, para que cada paciente seja atendido de forma personalizada, e que no futuro, o tratamento de doenças crônicas e progressivas como a obesidade, seja realizada por meio da medicina de precisão”, finaliza Cohen.

Prefeitura divulga resultado de estudo que avalia eficácia de teleconsulta com pacientes diabéticos

Ocorreu na manhã desta quarta-feira (29) o encerramento do Projeto de Teleconsulta, desenvolvido pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde, Núcleo de Telessaúde do Estado de Santa Catarina e Secretaria da Saúde da Prefeitura de Joinville. O evento foi realizado no Senac.

Foi apresentado o resultado de uma pesquisa que comprovou que a eficácia do atendimento virtual é a mesma obtida nas consultas presenciais de pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2.

O estudo iniciou em 2019. Envolveu 257 pacientes da rede pública de Joinville, que realizaram três consultas com intervalo de três meses entre elas. Deste grupo, 129 foram atendidos por meio de teleconsultas, em seis Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSFs) de Joinville e 128 atendidos de forma presencial na Policlínica Boa Vista. A idade dos pacientes que participaram da consulta variou de 54 a 68 anos.
“Vamos agora avaliar como aplicar esse resultado da pesquisa no município. De qualquer forma, mesmo em pacientes que possam ser encaminhados para atendimento virtual, eles não deixarão de serem acompanhados também presencialmente por um médico, durante seu tratamento de saúde”, explica Marlene Bonow Oliveira, diretora executiva da Secretaria da Saúde.

Segundo Silvia Taveira Elias, representante da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde, o Brasil conta com quase 17 milhões de adultos com diabetes.
“Este projeto desenvolvido em Joinville é de grande relevância para o Ministério da Saúde. Ele comprova que a tecnologia é uma ferramenta para levar um cuidado de saúde eficaz, equânime e integral para toda nossa população”, aponta Silvia.

Haliton Alves de Oliveira Júnior, gerente de projetos de sustentabilidade e responsabilidade social do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, informa que a pesquisa realizada em Joinville trouxe conclusões que podem ser adaptadas para ações práticas, em todo Brasil.
“Ela será uma referência para o uso da teleconsulta em vários outros locais do país”, garante Haliton.

Dia Mundial do Diabetes – Mais de 16 milhões de brasileiros têm diabetes e desconhecem esse diagnóstico

O diabetes, que mata 1,5 milhão de pessoas por ano no planeta, já é uma das dez principais causas de mortes por doenças no mundo

São Paulo, 13 de novembro de 2023 – O diabetes é uma doença crônica, silenciosa e progressiva que acomete mais de 16 milhões de brasileiros. Somos o quinto país com mais incidência de diabetes no mundo (atrás dos Estados Unidos, China, Paquistão e Índia), segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional, que revela que este número pode chegar a 21,5 milhões de pessoas em 2030. Já quando se trata da população mundial, estima-se 537 milhões (1 em 10), sendo que muitas pessoas podem ter a doença sem saber. Esse total pode chegar a 643 milhões em 2030 e 783 milhões em 2045.

O número de casos de diabetes praticamente dobrará em pouco menos de três décadas. É o que revelam novas estimativas publicadas na revista científica The Lancet, no fim de junho deste ano. Segundo a publicação, o mundo deverá ter 1,3 bilhão de pessoas com a doença em 2050. O diabetes, que mata 1,5 milhão de pessoas por ano no planeta, já é uma das dez principais causas de mortes por doenças no mundo. De acordo com a estimativa, em 2045 três em cada quatro casos de diabetes ocorrerão em países de baixa e média renda, o que representa um desafio para os sistemas de saúde.

Segundo o Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente eleito da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO), a obesidade é um dos principais fatores de risco para se desenvolver o diabetes tipo 2.

“Além da obesidade, o fator genético é importante. Essas situações, associadas a estilo de vida inadequado contribuem para o aparecimento e progressão da doença. Ao ser diagnosticado com diabetes, junto com o tratamento, o indivíduo precisa fazer algumas adaptações na rotina, especialmente no que diz respeito à alimentação e à prática de exercícios físicos”, esclarece Dr. Cohen.

Diabetes tipo 2 e obesidade em jovens

Em relação à obesidade, um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2, dados do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), realizado pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) mostram que houve um aumento da obesidade em jovens de 18 a 24 anos. Em 2022, 9% dos jovens dessa faixa etária tinham IMC – Índice de Massa Corporal, superior a 30, o que configura obesidade. Em 2023, essa taxa subiu para 17,1%, um aumento de 90% em um ano. Se acrescentarmos a esses dados o percentual de jovens com sobrepeso, ou seja, com IMC entre 25 e 30, teremos 40,3% dos jovens dessa faixa etária com excesso de peso.

Cirurgias são indicadas quando o melhor tratamento clínico não tem a resposta ideal

De acordo com Dr. Cohen, a cirurgia metabólica tem mostrado benefícios imediatos e sustentados para pessoas com diabetes tipo 2 e obesidade, o que diminui a necessidade de redução de glicose, após poucos dias do procedimento, bem como a melhora de múltiplos indicadores de saúde a longo prazo.

“A cirurgia metabólica é uma alternativa eficaz quando a farmacoterapia moderna não atinge os melhores resultados para os portadores de obesidade e diabetes tipo 2, explica. Atualmente, sabe-se que a perda de peso acima de 10% tem efeito positivo sobre diversas complicações da obesidade e diabetes”, pontua.

Tratamento medicamentoso

A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o FDA (agência americana reguladora de medicamentos e drogas) aprovaram neste ano o medicamento Tirzepatida, para tratar o diabetes tipo 2. O FDA também aprovou no início de novembro esta medicação para o tratamento da obesidade. O remédio é uma injeção semanal que melhora o controle da taxa de açúcar no sangue de pacientes adultos junto a dieta e exercícios. “A tirzepatida age nos receptores de dois hormônios: o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon). GIP e GLP-1 são hormônios responsáveis pelo efeito de aumentar a secreção de insulina pelo pâncreas após uma refeição”, esclarece Dr. Cohen.

“Pé diabético” e Ambulatório de Curativos

É importante a atenção à saúde dos pés, que deve ser iniciada pelas equipes médicas e pelos pacientes a partir do diagnóstico do diabetes e precisa ser mantida regularmente, seja nas consultas, como na rotina diária dos pacientes. “Os cuidados devem ser adotados desde o diagnóstico da doença e, também, pelos indivíduos com pré-diabetes, já que também apresentam risco de desenvolver complicações do diabetes. Isso também se aplica para as pessoas portadoras de diabetes tipo 2”, explica Dr. Ricardo Cohen.

O ambulatório de curativos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz oferece um protocolo de atendimento para casos complexos, tem disponibilidade de tecnologias como laser de baixa intensidade e curativos com pressão negativa. Os atendimentos são realizados com agendamento prévio para portadores de pé diabético dentre outras condições. Em lesões de maior gravidade, os pacientes serão encaminhados para uma equipe multidisciplinar do Hospital para continuidade do tratamento.

