Por que é tão importante realizar os exames de check-up anualmente?
Por meio deles, podemos identificar precocemente diversos problemas de saúde, permitindo intervenções eficazes e aumentando as chances de cura.
No episódio desta semana do nosso podcast, o Dr. José Roberto Hilsdorf, Clínico Geral e Cirurgião, explica como os exames preventivos podem salvar vidas e contribuir para o bem-estar a longo prazo. Confira!
São Paulo, 31 de julho de 2020 – Embora as falhas sejam mais frequentes a partir dos 60 anos, a queixa de falta de memória não é necessariamente sinônimo de uma doença neurológica mais grave e exclusiva aos idosos. O isolamento social imposto pela pandemia do Coronavírus tem aumentado relatos de sofrimento por depressão, ansiedade e estresse. Todos esses transtornos podem afetar ativamente a qualidade da memória da população, e mesmo com flexibilizações da quarentena, podem levar um tempo para se recuperar de tais impactos.
“Além do estresse causado pelo isolamento social, ainda persiste na população o medo de contaminação, a ansiedade em retomar as atividades, as frustrações do que ficou para trás e incertezas com relação ao futuro. São situações de nervosismo que acarretam os transtornos do humor, como ansiedade e depressão, que impactam no funcionamento da nossa memória”, explica o Dr. Diogo Haddad, neurologista e coordenador do Núcleo da Memória da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Como isso acontece?
Quando a pessoa passa por uma situação ou período constante de estresse, o sistema nervoso simpático, que prepara o organismo para reagir e suportar situações de medo, perigo, esforço psíquico e físico, libera adrenalina. Enquanto o eixo HPA (Hipotálamo-hipófise -Adrenal), um sistema neuroendócrino, libera o cortisol, conhecido como hormônio do estresse. Esses dois processos acabam influenciado no hipocampo, região responsável pela memória, que pode perder sua plasticidade, principalmente em casos de um isolamento muito severo, como em uma solitária.
“Todos esses desequilíbrios nessas regiões cerebrais acabam comprometendo o aprendizado, a retenção de novas informações e na realização das tarefas diárias. A pessoa fica mais desatenta, com sua capacidade de concentração comprometida”, comenta o neurologista.
Cuidados com a memória
Em pessoas mais velhas, e já com diagnóstico de demência, a atenção diante do isolamento devido à Covid-19 precisa ser redobrada. Além de poder ter dificuldades para lembrar dos procedimentos de segurança, como o uso de máscaras e higienização, e pouca habilidade para lidar com as ferramentas tecnológicas de comunicação, idosos com a doença podem sofrer ainda mais com o aumento dos níveis de estresse e ansiedade, piorando a doença que está em tratamento.
Para tentar amenizar os efeitos do isolamento e manter a memória firme e forte, uma alimentação saudável, boas noites de sono e práticia de atividade física são importantes para conter alterações cognitivas. Atividades simples, que ativam e estimulam o cérebro também ajudam, como leitura, jogos, escrita, começar novas atividades etc. Técnicas de redução de estresse, exercícios de relaxamento ou meditação e atendimento psicológico também são recomendados.
Mas, caso o problema persista e se torne progressivo e rotineiro, é importante procurar um especialista para um diagnóstico mais preciso. O Núcleo da Memória da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz conta com equipe multidisciplinar – neruologistas, geriatras, neuropiscólogos, terapeutas ocupacionas e fisioterapeutas, que atuam na prevenção a reabilitação cognitiva.
Exercício de respiração diafragmática que ajuda no relaxamento
Recomenda-se a realização duas vezes ao dia, ao acordar e antes de dormir,
Deite-se em una superfície reta e feche os olhos,
Imagine ter uma bexiga na boca do estômago,
Inspire contando mentalmente até três, tentando inflar a bexiga imaginária,
Solte o ar contando mentalmente até seis, imaginando um pequeno furo na bexiga,
Inicialmente repita esse exercício de respiração por dez minutos, quando já se sentir confortável, aumente a prática para 15 minutos,
Se for difícil soltar o ar contando mentalmente até seis, inicie contando até quatro, depois até cinco e finalmente até seis O importante é que a expiração seja mais prolongada que a inspiração.
