Se por um lado há uma turma que só desperta depois de caprichar no café da manhã, muitos preferem partir para as atividades do dia sem comer nada. Pela quantidade de benefícios atrelados, dá para supor que sua ausência é prejuízo na certa. Muitos trabalhos científicos mostram que pode ser aliado no controle do peso e o melhor caminho para garantir disposição. Mas o que fazer quando nada desce logo cedo?
“Há quem não sinta fome ao acordar”, comenta a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, que ressalta a importância de se respeitar as características individuais e a rotina de cada um. Ninguém deve se forçar e enfiar comida goela abaixo, sobretudo os que têm enjoos, entre outros sintomas.
“Nem por isso vale passar a manhã toda tomando cafezinho cheio de açúcar no trabalho”, exemplifica a nutricionista Tarcila Campos, também do Oswaldo Cruz, em São Paulo. Ao pular a refeição, perde-se uma bela oportunidade de acrescentar itens saudáveis ao cotidiano. Uma das mais celebradas vantagens, salientada em uma pesquisa da Escola de Medicina da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, é justamente a de contribuir para a ingestão das vitaminas e sais minerais. O estudo listou as vitaminas A, do complexo B, caso do ácido fólico e C, além de minerais, como o cálcio e o fósforo.
Inclusive, pelas leis da bioquímica, trata-se do momento perfeito para acrescentar fontes de cálcio, como os lácteos, ao cardápio. “Esse nutriente compete com o ferro na absorção, o que pode ser prejudicial especialmente aos que têm risco de anemia”, explica Tarcila. A sugestão é, então, consumir fontes de cálcio longe de pratos com carnes e feijões, que são exemplos de fornecedores de ferro. Aí, ambos os minerais são bem aproveitados. Mas, para quem não curte lácteos logo cedo, nutricionistas recomendam saborear mais adiante, nos lanches intermediários, entre almoço e jantar. E os iogurtes com doses extras de proteína são ótimas pedidas – inclusive as versões em garrafinha contam pontos pela praticidade, ajudando os que alegam falta de tempo para se sentar à mesa.
Aliado contra a obesidade?
A correria aparece como um dos principais motivos por trás da negligência com primeira refeição do dia. Outro pretexto comum é o de economizar em calorias na busca pelo emagrecimento. O efeito, entretanto, pode ser o contrário.
“Há estudos observacionais apontando um elo do café da manhã equilibrado com o controle de peso”, comenta a nutricionista Lara Natacci, da DietNet, na capital paulista. Embora esse tipo de pesquisa não estabeleça uma relação de causa e efeito, pela quantidade de evidências encontradas na literatura científica é impossível deixar de considerar a hipótese. De modo geral, quem come direito nesse período tende a se alimentar bem no resto do dia. Também existem evidências de que favoreça uma maior sensação de saciedade e contribua para evitar exageros nas próximas refeições, controlando, portanto, a ingestão calórica.
Ainda sobre tentativas de reduzir os quilos extras tem gente aderindo à onda do jejum intermitente. E, nessa prática, há modelos que sugerem fechar a boca até à hora do almoço. Alguns adeptos acabam extrapolando nas porções noturnas, o que pode bagunçar o ritmo circadiano, aquele que regula as funções no corpo. Tal imbróglio remete a uma nova área da ciência, a crononutrição, que investiga a relação entre a alimentação e o relógio biológico.