UMA NAÇÃO SEM MOVIMENTO

Como aspectos culturais e sociais tornaram o brasil sedentário; quais são os impactos do sedentarismo e da inatividade física na saúde do brasileiro e na economia do país; e as alternativas que organizações públicas e privadas estão buscando para combater o problema
Por Débora Rubin

Brasil é um país sedentário. Entre setembro de 2014 e de 2015, mais de 100 milhões de brasileiros acima de 15 anos não praticaram nenhum tipo de exercício físico. Para piorar o cenário, em 2016, 61,7% dos adultos brasileiros (com mais de 18 anos) passaram três horas ou mais, por dia, sentados na frente da TV, do computador ou com o celular em mãos. O primeiro dado faz parte do estudo “Prática de Esporte e Atividade Física” da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, divulgada em 2017.

Uma nação sem movimento

O segundo é da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Os dois dados cruzados apontam para um caminho perigoso. “A inatividade física somada ao sedentarismo colabora, a cada ano, para o aumento da obesidade no país, a ponto de estarmos próximos do perfil populacional dos Estados Unidos, onde 70% estão acima do peso”, destaca Alex Florindo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e atual presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS), observando que sedentarismo e inatividade física são coisas diferentes [veja quadro ao lado]. “Há uma relação entre um estilo de vida inativo e sedentário e o ganho de peso progressivo”, complementa a Dra. Lívia Porto Cunha da Silveira, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “O fato de andarmos de carro, usarmos controle remoto da TV e do portão vai fazendo com que gastemos cada vez menos energia para as atividades básicas, o que contribui para o acúmulo dessa energia na forma de gordura.” Esse acúmulo, segundo a médica, está relacionado a uma maior liberação de enzimas inflamatórias e o aumento da resistência à insulina, o que contribui para o aparecimento de doenças crônicas como diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial. É necessário, no entanto, destacar que o exercício físico sozinho não tem um papel significativo na perda de peso e, por isso, deve estar associado a outras estratégias, em especial à alimentação. Ainda assim, de acordo com a Dra. Lívia, a atividade física, por si só, já reduz os riscos para a saúde e auxilia no controle de doenças metabólicas, como o diabetes mellitus. “A prática de exercícios está relacionada a uma melhora da sensibilidade do hormônio produzido pelo pâncreas chamado insulina. Com isso, a insulina fica mais efetiva, o que reduz os níveis de açúcar no sangue e os níveis de insulina circulantes”, explica a especialista.

Dr. Ricardo Cohen

“O sedentário não será necessariamente obeso, mas o obeso que pratica atividade física consegue melhorar metabolicamente. Dieta adequada e medicação, quando necessária, podem também proporcionar algumas melhoras fisiológicas em decorrência do exercício”, complementa o Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes. Além da saúde, outro impacto importante do problema está na elevação dos custos para os cofres públicos. A revista médica The Lancet, uma das mais importantes do segmento, utilizou dados oficiais de 142 países do ano de 2013 e divulgou que os gastos com tratamentos e com a perda de produtividade decorrentes de doenças associadas ao sedentarismo em todo o mundo chegaram a 67,5 bilhões de dólares. Somente no Brasil, foram 3,62 bilhões de dólares, algo em torno de 12 bilhões de reais quase o montante do PIB do Acre no mesmo ano, que foi de 11,44 bilhões.

Dr. Ricardo Cohen
Coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Sedentarismo x inatividade

Sedentarismo e inatividade física são conceitos diferentes. O primeiro diz respeito ao modelo de vida da pessoa: quanto tempo ela passa sentada, se só usa carro para se locomover, se não faz nenhuma atividade doméstica etc. Já inatividade física é a falta da prática regular de exercícios físicos ou esportes, realizada por ao menos 150 minutos por semana, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Parece estranho dizer isso, mas uma pessoa pode fazer academia três vezes por semana e ainda assim ser sedentária, por passar o resto do tempo parada”, explica o professor Alex Florindo, da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS).

“Falta de tempo para se exercitar, ao contrário do que costumam dizer, não é desculpa, é um problema sério: trabalhamos demais e perdemos muito tempo no trânsito”.

Alex Florindo
Presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde

Alex Florindo
O brasileiro e a atividade física

O BRASILEIRO E A ATIVIDADE FÍSICA: UM RETRATO SOCIAL

62,1% dos brasileiros com 15 anos ou mais não praticaram qualquer esporte ou atividade física em 2015.

O Brasileiro não faz atividade física por:

  • Falta de tempo: 38,2%;
  • Não gosta ou não quer: 35%;
  • Problema de saúde ou idade: 19%.

Estado com o maior número de gente ativa:

  • Amazonas

Estado com o menor número de gente ativa:

  • Rio de Janeiro

Entre os 38,8 milhões de brasileiros que fizeram alguma modalidade esportiva em 2015, 63,2% eram homens e 36,8%, mulheres.

Esportes mais praticados entre os brasileiros ativos:

  • Futebol: 39,3%;
  • Caminhada: 24,6%;
  • Fitness (inclui pilates, hidroginástica, spinning): 9%;
  • Ciclismo: 3,2%.

ADAPTANDO-SE À REALIDADE BRASILEIRA

Segundo a pesquisa do Pnad, as principais razões que impedem o brasileiro de se mover são a falta de tempo (resposta de 38,2% dos entrevistados) e a falta de interesse — 35% disseram não gostar ou não querer fazer exercícios. “Falta de tempo, ao contrário do que costumam dizer, não é desculpa, é um problema sério: estamos trabalhando muito e perdendo tempo em deslocamentos, em especial nas grandes cidades”, argumenta o professor Florindo. “Faltam políticas públicas para que isso seja possível, não podemos culpar só o indivíduo.” A terceira razão também tem um peso importante: muita gente não conhece ou não encontra uma atividade que lhe dê prazer. “Muitas vezes, o paciente chega ao meu consultório dizendo: ‘Preciso me exercitar!’. Mas não faz ideia do que poderia ou gostaria de fazer e, ao seguir uma recomendação médica específica ou um modismo, pode desistir rapidamente”, alerta o Dr. Ricardo G. Eid, médico do esporte no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que já foi médico da seleção brasileira de futebol feminino e da seleção de base masculina (sub-15 e sub-16). “É preciso fazer o que se gosta e, para cada idade, as motivações são diferentes”, diz. O especialista acredita que muitos desistem antes mesmo de tentar, justamente por não saberem como começar. Para os que começam, há outro desafio: manterem-se regulares no exercício. Nesse ponto, as taxas de desistência também são altas, e pelas mais variadas razões: falta de acompanhamento e de estímulo, frustração da expectativa, falta de dinheiro, não considerar o investimento uma prioridade ou simplesmente achar aquela atividade muito chata. Guilherme Leme, gerente técnico da rede de academias Bio Ritmo (do mesmo grupo da SmartFit), conta que a maior parte do público que busca academia tem algum objetivo relacionado à perda de gordura corporal. “Perder peso, melhorar a definição muscular ou reduzir a circunferência abdominal são os objetivos de 80% das pessoas que se matriculam nas academias”, diz. Poucas, no entanto, perseveram. “Os números de evasão infelizmente são elevados. Cerca de dois terços das pessoas, 66%, desistem em menos de um ano. E esse número aumenta quando falamos da população obesa, chegando a mais de 80% de desistentes no mesmo período.” Ou seja, apenas 30% das pessoas passam mais de um ano matriculadas nas academias. “O que, ainda assim, não reflete o número de praticantes assíduos, que certamente é menor”, destaca Guilherme.