Sobre o Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Fundado em 1897 por um grupo de imigrantes de língua alemã, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz é um dos maiores centros hospitalares da América Latina. Com atuação de referência em serviços de alta complexidade e ênfase em Oncologia e Doenças Digestivas, em 2020 a Instituição irá completar 123 anos. Para que os pacientes tenham acesso aos mais altos padrões de qualidade e de segurança no atendimento, atestados pela certificação da Joint Commission International (JCI) – principal agência mundial de acreditação em saúde -, o Hospital conta com um corpo clínico renomado, formado por mais de 4 mil médicos cadastrados ativos, e uma das mais qualificadas assistências do país. Sua capacidade total instalada é de 805 leitos, sendo 582 deles na saúde privada e 223 no âmbito público. Desde 2008, atua também na área pública como um dos cinco hospitais de excelência do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde.
A tecnologia está cada vez mais presente em todos os aspectos da vida social, profissional, pessoal e vem transformando, inclusive, nosso jeito de nos relacionar. Afinal, vamos mesmo precisar de um smartphone para tudo ou chegaremos ao limite da vida virtual para, enfim, retomar o contato mais humano?
Começo esta reportagem com um desafio: será que você consegue chegar ao fim do texto sem checar seu smartphone? Ainda que o “sim” como resposta possa parecer óbvio em um primeiro momento, ler uma matéria como esta pode ser um evento constantemente interrompido por distrações digitais, como notificações de e-mail, WhatsApp ou Instagram. Talvez movido por essa provocação, você siga em frente até o fim do texto sem nem tocar no aparelho. Então, vamos a um novo questionamento: tente se lembrar do último encontro que você teve, seja com um grupo de amigos, com a família ou com a parceira ou parceiro. Quantas vezes você ou seus interlocutores “saíram” da conversa para dar uma olhada na telinha? Mesmo quando achamos que estamos no controle, a influência da tecnologia em nossas vidas se dá de forma muito mais in – tensa do que nos damos conta.
Intensa a ponto de levar crianças e adolescentes para as ruas da Alemanha, em setembro do ano passado, com cartazes que diziam: “Brinquem com a gente, não com seus celulares”, em protesto contra os pais e mães que não largam o aparelho. Se a atitude dos pequenos parece exagerada, diversos estudos mostram que ela é mais do que justificada. A revista acadêmica Developmental Science divulgou recentemente uma pesquisa que aponta que crianças entre 7 meses e 2 anos são mais irritáveis e menos curiosas para explorar o mundo quando as mães ficam muito tempo no telefone. Outro estudo, conduzido pela AVG, gigante de segurança online, entrevistou 6 mil jovens entre 8 e 13 anos e mostrou que a maioria se sente desimportante quando os pais ficam no celular.
“A Pina combinou comigo e com o pai dela que, quando a gente estiver muito tempo no celular, ela pode chamar nossa atenção”
Vanessa Rozan, 38 anos
“A Pina combinou comigo e com o pai dela que, quando a gente estiver muito tempo no celular, ela pode chamar nossa atenção. Ela fala: ‘Mamãe, papai, vocês vão perder minha infância’”, conta a maquiadora Vanessa Rozan, 38 anos, sobre a filha de 7.
Para estimular a vida offline da menina, Vanessa incentiva o lado artístico dela – Pina sempre gostou de pintar, desenhar e recortar. Mas sem radicalismo: os desenhos da Netflix e os joguinhos no smartphone da mãe também têm vez. Não existe um limite de horário estabelecido por dia, mas a estratégia é sempre oferecer uma brincadeira analógica primeiro, para dar vazão às aptidões manuais de Pina. “A verdade é que nenhuma pessoa do mundo vai oferecer o tanto de possibilidades que um smartphone pode te dar. Está tudo ali, a um clique: um furo de reportagem, um meme, uma fofoca, uma série. A princípio, por impulso e adição, aquilo vai ser sempre o mais legal. Você só recebe, não precisa ceder energia nenhuma. Mas tento ensinar para a Pina que, nos relacionamentos com família e amigos, existe uma troca, você tem que se colocar, e isso é muito positivo”, diz a maquiadora, que, dona de um perfil no Instagram com mais de 1,1 milhão de seguidores, se mantém conectada o tempo todo, mas sempre vigilante ao significado dessa relação com a tecnologia.
“Ao mesmo tempo que me ajuda a resolver as burocracias do dia a dia, como chamar um motoboy para entregar algo ou fazer uma reunião por FaceTime, sei que sou refém desse negócio que está sempre na minha mão”, pondera. Outra preocupação de Vanessa, que é apresentadora do programa Esquadrão da Moda (SBT), é usar suas redes para provocar reflexões sobre feminismo, padrões de beleza e maternidade real, conteúdo que gera bastante interação com as mulheres que acompanham seu trabalho. Nos stories do Instagram, ela faz perguntas sobre os temas e compartilha as respostas das seguidoras, comentando e mostrando diferentes pontos de vista, além de reforçar que a vida que vemos nas telas nem sempre corresponde à realidade. “Às vezes, posto uma foto linda, toda maquiada, mas naquele momento estava mesmo era de cara lavada, sem ter dormido direito porque a Pina estava doente. Tento dizer isso na legenda ou nos comentários. Temos que usar a tecnologia de maneira lúcida.”
O CORPO SENTE
O abuso da tecnologia também traz consequências físicas
Dores de cabeça, tensão nos ombros e até taquicardia podem ser alguns sinais do excesso de tempo que passamos no virtual, mas a qualidade do sono é um dos maiores pontos de atenção: a luz emitida pelas telas de celulares e computadores estimula o cérebro e dificulta nosso relaxamento, além de poder causar problemas visuais se os gadgets forem usados com muita luminosidade em ambientes escuros. “Alterações bioquímicas de forma recorrente, contínua e prolongada vão, segundo alguns estudos, modificando a estrutura cerebral.
Regiões do cérebro como o giro do cíngulo, muito relacionado a questões de emoção, comportamento e relacionamento social, ficam menos ativas, como se sofressem uma atrofia, em pacientes que usam tecnologia em excesso. Isso pode levar a vários graus de entorpecimento emocional”, explica o neurologista Dr. Eli Faria Evaristo. O tratamento, nesses casos, é o acompanhamento psicológico e, se necessário, psiquiátrico. Mas existem mecanismos que podemos adotar no dia a dia para tentar reduzir esse consumo (veja boxe na pág. 22). “Tecnologia sempre vai existir e acredito que a resposta para como lidaremos com ela já está aparecendo. Cada vez mais as pessoas estão buscando se reconectar consigo mesmas, com o outro e com a natureza para resgatar essa riqueza que as relações não digitais têm”, completa o psicólogo Danilo Faleiros.
A VIDA IMITA A WEB
Além da interação com as outras pessoas, a tecnologia também vem mudando a maneira como nos relacionamos com nós mesmos. O efeito de assistir a essa vida perfeita dos outros nas redes sociais, onde só se compartilham fotos de sorrisos e conquistas, pode gerar ansiedade, irritabilidade e até sintomas de depressão. “Essa dependência também pode prejudicar nossa tomada de decisão. O smartphone oferece recompensas imediatas e isso faz com que, quando precisamos escolher algo que vai ser benéfico no médio ou longo prazo, prefiramos a gratificação instantânea, o que nem sempre é o melhor caminho”, explica o psicólogo Danilo Faleiros, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Essa dependência acontece porque receber uma curtida em uma rede social ou uma notificação de que alguém de que você gosta enviou uma mensagem é um estímulo que libera no nosso organismo serotonina e dopamina, neurotransmissores ligados a prazer e recompensa. Diversos estudos ao redor do mundo já mostram que pessoas que usam muito smartphones têm níveis aumentados dessas substâncias. Para saber se estamos pelo menos um pouquinho viciados, Danilo propõe um exercício. Você já esqueceu o celular em casa e se pegou pensando no que faria sem ele? “É assim que um fumante se sente quando esquece o cigarro. O sintoma de abstinência é muito parecido”, responde.
Ainda que não oficializado pelo Conselho Federal de Medicina, o vício em tecnologia é uma realidade já observada nos consultórios. Já existe a classificação científica de transtorno para pessoas adictas em sexo virtual ou jogos online, de acordo com a quinta edição do Manual de desordens e transtornos mentais, publicada em 2013. “Isso mostra que, com o tempo, o uso excessivo de smartphones, celulares e computadores também podem ser classificado como um transtorno médico”, completa o Dr. Eli Faria Evaristo, neurologista do Hospital.
À MODA ANTIGA
Se a ideia de futuro próximo, importante que se diga se parece assustadoramente com uma realidade como a do filme Her, de Spike Jonze, no qual, em um mundo cada vez mais digitalizado, um homem se envolve amorosamente com sua assistente virtual, vale observar que a saturação tecnológica está fazendo muita gente dar alguns bons passos para trás. Caso do próprio Vale do Silício: na meca da economia digital californiana, os barões da tecnologia estão mandando seus filhos para escolas e jardins de infância onde celulares, tablets e computadores são proibidos.