O EXERCÍCIO EM CADA FASE DA VIDA

Infância

O ideal é mesclar atividades físicas com brincadeiras. O lado lúdico ajuda a ampliar o vocabulário esportivo da criança.

Adolescência

Esportes coletivos estimulam a competição saudável e a sociabilidade. Fase de descobertas sobre os gostos e aptidões. Importante: academia não é indicada para menores de 14 anos (a não ser que seja um atleta de alto rendimento supervisionado por treinador).

Adulto

Momento de aprimorar o que aprendeu nas etapas anteriores e ampliar o leque de opções: fase para testar novas atividades e descobrir o que se encaixa melhor na rotina agitada pelo trabalho e pela vida doméstica.

Idosos

Grandes benefícios em atividades físicas resistidas (como a musculação) e, de preferência, em grupo, o que aumenta a socialização, fundamental para essa fase da vida

Fonte: Dr. Ricardo G. Eid, médico do esporte do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

A VIDA COM ENDORFINA

Eo que impulsiona os outros 38% de brasileiros que têm a prática da atividade física como hábito cotidiano? Considerando que poucos o desenvolvem ainda na adolescência e, desses, menos ainda levam a prática adiante, a maior parte dos adultos só passa a se exercitar quando algum alarme toca, seja o da saúde física, o da saúde mental ou o da estética quando não os três juntos. Mas, uma vez adeptos, sabem a falta que faz a atividade física no dia a dia. A psicóloga e assistente administrativa Maria Eliane Bezerra da Silva, 45 anos, é um exemplo de brasileira que já esteve nos dois extremos desse retrato social. Até os 30 anos, ela foi uma típica sedentária e inativa. Embora tenha sido uma criança agitada e uma adolescente cheia de energia, nunca teve o incentivo necessário para fazer da atividade física uma rotina. Como sempre esteve acima do peso e sofreu abuso sexual na infância, passou a esconder o corpo e a ter vergonha dele. Além disso, começou a trabalhar cedo, aos 14 anos, o que a deixou sem tempo. Após ter seu único filho, sentiu-se prostrada e ainda mais frustrada com o próprio corpo. A razão que leva oito em cada dez pessoas à academia perder peso foi a mesma que fez Eliane se mexer. Ela sabia que teria de cavar um tempo para se exercitar e, assim, se matriculou em uma academia na hora do almoço. Também entrou na natação para ajudar o filho pequeno a nadar.

Maria Eliane Bezerra da Silva

Mas foi a corrida que a transformou em uma atleta amadora e que a ajudou a se reconectar consigo mesma. “Hoje, minha relação com meu corpo é outra. Sei que não preciso mais escondê-lo e ele se tornou um instrumento para fazer as coisas que eu quero”, conta. Depois de aumentar gradualmente a quilometragem, e emagrecer para poder seguir correndo sem machucar as articulações, hoje é uma corredora de ultramaratonas: já participou de mais de 200 provas menores e, de 2016 para cá, vem se dedicando à Comrades, maratona que acontece anualmente entre as cidades de Durban e Pietermaritzburg, na África do Sul, somando mais de 80 quilômetros de percurso. Para isso, hoje sua rotina envolve diferentes tipos de exercício musculação, corrida e ioga pelo menos cinco vezes por semana.

METAMORFOSE SAUDÁVEL
Eliane Bezerra da Silva, 45, encontrou o prazer no esporte aos 30. Hoje, a atleta amadora já participou de mais de 200 provas de corrida

O MELHOR REMÉDIO

Arecomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para sair da zona de inatividade é de 150 minutos semanais — o que dá meia hora por dia, cinco dias por semana. E, segundo a Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde, para não ser sedentário, é preciso evitar passar três horas seguidas sentado. “Mesmo no trabalho, é preciso se levantar a cada duas horas, se alongar um pouco, beber água, pequenos atos que já fazem a diferença”, recomenda Alex Florindo. O endocrinologista e médico do esporte Yuri Galeno, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), acredita que absolutamente todos deveriam praticar exercícios: não importa a idade nem as limitações físicas, cada um deve buscar o que melhor se encaixa em seu modo de vida. “De preferência, deveria ser um hábito criado na infância e ser levado para toda a vida, mas nunca é tarde para começar, desde que com orientação médica e respeitando as limitações individuais.” Exercício físico somado a hábitos menos sedentários é o melhor remédio para uma vida saudável. Tirar o corpo da zona de conforto faz com que a gente se conheça melhor, combate doenças variadas, das crônicas às psiquiátricas, ajuda na perda e manutenção de peso, e estimula a parte óssea, reduzindo as chances de osteoporose. “Quando praticado ao ar livre, ainda tem o benefício da vitamina D, por causa do sol”, lembra o Dr. Eid. Isso sem contar a socialização: sair de casa, interagir com outras pessoas (em especial nos esportes em grupo), fazer algo diferente são ações que ajudam a melhorar o bem-estar no dia a dia. Se nenhum argumento acima te fez sentir vontade de se mexer, faça um teste: tire o tênis do armário, saia para uma longa caminhada e deixe a endorfina agir. Se o prazer for maior que o sacrifício, você é um forte candidato a engrossar o lado bom das estatísticas.

POR TRÁS DA BALANÇA

Embora a obesidade seja uma doença crônica e multifatorial que atinge uma enorme parcela da população mundial, pessoas com a enfermidade enfrentam julgamento e preconceitos que, além de prejuízos para a saúde física e emocional, dificultam o acesso ao tratamento.

Vivemos uma epidemia mundial de obesidade. Os números, já altos, trazem projeções alarmantes: segundo o Atlas Global da Obesidade, em até 12 anos, mais da metade da população do planeta terá sobrepeso e obesidade caso a prevenção, o tratamento e o suporte à doença não evoluam. Sim, doença: a obesidade é uma enfermidade crônica com orientações de manejo bem definidas pela medicina. Nos seus bastidores moram muitas causas, como saúde física e emocional, genética, acesso, costumes, contexto social, entre outros fatores, que, mesmo sendo uma doença crônica, progressiva e multifatorial, considerada uma emergência da saúde pública global, as pessoas portadoras da obesidade ainda são socialmente estigmatizadas: tratadas como responsáveis por sua condição, como se ter obesidade fosse uma consequência direta de preguiça, desleixo ou falta de força de vontade. “Quando falamos de comportamento ou de saúde mental, ainda é algo muito abstrato, estando fora daquilo que é biológico e estando fora do que poderia ser considerado doença. Como se fosse algo que a pessoa tem o poder de controlar, mas escolhe não mudar”, explica o Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital.

“O preconceito e a falta de informação pioram muito a qualidade de vida da pessoa com obesidade. Por isso, é fundamental criar acesso ao tratamento adequado, que, assim como a doença, é complexo: deve cuidar de todos os aspectos, não apenas o biológico, mas o emocional, o comportamental e o social também”

Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e
Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Nesse sentido, ainda que exista um fator emocional por trás da obesidade, é fundamental colocar que a dimensão psíquica não é menos relevante do que a física para nossa saúde. “Existe uma relação importante entre saúde mental e doenças comórbidas. Os casos de pacientes com obesidade acabam tendo doenças psiquiátricas, e vice-versa, são muito prevalentes”, diz a Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Diversas enfermidades psiquiátricas levam a um comer disfuncional, em que, muitas vezes, o alimento é utilizado como um mecanismo compensatório. Ou, ainda, pacientes que fazem uso de medicamentos que chamamos de obesogênicos, que acabam levando ao aumento da ingestão calórica.”

RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

Além dos prejuízos sociais e emocionais, a estigmatização da obesidade dificulta o acesso ao tratamento adequado, já que cria obstáculos para a circulação das informações corretas acerca da doença. Ao serem cobrados socialmente, os pacientes com obesidade se sentem culpados e frustrados, não procuram ajuda médica especializada e tentam resolver a doença por conta própria. Estima-se que, dos pacientes com obesidade, só 10% recebem o diagnóstico de um profissional de saúde. E somente 2% têm algum tipo de tratamento“, aponta a Dra. Lívia. “Estamos falando de uma doença muito prevalente e de diagnóstico inicial simples. É um número muito baixo. Então, quando negamos a obesidade como doença, afastamos o paciente do tratamento regular. Aí esse paciente vai buscar na internet soluções sem evidências científicas, dietas mirabolantes, chás milagrosos etc., colocando sua saúde ainda mais em risco.”

“Essa conscientização sobre a doença é muito importante. Pessoas com obesidade não precisam de julgamento, precisam de acolhimento e tratamento”

Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

No macro, estamos falando de um problema de saúde global, que depende de uma série de investimentos públicos e mudanças – que vão desde a merenda oferecida nas escolas a campanhas de conscientização –, e que também demanda uma transformação cultural enorme. No micro, naquilo que afeta diretamente a vida das pessoas, a pressão que vem do próprio círculo íntimo. “Vemos muitos casos de pais que cobram que os filhos emagreçam, façam esportes ou se alimentem melhor, mas o entorno não muda. Aí os hábitos daquela pessoa são uma extensão dos hábitos da casa”, pontua Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Você pergunta se na família alguém faz algum tipo de atividade física, ninguém faz; se alguém se senta à mesa para realizar uma refeição, já não é mais um costume. A família tem que ser a primeira rede de apoio desse paciente.”

Curiosamente, como pontua o Dr. Maurício, é justamente esta sociedade que cobra corpos magros como ideal estético a responsável por criar relações pouco saudáveis com a comida. “Desde os primórdios, a comida é central para o homem, é um dos nossos pilares sociais. Não se trata apenas de nutrição, mas de um ritual social, um momento de prazer compartilhado“, diz o psiquiatra. “E isso, claro, não é um problema, mas, desde a infância, somos ensinados a ‘limpar o prato’, estimulados a não reconhecer os sinais de saciedade – não paramos de comer quando estamos saciados, mas estufados –, e levamos isso para a vida. Então estamos falando de uma mudança nas raízes, é um processo complexo. Precisamos rever essa dinâmica, aprender a associar prazer com bons hábitos, com alimentação saudável e equilibrada.”

Os perigos da positividade tóxica e da distorção digital

Você já deve ter visto no seu feed: posts de superação, discursos de autoajuda e incentivo, promessas do tipo “Perca cinco quilos em 14 dias”, entre outras fórmulas milagrosas. Esse tipo de conteúdo pode gerar expectativas irreais e sensação de fracasso, frustração e menos valia. Além disso, diversos estudos e pesquisas já comprovaram que o tempo que passamos nas redes sociais pode alterar a percepção que temos de nós mesmos, impactando a autoestima e afetando a saúde mental.

Isso não significa que as redes sejam vilãs ou que você deva cortá-las, mas exercitar o senso crítico é importante para tirar o melhor proveito delas. A seguir, reunimos algumas dicas:

Pare de consumir conteúdo que te faz mal. Às vezes, a gente nem se dá conta, mas aquele perfil que esbanja perfeição e alegria pode ser nocivo para nossa saúde mental e autopercepção. Se, toda vez que você se depara com esse tipo de post, sente tristeza, raiva de si, frustração ou ansiedade, esse é um alerta importante para considerar clicar no botão de unfollow.

Faça boas escolhas nas redes. Vale também buscar perfis que têm mais a ver com a sua realidade – e não com supostos ideais. Busque perfis que gerem sentimentos de identificação, acolhimento e aceitação.

Cuidado com as tendências sem fundamento. Dietas, procedimentos estéticos, fórmulas milagrosas, treinos que prometem resultados rápidos… Cair num modismo de internet pode ser tentador, mas perigoso. Além do risco de se frustrar pela falta de resultado, você ainda pode botar sua saúde em risco.

Monitore o tempo que você passa nas redes. Pode parecer uma dica óbvia, mas navegar nas plataformas é um hábito tão enraizado que fica difícil controlar essa frequência. Aqui vale usar a tecnologia a favor e apostar em ferramentas e aplicativos que monitoram e limitam o tempo de tela.

Fonte: www.worldobesity.org/resources/resource-library/world-obesity-atlas-2023

videocast: Obesidade na adolescência

Você sabia? Adolescentes portadores de obesidade têm mais chances de continuar com a doença na vida adulta. Segundo a projeção da World Obesity Federation, a obesidade atingirá 30% da população […]

Podcast: O QUE CARACTERIZA A OBESIDADE E COMO ELA AFETA AS PESSOAS

Neste episódio, a endocrinologista do nosso Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, Dra. Ana Carolina Calmon, explica os muitos fatores que caracterizam a obesidade, as repercussões da doença na vida das pessoas a curto e longo prazos e as possibilidades de tratamento.

ALIMENTOS ZERO

Alimentos zero. Comer ou não comer, eis a questão.
Sem açúcar, sem lactose, sem glúten… Conversamos com a nutricionista Tarcila Campos, do nosso Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, para descobrir o que está por trás dos alimentos “zero”. E já adiantamos: comida saudável mesmo é comida de verdade
.

Não faltam nas prateleiras dos mercados produtos que excluem determinados ingredientes – zero glúten, zero lactose, zero açúcar, entre outros. Mas o que isso quer dizer na prática? Esses alimentos são mesmo saudáveis? De acordo com Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a resposta é: depende. “É importante entender que a denominação zero, de acordo com a Anvisa, é usada quando aquele produto é literalmente zerado de tal nutriente ou substância”, ela explica. “Então não é porque zeramos um ingrediente que o alimento vai ser mais saudável, só estou o tornando mais seguro para quem tem uma determinada intolerância a ele, como pessoas com doença celíaca ou intolerantes à lactose”, explica.