A história de Eduardo Trevisan, 28, que trabalha como brand manager no Nubank, e de seu vira-lata Pingo, de 1 ano e meio, é um exemplo mais próximo desse fenômeno de voltar às raízes. O combo rotina corrida, excesso de trabalho e morar sozinho fazia com que Eduardo se sentisse cada vez mais recluso e isolado. Quando viu Foto: Shutterstock a possibilidade de adotar um animal, entendeu que aquele poderia ser um caminho para trans – formar sua realidade. “Foi uma oportunidade de resgatar um cachorrinho e de ter uma companhia em casa. Hoje, acho que ele me ajudou muito mais do que eu a ele. Saio muito mais, encontro mais as pessoas de que gosto e vivo uma vida menos digital, já que me adapto às de – mandas do Pingo de brincar e passear”, conta.
“Não me cobro mais por ter mensagens não lidas, por não responder a todos na hora, por estar online e não estar disponível”
Eduardo Trevisan, 28 anos
Na relação entre os dois, a tecnologia está presente de uma forma que também vem se tornando comum entre os donos de pet. Eduardo tem uma câmera instalada em casa pela qual pode, em tempo real, ver e falar com Pingo. O recurso, no entanto, acaba sendo uma via de mão única, já que ele evita chamar o cachorro desde que percebeu que isso o deixava confuso e ansioso. “Isso me ajuda a cuidar dele, ver se ele está bem, e a me sentir mais próximo. Tento enxergar cada vez mais o lado funcional da tecnologia, como usá-la a nosso favor”, diz. “Tento aplicar essa lógica no trabalho também. Não me cobro mais por ter mensagens não lidas, por não responder a todos na hora, por estar online e não estar disponível. Procuro ter o meu ritmo de vida e encaixar a tecnologia dentro dele, onde cabe.”
Trabalhar desconectado, aliás, é algo que o professor João Braga, 58, faz desde que entrou para a academia. Responsável pelas disciplinas de História da Moda e História da Arte na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e na Faculdade Santa Marcelina, ambas em São Paulo, ele usava, até poucos anos atrás, retroprojetores e slides para dar aulas. “Os alunos achavam um barato, falavam que era vintage, estiloso, mas a verdade é que eu sempre fui avesso a tecnologias”, conta.
Avesso mesmo: João não tem celular se quiser falar com ele, o jeito é ligar para um telefone fixo e, caso ele não atenda, deixar um recado na secretária eletrônica. Ele sempre retorna. Internet e TV também não têm espaço na casa. Apenas um rádio, que é ligado diariamente, e uma biblioteca com mais de 20 mil títulos. O tablet chegou em 2014, presente de uma aluna, mas permaneceu dois anos e meio embrulhado no papel celofane até que o professor decidis – se abri-lo para ver fotos dos sobrinhos, que sua irmã sempre mandava.
Para se adaptar à rotina digital das faculdades, como divulgar as notas nos portais internos e montar apresentações em PowerPoint, João conta com a ajuda de colegas e alunos. Recentemente, também criou uma conta no Instagram, a pedido de seus pupilos, para divulgar os conteúdos ensinados em sala e outros materiais complementares. “Criei o ‘momento Você Sabia’ para postar curiosidades e meus alunos adoram. Mas, como não tenho internet em casa, não respondo na hora, só quando levo o tablet para algum lugar. Nasci em uma época que não tinha nada disso e não desenvolvi o hábito da tecnologia. Gosto de ficar quieto, não quero ser o primeiro a divulgar absolutamente nada e continuo vivendo. Não recrimino e não nego as facilidades da internet, mas vivo bem sem ela”, brinca.
João admite, no entanto, que vem se adaptando para se relacionar com colegas e alunos. Mas com críticas e sem muitas exceções. Por estar quase sempre desconectado, ele repara com mais facilidade quando alguém pega o celular durante um almoço ou na classe – o aparelho, é preciso deixar claro, é terminantemente proibido em suas aulas. “Minha metodologia é antiga, mas funciona. O ato de pegar o lápis e copiar da lousa estimula e ajuda no aprendizado. Também peço que os alunos ajustem a postura na hora de escrever – consciência corporal ajuda a gente a se perceber”, explica. E, sempre que pode, ele evita as apresentações digitais, que demandam apagar a luz da sala, para poder olhar para todos os alunos e responder às perguntas de cada um. “A tecnologia onipresente é um caminho sem volta, mas o contato humano é imprescindível na nossa vida. Falar com os outros usando a ponta do dedo não faz sinapses.”
“Não recrimino e não nego as facilidades da internet, mas vivo bem sem ela”
João Braga, 58 anos
MODO AVIÃO
O neurologista Dr. Eli Faria Evaristo dá três dicas para reduzir o tempo gasto no celular
TIRE AS NOTIFICAÇÕES
“Cada like ou mensagem que faz seu celular tocar ou vibrar vai liberar dopamina no organismo e isso te deixará acostumado com aquela recompensa. Sem essa sinalização, a relação com a tecnologia pode melhorar.”
DEIXE O CELULAR MENOS SEDUTOR
“Estudos sugerem que, se o fundo de tela for menos convidativo, vamos pegar o aparelho com menos frequência. Por isso, escolha imagens em preto e branco ou sem muito contraste para não incentivar o hábito.”
ESTABELEÇA HORÁRIOS PARA SE DESLIGAR
“A luminosidade atrapalha a indução do sono e isso pode trazer problemas. Então minha sugestão é, depois das 22h, por exemplo, evitar o uso de celular e preferir atividades que não envolvam telas.”
Na era dos perfis fitness nas mídias sociais, das soluções de emagrecimento massificadas e do corpo perfeito como meta de vida, a intensa jornada pela boa forma pode levar a comportamentos extremos e pouco saudáveis. Especialistas defendem que o corpo ideal é aquele que está ao nosso alcance possível.
Por Débora Rubin fotos Marcos Pacheco
A cada verão, a história se repete: a vontade de entrar em forma faz com que os brasileiros tentem, no último minuto, reverter os maus hábitos de um ano inteiro. Dietas extremas, exercícios em dobro, suplementos e pílulas mágicas de emagrecimento entram na pauta do dia e anúncios com essas soluções milagrosas aparecem em todas as mídias. Quando o inverno chega, o plano de um ano da academia é deixado de lado e os quilos extras voltam. Muitos jogam a toalha. Para uma minoria, o gostinho da vida saudável torna-se um bom hábito. Para outros, pode se transformar em uma busca incessante e perigosa para a saúde. A jornalista e empreendedora Carolina Salgado, 37 anos, sabe o que é passar desse ponto e as consequências que a chamada corpolatria nome dado ao culto exagerado ao corpo pode trazer para toda a vida. Aos 19 anos, ela entrou em um ciclo obsessivo: queria ser magra e ter um corpo malhado. Passou, então, a tomar remédio para acelerar o metabolismo e a malhar todos os dias inclusive aos domingos de duas a cinco horas por dia.
Esse padrão de vida durou quase quatro anos. Do uso do estimulante, para dar energia e inibir o apetite, Carolina herdou crises de pânico. Do excesso de exercício, uma luxação na patela que a incomoda até hoje, 15 anos mais tarde. “Logo depois engravidei e fiquei muito tempo sem fazer exercício físico”, conta. “Voltei a treinar só após um longo período, mas tive que escolher atividades de menor impacto por causa do joelho.” Olhando para o passado com a devida distância, Carolina entende hoje que a obsessão com o corpo escondia diversas outras questões. Depois de viver com a mãe por toda a vida, ela tinha ido morar com pai, que era ausente. Para a jornalista, a solidão e a responsabilidade por si própria contribuíram para essa escolha. Naquele tempo, em que sua dieta era à base de barra de proteína e vitamina com leite desnatado, quando os resultados começaram a aparecer, ela continuava insatisfeita e seguia na malhação pesada. “Parecia que eu tinha sido abduzida”, recorda.