Para a nutricionista, o velho hábito de ler o rótulo – e não se contentar apenas com o que propaga a embalagem – ainda é a melhor maneira de sabermos o que estamos ingerindo. “Quando lemos que tal produto tem zero gordura, zero açúcar ou zero sódio, é importante refletir: zerei tal substância e agora? O que sobrou nesse alimento?”, ela diz. Um bom exemplo é o chocolate diet: tira-se o açúcar da preparação, mas sua ausência é compensada com mais gordura, que é palatável. No final, entre um chocolate zero e um tradicional da mesma marca, a quantidade de carboidratos é provavelmente similar – ou seja, vale ponderar se há benefício na troca quando pensamos em controle glicêmico.

“Criar o hábito de ler rótulos é se conscientizar sobre a própria alimentação. E a regra aqui também é clássica: menos é mais. Quanto menos ingredientes, melhor”

Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

DISFARCE (IM)PERFEITO

Quando o assunto é alimentação com saúde, Tarcila também joga luz em uma questão cultural que movimenta essa indústria: a busca por tornar saudável um alimento que não é. “Se você quer comer um doce, coma. É melhor fazer o seu brigadeiro de panela e comer uma porção pequena do que se enganar que vai fazer um brigadeiro fit de whey protein. Brigadeiro fit de whey protein não é brigadeiro, é whey protein. Assim como espaguete de abobrinha não é espaguete, é abobrinha”, diz a nutricionista.

Além da tendência da transformação fit, existe também uma crença de que não há prazer em saborear um prato saudável, ou que as opções são limitadas. “A pessoa que quer se alimentar melhor não precisa resumir seu cardápio a saladas ou um prato de peito de frango com batata doce. É uma questão de fazer boas escolhas”, pontua Tarcila. “Está com vontade de comer um filé à parmegiana? Escolha uma carne magra, faça um molho de tomate caseiro, coloque uma fatia de muçarela e asse no forno. É uma opção gostosa e saudável.”

“Reduzir o açúcar nunca foi retórica para o aumento de consumo de adoçante. O ideal é aprendermos a apreciar o sabor natural dos alimentos, treinar o paladar com o amargo e o azedo”

Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

ORGANIZAÇÃO, EQUILÍBRIO E COMIDA DE VERDADE

Você já ouviu isso antes: quanto menos processados e ultraprocessados e mais alimentos in natura no seu prato, melhor. E provavelmente também já pensou: não tenho tempo para fazer comida fresquinha todo dia. Por isso, Tarcila ressalta que o segredo aqui é a organização. Planejar as refeições da semana e deixar tudo pronto ou pré-pronto preparado facilita a rotina e auxilia em uma alimentação adequada. Mais do que isso: ajuda a manter um (guarde esse termo) padrão nutricional saudável. “O padrão nutricional saudável é montado em cima das necessidades nutricionais do paciente e trabalhado com comida de verdade na qual nenhum alimento é vilão. Tem espaço para o doce no fim de semana, para o arroz com feijão que é a base da nossa alimentação, para o pão na chapa de manhã, basta estar dentro de um contexto organizado”, diz a nutricionista. “O problema é que, cada vez mais, a gente come o que dá, o que tem, quando dá. Tem dia que a pessoa toma café da manhã, tem dia que não, aí come cinco frutas num dia e nenhuma no outro. Como é que o corpo, que tem uma necessidade nutricional diária, vai conseguir se organizar dentro do que ele precisa?”

“Ficamos tentando encontrar alimentos vilões, quando, na verdade, a rotina não organizada é que é a grande vilã”

Tarcila Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Nesse sentido, vale voltar um pouco ao que falamos acima: comer bem é – também – fazer boas escolhas. Isso inclui prestar atenção ao que, como, quando e quanto se come. E, claro, não se deixar enganar por embalagens atraentes. “Muita gente decide parar de comer glúten mesmo sem ter a doença celíaca, aí troca o pãozinho francês por um biscoito sem glúten extremamente industrializado, como se o glúten fosse mais nocivo do que qualquer outro ingrediente, como conservantes e corantes”, finaliza Tarcila.

PODCAST: O PERIGO DAS DIETAS RESTRITIVAS COM A CHEGADA DO VERÃO

Você sabia que 90 a 95% das pessoas que perdem peso rapidamente por meio de dietas muito restritivas voltam a engordar? Ouça o nosso podcast com a Tarcila Campos, nutricionista do nosso Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e fique atento aos riscos que as dietas restritivas e da moda causam à saúde.

OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA

A incidência da obesidade é cada vez maior entre os adolescentes. Buscar tratamento multidisciplinar e desfazer a estigmatização em torno da doença são passos fundamentais para vencê-la.

Um dos relatórios mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2022, revela que cerca de 124 milhões de crianças e adolescentes no mundo têm obesidade. Mas, além do número superlativo, o que chama a atenção nesse levantamento é a falta generalizada de conhecimento : um entre quatro adolescentes não sabem que têm obesidade, e um em cada três pais ou responsáveis também não sabem que o adolescente está com a enfermidade. Doença multifatorial, crônica e progressiva, a obesidade pode trazer outras doenças, como a hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes, alguns tipos de câncer, problemas cardiovasculares, renais, hepáticos e respiratórios. Além disso, adolescentes com obesidade têm chance aumentada de continuarem a serem portadores de obesidade na vida adulta.
“Um dos maiores desafios da obesidade é identificar sua causa com precisão, afinal, ela tem origem multifatorial. Dentre as causas, a genética, meio ambiente, fatores psicossociais, uso de determinados medicamentos, doenças endocrinológicas e até mesmo por um ambiente intrauterino não favorável, como o fumo durante a gestação. Outras doenças maternas, como o diabetes gestacional, também pode favorecer o ganho de peso da prole na infância”, explica a Dra. Ruth Rocha, endocrinologista pediatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Dra. Ruth Rocha

“A obesidade é um problema de saúde pública mundial que nenhum país ainda conseguiu resolver porque a solução não depende só do indivíduo, e o cenário hoje – a indústria alimentícia, a era dos aplicativos de celular, a falta de mobilidade – não colabora”


Dra. Ruth Rocha, endocrinologista pediatra

E, muitas vezes, a soma dos fatores potencializa o risco. “O paciente já tem uma predisposição genética e vive em um ambiente que favorece a doença. Vemos muito isso com crianças e adolescentes”, diz a nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Tarcila Campos. “Vivemos em um tempo em que o consumo de alimentos de baixo valor nutricional é muito estimulado e acessível.”