ESPELHOS DIGITAIS
Carolina viveu a paranoia em um tempo em que ainda não existiam as redes sociais. A TV e as revistas, no entanto, já cumpriam esse papel de manual do que as pessoas em especial as mulheres deveriam (ou ao menos deveriam querer) ser. Mas a situação piorou. “A internet democratizou a pressão pela busca do corpo perfeito”, diz a psicóloga Joana de Vilhena Novaes. Há mais de 20 anos pesquisando o tema, a professora da PUC-Rio, onde é coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza, explica que, com o Facebook e o Instagram, as pessoas passaram do papel de observadoras e admiradoras de celebridades para protagonistas. “Não se cobra mais que você siga a dieta da estrela da TV que saiu na capa da revista. Agora você tem que ser a estrela da sua rede e postar suas fotos fitness.” A massificação da exposição acirrou a necessidade de ser belo. O corpo, mais que nunca, tornou-se um capital, conceito usado por Joana. “A mensagem que fica é: só é feio quem quer ou você só é gordo porque não gerencia bem seu próprio corpo”, diz. “O que é bem perverso porque os corpos são muito diferentes entre si e, no caso da obesidade, por exemplo, os profissionais de saúde sabem que ela é multifatorial.” Quanto mais se cobra um corpo perfeito, mais a obesidade se torna uma epidemia um dos paradoxos dos tempos atuais. “Mais de 50% da população está com sobrepeso”, destaca a Dra. Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A médica tem um hábito curioso: entrar em anúncios de remédios milagrosos e suspeitos nas redes sociais para ver quantas pessoas curtem e comentam. “É espantoso, vejo um monte de gente marcando outras pessoas”, conta. No dia a dia, em seu consultório, ela conta que recebe pacientes que também buscam soluções rápidas para emagrecer. A psicóloga Graça Maria de Carvalho Câmara, também do Hospital, sabe bem do que a Dra. Tarissa está falando. São anos lidando com pacientes que já tentaram de tudo e estão cansados da eterna pressão do verão: dietas da moda, remédios sem credibilidade, entre outros. “Fora o clássico: estou sem comer faz três dias e não emagreço”, diz a psicóloga. A busca pelo corpo perfeito, nas mãos de profissionais como Tarissa e Graça, vira a busca pelo corpo possível, com direito a escuta, acolhimento e ajuda no caminho do autoconhecimento. E vale anotar: a dobradinha clássica alimentação saudável e atividade física segue sendo imbatível.
BELEZA NA PONTA DA FACA
O Brasil é conhecido como o segundo país que mais faz intervenções cirúrgicas estéticas no corpo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Um levantamento divulgado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2018, aponta um crescimento de 8% em cirurgias estéticas e de 390% em técnicas menos invasivas, como aplicação de toxina botulínica o famoso botox e preenchimentos de modo geral. Esses últimos representam quase a metade dos procedimentos. As mulheres são a maioria desse público. Viviane Angélica Mol, 31 anos, analista de seguros, é uma das brasileiras que optaram por, usando o jargão popular, entrar na faca. Frustrada por não conseguir perder a barriga, fruto de duas gestações, com dieta e academia, decidiu encarar a abdominoplastia e sonhava, em seguida, com uma lipoaspiração. Com 1,58 metro e 62 quilos, ela não tinha com o que se preocupar o IMC (índice de massa corporal) estava dentro do considerado saudável e não havia outros problemas de saúde como colesterol alto ou diabetes.
Era uma questão puramente estética, mas mexia com a autoestima e Viviane achou que era hora de encarar a cirurgia. “O médico acabou me convencendo a fazer ‘dois em um’ e mexer também no seio por um bom preço”, conta ela. O resultado agradou, mas trouxe outras questões. “Tenho sentimentos conflitantes: por um lado, fiquei feliz de me ver livre da barriga, por outro, olho para a cicatriz e sinto que tirei uma parte da minha história, da pós-gravidez”, diz. Isso sem contar os efeitos colaterais: ela ganhou um inchaço incômodo que ainda está sendo investigado e o peso, ao contrário de baixar, subiu mais três números no ponteiro da balança. Viviane ia fazer a lipoaspiração, mas desistiu. Segue na reeducação alimentar e na academia todos os dias. “A cirurgia plástica não é algo simples, deve ser pensada com calma e muito conversada com o profissional que fará o procedimento”, recomenda o Dr. Carlos Alberto Komatsu, cirurgião plástico que atende no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Todo o cuidado se justifica: o paciente precisa estar ciente dos riscos e da real necessidade da cirurgia ainda que seja para elevar a autoestima, o que não é pouca coisa. “Se algo está incomodando e impedindo a pessoa de viver sua plenitude, a cirurgia pode ser simples, mas causa um efeito enorme na vida dela”, defende o Dr. Komatsu.