UM CAMINHO COM MUITAS VIAS

Assim como a doença é multifatorial, seu tratamento também deve ser multidisciplinar, principalmente quando consideramos essa etapa da vida. “As decisões do adolescente são muito baseadasem emoções e no prazer imediato, então ele ainda não pensa nas consequências, não se preocupa se terá diabetes ou hipertensão, por exemplo”, explica a Dra. Ruth. “São outros desafios nesse universo que impactam o tratamento da obesidade. Por isso, é preciso ter uma equipe multiprofissional acompanhando: endocrinologista, psicólogo, educador físico, nutricionista etc.”
Além das novidades em medicamentos para obesidade e diabetes, como a semaglutida e a liraglutida, que têm proporcionado bons resultados, a cirurgia metabólica também é uma estratégia eficiente no controle da doença. Sua indicação, inclusive, ganhou novos parâmetros no fim de 2022, facilitando o acesso a pessoas com diferentes graus de obesidade . “A cirurgia é indicada para pessoas com diabetes de IMC acima de 30 e para pessoas com obesidade de IMC acima de 35 sem comorbidades e que não tem resposta ótima ao tratamento medicamentoso”, explica o Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Antes, era preciso ter comorbidades para ser candidato à intervenção. A nova diretriz considera a obesidade uma doença por si só. Além disso, hoje, temos muito mais consistência científica para mostrar que a cirurgia é eficaz e segura.”

“A obesidade não é um fator de risco, mas uma doença crônica e progressiva que precisa ser tratada”


Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz

A fórmula de dieta saudável mais exercícios físicos é importante, mas como estratégia para prevenção. Para quem já tem a doença, a combinação não é eficiente para resolver o problema a longo prazo – e a falta de resultados pode frustrar ainda mais a pessoa. “Essas medidas são excelentes para prevenção ou como tratamento adjuvante a qualquer intervenção cirúrgica ou medicamentosa. Mas só uma mudança de estilo de vida não é efetiva”, aponta o Dr. Cohen.

Dr. Ricardo Cohen

E quando se fala em reeducação alimentar associada ao tratamento cirúrgico ou clinico é importante entender o que significa comer saudável. “Hoje, há muitos alimentos industrializados vendidos como saudáveis no mercado, quando, muitas vezes, trazem uma série de aditivos prejudiciais à saúde”, explica Tarcila. “Para melhorar os hábitos alimentares, não precisa restringir o cardápio a poucos alimentos, muito menos cortar nutrientes. Trata-se de aprender a fazer boas escolhas e comer com consciência. Comida de verdade ainda é o melhor caminho.” A especialista dá como exemplo um sanduiche de fast food versus o feito em casa. “Na sua cozinha, você tem controle sobre os ingredientes e o modo de preparo: pode fazer o hambúrguer com uma carne mais magra, como o patinho, uma fatia de muçarela, salada e pão integral. Pode fatiar uma batata inglesa e assar no forno ou até na fritadeira elétrica, por exemplo. Você mantém o prazer de comer o sanduiche, mas mais saudável.”

ESTIGMATIZAÇÃO E CULPA

Um dos fatores que mais dificulta o acesso ao tratamento é o preconceito. Culturalmente, a obesidade é vista como uma falta de cuidado ou de força de vontade da pessoa. “A obesidade e os portadores da doença são estigmatizados. Em muitos casos, culpa-se a pessoa”, diz o Dr. Cohen. “Logo, ao se sentir culpado, o indivíduo não procura auxílio médico.”
Segundo o Dr. Maurício Rossini, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, isso é potencializado na adolescência, fase em que a aparência pode ser determinante para a vida social. E essa dimensão emocional da doença não pode ser desprezada. “O prejuízo social é, por si só, uma comorbidade. O adolescente com obesidade sofre bullying, se isola, pode ter quadros de depressão, ansiedade, piorando ainda mais a obesidade e trazendo danos importantes para a saúde mental”, explica o psiquiatra.

“Na adolescência, a obesidade pode trazer adoecimento psíquico e prejuízo social relevantes. O adolescente fica estigmatizado, é marcado pela obesidade, pode também passar a se autodepreciar, piorando os sentimentos de culpa e incapacidade”


Dr. Maurício Rossini, psiquiatra

CUIDADOS PARA A VIDA TODA

Como doença crônica e progressiva, a obesidade deve ser monitorada ao longo da vida. Ou seja, é preciso manter o acompanhamento com os especialistas envolvidos no cuidado. A frequência é determinada pelos próprios profissionais, levando em conta histórico e momento de vida da pessoa. Claro, com o tempo e a prática, fica mais fácil seguir as orientações, mas, como a Tarcila ressalta, mesmo com o quadro sob controle, as próprias mudanças da vida podem favorecer o ressurgimento da doença. “A vida não é linear. Um adolescente vai atravessar uma linha do tempo com algumas turbulências. Escola, vestibular, faculdade, sair de casa, entrar na vida adulta, no mercado de trabalho. São muitos processos que podem ser, em alguns momentos, estressantes, angustiantes, então a manutenção daquele ambiente saudável se torna desafiadora”, diz a nutricionista. “Por isso, o acompanhamento com a equipe, com profissionais que entendam essas fases da vida, é fundamental. Isso é muito comum em qualquer doença crônica, você muda totalmente a característica do tratamento, não é engessado.”

“Mesmo que o adolescente tenha a doença, a consciência deve vir de todos ao seu redor. A família tem que ser a primeira rede de apoio desse adolescente, ser tão responsável pelo tratamento quanto ele. A mudança, o cultivo de bons hábitos, as boas escolhas não dependem só dele”


Tarcila Campos, nutricionista

“De forma resumida, a adolescência é um mundo de conflitos. E tudo bem, são essas adversidades que nos ajudam a construir a nossa inteligência emocional”, completa o Dr. Maurício. “Mas, para se desenvolverem bem, com saúde física e mental, esses jovens precisam ser validados, acolhidos e guiados.”

Obesidade no Brasil e no mundo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 124 milhões de crianças e adolescentes no mundo têm obesidade.


E a taxa de obesidade entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos deve dobrar até 2030.


No Brasil, 7% dos adolescentes entre 12 e 17 anos têm obesidade


Uma em cada três crianças brasileiras está acima do peso

Fonte: Dados do Ministério da Saúde; Movimento Saúde não se pesa

Como oferecer apoio a um adolescente com obesidade

Não discrimine. A obesidade é uma doença, não um “desleixo”, “fraqueza” ou coisa de “gente preguiçosa”


Não cobre. Já falamos disso, mas não custa repetir: a obesidade não é “culpa” de ninguém. Pressionar o adolescente para emagrecer, praticar esportes ou buscar uma vida social pode fazer com que ele se isole ainda mais


Envolva-se. Para tratar e controlar a doença, o adolescente precisa de incentivo. Estabelecer uma alimentação saudável em casa e estimular atividades para toda a família são exemplos de atitudes que podem ajudar – e todo mundo sai ganhando

Na ponta do lápis

O diagnóstico da obesidade é feito por meio de medidas da distribuição da gordura corporal, realizadas por diversos exames e pelas consequências que ela pode acarretar, como diabetes, dificuldade de mobilidade, dentre outras. O IMC (Índice de Massa Corporal), que é a relação entre o peso e altura, ainda é um dos parâmetros que pode ajudar no diagnóstico da doença.