FELIZ CORPO NOVO
Cada corpo é único, e é esse o olhar da Dra. Tarissa e da psicóloga Graça no Centro Especializado em Obesidade e Diabetes. Mas alguns balizadores são fundamentais na análise médica. “Sobrepeso, colesterol e diabetes são indícios que precisam ser avaliados com muita atenção”, diz a endocrinologista. “No entanto, há muita gente com sobrepeso que está com a saúde boa. Nesses casos, vale olhar como a gordura está distribuída pelo corpo porque é a visceral, a do abdômen, a que mais preocupa.” A maior parte dos pacientes atendidos no Centro tem entre 35 e 60 anos, mas um público crescente desperta a atenção das profissionais: os adolescentes. Com o corpo ainda em formação, correm mais riscos quando tomam pílulas com substâncias desconhecidas, hormônios, e fazem treinos forçados. “Hormônios podem fazer o eixo hormonal parar de funcionar, e o corpo entende que não é preciso mais fabricá-los. No caso dos homens, por exemplo, pode acontecer de parar de produzir testosterona e passar a fabricar estrogênio, desenvolvendo mamas”, explica a Dra. Tarissa. Para Graça, é muito importante, ao longo do processo terapêutico, entender o momento de aceitação de si próprio e os limites que cada um tem. Para isso, ela trabalha com etapas, tarefas, mudanças gradativas e muita paciência. “Não falamos em quilos, mas em montagem de prato, em escolhas, no prazer da atividade física e nas pequenas mudanças de hábito.” É um processo de desconstrução de que o corpo magro é o único saudável, e que a perda de peso gradual já pode promover muito mais qualidade de vida. Emagrecer traz bem-estar, energia e ajuda a reduzir as doenças associadas. Não há nada de errado em tentar ser uma pessoa mais saudável, o problema é quando saúde vira sinônimo de beleza. “Ao fundir os dois conceitos, temos uma série de problemas, entre eles o fato de que os próprios indicadores do que é saudável mudam. Quarenta anos atrás, uma pessoa com hábitos muito obsessivos poderia ser diagnosticada com algum tipo de transtorno de ordem psíquica. Hoje, ela é considerada um modelo a ser seguido”, explica a psicóloga Joana, da PUC-Rio. Toda essa pressão pesa muitas toneladas a mais nas costas das mulheres são elas as principais consumidoras de dietas milagrosas, de revistas com dicas fitness e das cirurgias. Isso porque, segundo Joana, a beleza faz parte da questão identitária social da mulher: ser bela é um atributo. Claro, os homens não estão livres dos julgamentos sociais e muitos sobem na esteira literalmente da eterna busca pelo corpão. Mas, sem dúvida, a cobrança que eles sofrem é bem menor.
O consultor de TI Pedro Bressan, 30 anos, conta que sua vontade de ter uma vida mais saudável e se livrar de uma incômoda barriguinha veio de dentro, e não da pressão externa para ser magro e forte. “Não cheguei a ficar gordo, mas senti que estava barrigudo e sem energia para jogar bola”, diz ele, que criou uma rotina de atividade física e dieta balanceada aos 20 e poucos anos quando percebeu que estava se deixando levar pela sedentária e baladeira vida universitária. Praticante de crossfit, tênis, pilates e escaladas eventuais nos fins de semana, Pedro fez de tudo um pouco até achar os exercícios ideais. No início da transformação, consultou uma nutricionista que realizou o sonho de toda a vida de sua mãe: ensinou-o a comer salada. Hoje, ele leva marmita para o trabalho, reduziu o consumo de álcool, mas não abre mão da vida social. “Deixo para fazer um almoço ou jantar mais exagerado quando vou sair, encontrar amigos.” Foi fácil? “Não, em especial a parte da alimentação, mas, quando vira hábito, é difícil mudar”, diz ele, que não almeja virar o marombeiro da academia, mas também não quer mais ser o primeiro a se cansar na pelada com os amigos. Nada como seguir o caminho do equilíbrio.
QUANDO O EXCESSO DE SAÚDE VIRA DOENÇA
A obsessão por só se alimentar de forma saudável o tempo todo tem nome: ortorexia. E pode virar uma doença quando começa a comprometer a vida social e, principalmente, a saúde: a pessoa prefere não comer a consumir algo que não considera saudável. Isso pode levar a uma deficiência de nutrientes e, em consequência, à anemia e a doenças mais graves.
AS REGRAS DO CORPO SAUDÁVEL
Ter uma alimentação balanceada a maior parte do tempo, ou seja, a que inclui um equilíbrio de proteína, carboidrato e todos os nutrientes necessário
Dizer não ao sedentarismo: não passar muitas horas sentado e praticar atividade física são fundamentais para manter o peso dentro do ideal e a energia em dia
Conhecer bem o próprio corpo: entender que os biotipos são diferentes e que nem todo mundo vai ser magro ou forte é importante para evitar frustrações com dietas e exercícios
Conhecer bem a si mesmo: às vezes não é o corpo que é o problema, mas outras questões psicológicas que foram negligenciadas
Cultivar uma rotina equilibrada: dormir bem, ter atividades de lazer e não se martirizar quando quebrar a dieta ou faltar à academia
São Paulo, 30 de outubro de 2018 – O adiantamento do relógio em uma hora não é consenso na sociedade. Há aqueles que privilegiam as vantagens e outros as desvantagens. O Horário de Verão, comumente iniciado no final do mês de outubro, foi postergado este ano para o dia 4 de novembro.