Confira a seguir a classificação geral do IMC:

Abaixo de 18,5: baixo peso
Até 24,9: peso ideal
Acima de 25: sobrepeso
IMC entre 30 e 34,9: obesidade Grau I
IMC entre 35 e 39,9: obesidade Grau II
IMC acima de 40: obesidade Grau III

VIDEOCAST: OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA

Você sabia? Adolescentes portadores de obesidade têm mais chances de continuar com a doença na vida adulta. Segundo a projeção da World Obesity Federation, a obesidade atingirá 30% da população […]

PODCAST: O que caracteriza a obesidade e como ela afeta as pessoas?

Neste episódio, a endocrinologista do nosso Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, Dra. Ana Carolina Calmon, explica os muitos fatores que caracterizam a obesidade, as repercussões da doença na vida das pessoas a curto e longo prazos e as possibilidades de tratamento.

PALAVRA DO
ESPECIALISTA

Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz

Dr. Ricardo Cohen

Não existe bala de prata para a obesidade

O tratamento da obesidade tem amplos benefícios na saúde e no bem-estar. Os avanços nos medicamentos para obesidade despertaram interesse, e a excessiva atenção da mídia promoveu uma demanda sem precedentes por esses novos agentes. No entanto, a abordagem da mídia pode propagar a visão de que existe uma solução mágica para a obesidade.
A obesidade é uma condição crônica com mecanismos multifatoriais complexos incluindo a genética, má adaptação metabólica, anormalidades neuroendócrinas e grandes mudanças no estilo de vida com composição de alimentos e desigualdades sociais de acesso a alimentação adequada. O tratamento eficaz da obesidade deve ser multidisciplinar, individualizado e adaptável ao longo do tempo. Muitas vezes, exigirá uma combinação de modalidades terapêuticas de longo prazo, semelhante à abordagem aceita para outras doenças crônicas. Os novos medicamentos não curarão a obesidade nem tornarão outras abordagens obsoletas, incluindo intervenções no estilo de vida e cirurgia metabólica.

Embora a última geração de medicamentos para obesidade mostre resultados médios de 15% a 20% de perda de peso corporal, aparentemente mesmo sem grandes intervenções no estilo de vida, alguns pontos merecem destaque. Primeiro, a perda de peso observada em estudos clínicos usando qualquer tratamento para obesidade tem uma distribuição de curva de Gauss, isto é, de resposta biológica a uma intervenção. Até 20% dos participantes não apresentam perda de peso clinicamente significativa. Além disso, até 10% dos pacientes terão dificuldades para tolerar os efeitos colaterais dos medicamentos.

Em segundo lugar, mesmo as pessoas que atingem as metas de tratamento com a farmacoterapia para obesidade podem decidir explorar a cirurgia metabólica para a manutenção a longo prazo da perda de peso e ganhos de saúde. Em terceiro lugar, os benefícios dos medicamentos para obesidade cessam se os medicamentos são interrompidos. Finalmente, independentemente do método de perda de peso ou do seu efeito sobre o peso corporal, um estilo de vida saudável continua a sendo o alicerce da otimização da saúde.
Intervenções no estilo de vida também são uma estratégia interessante. Para até 20% dos pacientes, otimizar a qualidade nutricional, erradicar comportamentos prejudiciais e incorporar atividade física sustentará com sucesso a perda de peso e os ganhos na saúde.
A cirurgia metabólica também continua sendo uma terapia eficaz para a obesidade, reduzindo eventos cardiovasculares, complicações microvasculares, alguns tipos de câncer e mortalidade geral. Como a obesidade é progressiva, 10-20% dos pacientes podem recuperar parte do peso após a cirurgia, muitas vezes resultando em controle abaixo do ideal ou recidivas dos problemas de saúde relacionados à obesidade. Alguns podem necessitar de intervenções adicionais para a perda de peso (p.ex., uso de medicamentos). É provável que o inverso também seja verdadeiro para a farmacoterapia, onde a indicação cirúrgica pode ser aliada aos remédios para os melhores resultados a longo prazo.
Combinar abordagens cirúrgicas e clínicas é prática padrão no tratamento de doenças crônicas (p.ex., doença coronariana). Em Oncologia, uma variedade de tratamentos adjuvantes (p.ex., quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia) podem ser usadas além da cirurgia para melhorar os resultados. Da mesma forma, no tratamento do diabetes tipo 2 e obesidade, uma combinação de cirurgia metabólica e medicamentos está associada a um excelente controle glicêmico, perda de peso e até reversão de complicações do diabetes Pacientes com formas avançadas de obesidade geralmente têm respostas abaixo do ideal ao estilo de vida, intervenções farmacológicas ou cirúrgicas isoladamente, portanto, o tratamento combinado pode ser necessário.
Uma doença crônica multifatorial requer uma abordagem de longo prazo, multifatorial, flexível ao longo do tempo e adaptada ao indivíduo. Não devemos promover uma forma de tratamento descartando as outras opções. Precisamos combinar nossos esforços e usar as ferramentas certas, no momento certo e para a pessoa certa, para oferecer o melhor tratamento e maximizar os benefícios para a saúde de nossos pacientes.
*Artigo publicado no The Lancet em julho 2

TUDO SOBRE A CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA

Saiba mais sobre esse procedimento, suas indicações, mitos e recomendações por Livia Scatena.

Tudo sobre a cirurgia bariátrica e metabólica

Desde as primeiras cirurgias bariátricas no Brasil, nos anos 1970, até a popularização do eficaz procedi – mento contra a obesidade grave, já em meados dos anos 1990, bastante coisa mudou. Hoje os procedi – mentos adotados pelos profissionais são mais modernos e menos invasivos e não é mais necessária uma longa preparação psicológica pré-cirúrgica – há 25 anos, o paciente passava por até dois anos de acompanhamento terapêutico antes de ser operado.

O Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz realiza entre 30 e 40 cirurgias bariátricas por mês, sendo a metade delas metabólica. A idade média dos pacientes que recorrem ao procedi – mento no hospital é de 45 anos e mais mulheres são submetidas ao procedimento, em uma proporção de duas a três para cada homem – quando consideradas apenas as cirurgias metabólicas, tal diferença cai de um para dois.

CIRURGIA BARIÁTRICA: BÊ-A-BÁ

Dr Ricardo Cohen

O procedimento é um recurso cada vez mais utilizado para o tratamento da obesidade. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o número de cirurgias bariátricas cresceu 84,7% no Brasil entre 2011 e 2018, no levantamento mais recente da entidade. Nesse intervalo, mais de 424 mil pessoas foram operadas. “Realizo o procedimento desde 1998 e, desde então, só vi aumentar a procura pela cirurgia. Credito isso a uma maior educação por parte dos pacientes, que entendem como o procedimento é benéfico e transformador para a saúde”, afirma o Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Preferencialmente, a cirurgia bariátrica é feita por videolaparoscopia, uma técnica moderna, menos invasiva e mais confortável para o paciente. O médico faz pequenas incisões na região abdominal do paciente, por onde introduz os instrumentos necessários para a realização do procedimento. Pacientes portadores de obesidade mórbida, com IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 40 kg/m 2 e com IMC entre 35 e 39,9 kg/m2 e doenças associadas à obesidade, como hiper – tensão, refluxo e apneia do sono, dentre outras, podem se submeter à cirurgia bariátrica. Se você quer saber mais sobre o seu IMC, acesse o site centrodeobesidadeediabetes.org.br.

CIRURGIA METABÓLICA

O procedimento é recomendado para pessoas com diabetes do tipo 2 não controlada com medicamentos e pode ser feito em pacientes com IMC a partir de 30 kg/m ². “Vários fatores são associados à dificuldade de manejo clínico dos pacientes com dia – betes do tipo 2, incluindo a própria característica da doença e a aderência dos pacientes ao tratamento, que, por vezes, é de difícil assimilação, com uso de drogas injetáveis a serem aplicadas, em alguns casos, diversas vezes por dia. Além disso, os altos custos das insulinas e drogas de última geração também prejudicam o tratamento”, explica o especialista. “Um estudo brasileiro de 2010 mostrou que cerca de 70% dos pacientes com diabetes do tipo 2 não apresentavam controle glicêmico.” Segundo o Dr. Cohen, a perda de peso es – perada para um paciente que passa por essa cirurgia é de 25% a 30%, o mesmo para uma bariátrica em uma pessoa que não tem diabetes. “No entanto, no pós-operatório esperamos observar uma melhora geral dos exames do paciente com diabetes, além do controle da glicemia. Entre 60% e 70% dos pacientes apresentam controle total do diabetes tipo 2 a longo prazo”, conta o médico.

SEGURANÇA

Qualquer intervenção cirúrgica tem seus riscos de complicações e até de mortalidade. Tais riscos dependem de alguns fatores, como a experiência da equipe cirúrgica e a gravidade das doenças associadas à obesidade. No entanto, a chance de sucesso de uma operação bariátrica hoje em dia, sem óbito, é de 99,85% em centros de excelência. “O índice de complicações severas, que defino como aquelas que requerem alguma intervenção por meio de tratamento clínico ou mesmo reoperações, é baixo, por volta de 1% a 2%. Esse número é pequeno graças ao acesso laparoscópico, ao aperfeiçoamento dos materiais e ao treinamento das equipes cirúrgicas”, relata o Dr. Cohen. Segundo o médico, via de regra, as complicações são relacionadas às doenças associadas e sua gravidade. “Vale a pena salientar que as enfermidades que acompanham a obesidade, como o diabetes tipo 2 e a apneia do sono, entre outras, reforçam a indicação operatória e compensá-las antes das cirurgias é importante para menores índices de complicações”, diz.

PÓS-OPERATÓRIO

Em operações rotineiras, através do acesso videolaparoscópico, os pacientes têm breve estadia no hospital, em média de 36 a 48 horas. Depois de uma semana, eles voltam ao consultório médico para avaliação e orientação para a progressão da dieta de líquida para pastosa. Após 30 a 40 dias, acontece uma nova consulta médica e também nutricional. Nessa fase, os pacientes, em geral, já estão em dieta sólida. “A monitorização laboratorial depende das doenças associadas à obesidade. Por exemplo, diabéticos usualmente têm o controle de sua doença relativamente rápido depois da cirurgia e devem ser avaliados pela equipe médica com mais frequência para ajuste de doses de medicação e até suspensão de medicamentos”, afirma o Dr. Cohen. “Já os pacientes que não têm doença associada em geral são vistos quadrimestralmente nos primeiros dois anos, semestralmente até o quinto ano e anualmente nos anos subsequentes.”

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA

De acordo com o Dr. Adriano Segal, coordenador de Psiquiatria do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os pacientes passam por sessões psicoeducacionais antes de serem submetidos à cirurgia. “Contamos como é a cirurgia e suas consequências para não haver surpresas no pós-operatório.” Segundo ele, há uma proporção elevada de transtornos psiquiátricos entre os pacientes que procuram a cirurgia bariátrica. “Cerca de 80% deles têm transtornos de humor, como depressão e bipolaridade, e quadros de ansiedade. No pós-operatório, observamos uma melhora desses quadros. No entanto, quando os transtornos se mantêm, o paciente conta com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, especialmente no curto e médio prazos.”

Para o Dr. Segal, é mais interessante o acompanhamento no pós-operatório, principalmente para evitar que o paciente operado comece a abusar de álcool. “Esse abuso compromete o sucesso da cirurgia. O ideal é que a pessoa que passa por cirurgia bariátrica ou metabólica não beba, pois o álcool é mais perigoso no pós-cirúrgico, já que sua absorção acontece mais rapidamente e sua metabolização é mais lenta”, explica. “De 20% a 25% dos pacientes apresentam problemas com álcool no pós-operatório, sendo que o índice na população geral fica em 15%. Por isso a orientação é não beber ou aproveitar apenas momentos muito especiais para fazer um brinde, sem abusos, como formatura ou casamento de filhas e filhos. Churrascos e confraternizações não se enquadram aqui.”

Técnicas adotadas

Técnicas avançadas

São duas as técnicas de cirurgia de redução de estômago que se destacam no Brasil. O bypass gástrico é usado em 65% das cirurgias no país, sendo a mais recorrente em pacientes com diabetes do tipo 2. Nesse procedimento, o estômago é separado em duas partes e o caminho até o intestino é encurtado, unindo a menor parte do estômago ao intestino. Já a gastrectomia vertical consiste em transformar o estômago em uma espécie de tubo, de forma que o órgão não seja capaz de armazenar grande quantidade de comida. Essa técnica acelera a chegada dos alimentos ao intestino delgado.

Cirurgia Bariátrica

As operações bariátricas e metabólicas têm sido cada vez mais indicadas para o tratamento da obesidade e de suas doenças associadas.

As indicações atuais são: pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2 e pacientes com IMC maior que 35 kg/m2, que apresentem comorbidades (doenças agravadas pela obesidade e que melhoram com o tratamento eficaz) que ameacem a vida, tais como diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, doenças do colesterol, doença coronariana, osteoartrites e outras.

Os pacientes com IMC acima de 35 kg/m2 são considerados de pacientes com obesidade grau 2 (acima de 40, obesidade grau 3) e o tratamento clínico, com mudanças de hábitos alimentares e prática de atividades físicas, associado a medicações tem chances de perda de peso e principalmente da manutenção do peso perdido a longo prazo, enquanto os submetidos à cirurgia bariátrica têm ótima eficácia em termos de perda ponderal e controle das doenças associadas.

Aqueles pacientes portadores de obesidade grau 3 têm indicação cirúrgica após tentativas de tratamento clínico e comportamental sem a necessidade da presença de doenças associadas.

Já aqueles pacientes que têm IMC abaixo de 35, porém não tem doenças associadas, devem sem dúvidas, tentar o tratamento clínico antes, com chances de conseguir resultados razoáveis.

Você tem várias formas de agendar consultas e exames:

AGENDE POR MENSAGEM:

WhatsApp

Agende sua consulta ou exame:

Agende online
QR Code Agende sua consulta ou exame

Agende pelo app meu oswaldo cruz

App Meu Oswaldo Cruz disponível no Google Play App Meu Oswaldo Cruz disponível na App Store