No dia 20 de outubro, alguns relógios sofreram a modificação automaticamente, o que deixou as pessoas confusas quanto a mudança. Se até os relógios esse ano não se adaptaram, o mesmo ocorre com o organismo por conta do adiantamento repentino.
A vantagem mais destacada é a duração prolongada da luz do dia, dando a sensação de dias mais longos. Já a desvantagem salientada é a dificuldade de adaptação do sono e de acordar em períodos matutinos, quando ainda o céu está muito escuro.
De acordo com o Dr. Leonardo Victor Barbosa Pereira, Clínico Geral da Unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alterações provocadas em determinadas regiões do cérebro tornam mais difíceis os primeiros dias. “A mudança de horário gera dificuldades na adaptação devido à alteração do “relógio biológico”, que corresponde às regiões do cérebro que controlam o sono, disposição, fome e humor, funções básicas para as rotinas de vida e relacionamentos”.
Sonolência durante o dia, dores de cabeça, náuseas, irritabilidade, diminuição de produtividade no trabalho e aumento na sensação de fome são os principais efeitos sentidos pelo organismo. Em média, após uma semana esses sintomas tendem a cessar.
Em 2008, uma equipe de pesquisadores suecos constatou por meio de um estudo o aumento de 5% nos índices de ocorrências de ataques cardíacos em relação a outras épocas do ano durante as três semanas posteriores ao início do Horário de Verão. Outro estudo publicado no New England Journal of Medicine aponta que esse acréscimo nos registros de acidentes cardiovasculares pode ser associado às mudanças nos padrões. Há também relatos de aumento na incidência de acidentes de trabalho devido a desatenção e sonolência.
Com o objetivo de minimizar as sensações adversas, o Clínico Geral indica algumas medidas. “Deve-se evitar mudanças bruscas na rotina do sono e na rotina diária e progressivamente dormir mais cedo nos primeiros dias. É importante manter uma ingestão de líquidos adequada e efetuar refeições equilibradas com alimentos de mais fácil digestão como frutas, legumes e hortaliças. A prática de atividades físicas deve ser priorizada no período da manhã, duas horas depois de acordar. Se a única opção for à noite, dê preferência a caminhadas e corridas leves”, explica o especialista.
O excesso de cafeína, álcool, energéticos e outros estimulantes que possam gerar insônia não são recomendados, assim como o uso de medicações que provocam sono ou tranquilizantes sem orientação médica.
Crianças e idosos sofrem mais com o início do Horário de Verão. As crianças pela maior necessidade de sono devido ao grande gasto de energia durante o dia e os idosos pela maior fragilidade do sono e pela sensibilidade maior do “relógio biológico”.
Com duração de cerca de três meses e meio, em fevereiro de 2019 os relógios retornam ao horário normal. De maneira lenta e progressiva as atividades podem ser retomadas, respeitando as oito horas de sono recomendadas e mantendo uma hidratação adequada e uma dieta balanceada. Segundo o Dr. Leonardo Victor Barbosa Pereira, é importante manter o quarto bem escuro no momento em que for deitar para garantir a produção do hormônio indutor de sono, a melatonina, produzida pela glândula pineal.
Sobre o Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Fundado por um grupo de imigrantes de língua alemã, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz é um dos maiores centros hospitalares da América Latina. Com atuação de referência em serviços de alta complexidade e ênfase nas especialidades de oncologia e doenças digestivas, a Instituição completou 121 anos em 2018. Para que os pacientes tenham acesso aos mais altos padrões de qualidade e de segurança no atendimento, atestados pela certificação da Joint Commission International (JCI) – principal agência mundial de acreditação em saúde –, o Hospital conta com um corpo clínico renomado, formado por mais de 3.900 médicos cadastrados ativos, e uma das mais qualificadas assistências do país. Sua capacidade total instalada é de 805 leitos, sendo 582 deles na saúde privada e 223 no âmbito público. Desde 2008, atua também na área pública como um dos cinco hospitais de excelência do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde.