Vício em Apostas: Quando o jogo se torna uma prisão

Cerca de 3 milhões de brasileiros sofrem atualmente com vício em apostas, também conhecido como ludopatia, um transtorno de saúde mental sério, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2018. O tema, que inclusive se tornou pauta de CPI no Brasil, segue em evidência, mas ainda é pouco falado quando se trata de saúde pública e saúde mental.

Inicialmente, as apostas começam com valores baixos e promessas de grandes retornos, evoluindo eventualmente para apostas maiores, com perdas mais excessivas. Isso se agrava com a atuação de casas de apostas virtuais, que investem pesado em publicidade, patrocínios e influenciadores digitais, reforçando a ideia de que apostar é divertido, trazendo consigo um senso de imensa satisfação. Essa narrativa esconde os riscos, os impactos na saúde mental e as consequências sociais do vício.

Dr. Alaor

Apesar do tema parecer uma brincadeira, o assunto é sério! Sendo uma doença que atinge diversas faixas etárias, classes sociais e que está ganhando espaço na vida das pessoas. Para esclarecer sobre o assunto, falamos com Dr Alaor Carlos de Oliveira Neto, Head do Serviço de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Confira a entrevista!

Dr. Alaor Carlos de Oliveira Neto,
Head do Serviço de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

O que leva alguém a perceber o vício de maneira consciente?

O vício se torna consciente quando as consequências negativas sobrepujam as vivências positivas de forma significativa, é quando o vício começa a gerar problemas tangíveis e dolorosos na vida da pessoa e a negação da existência do problema se torna mais difícil de sustentar para si e, principalmente, para terceiros – perda de emprego, dívidas acumuladas, falência econômica devido aos gastos com apostas, conflitos com familiares, afastamento de pessoas importantes em sua vida etc.

Qual o primeiro passo na busca de um tratamento para o vício em apostas?

Às vezes, ocorre um evento específico ou uma reflexão repentina que funciona como um “estalo”, um momento de clareza em que a pessoa finalmente enxerga o vício pelo que ele é e as consequências que ele está causando. É justamente neste momento que a pessoa precisa procurar ajuda. Reconhecer o vício é um passo crucial e muitas vezes o mais difícil para iniciar o processo de recuperação. É um momento de grande potencial para a mudança e para a busca de uma vida mais saudável e plena. Haverá sempre uma mão estendida de apoio a quem procurar genuinamente ajuda.

Refletir, reconhecer e buscar ajuda são os primeiros passos para quebrar esse ciclo?

O vício em apostas não é falta de força de vontade, não é fraqueza, e muito menos brincadeira. É uma doença séria, com impactos profundos na saúde mental, nas finanças e nas relações. O tratamento é possível, e a recuperação começa com informação, apoio e acompanhamento profissional. Falar sobre o tema é essencial, combater o estigma é urgente, e se cuidar nunca foi tão necessário.

Existe uma maneira saudável de desfrutar de apostas?

Sempre haverá um risco inerente ao ato de apostar e a forma ideal de alguém se propor a este tipo de atividade seria definindo antecipadamente um valor máximo a ser gasto por dia, semana ou mês, e aderir a esses limites sem exceção. Isso inclui não tentar “recuperar” perdas com apostas adicionais. Além disso encarar as apostas como uma forma de entretenimento com um custo potencial, similar a ir ao cinema ou comprar um jogo, e não como uma fonte de renda ou solução para problemas financeiros e, principalmente, compreender os mecanismos por trás dos jogos de azar e as probabilidades SEMPRE desfavoráveis ao jogador no longo prazo.

Nos últimos cinco anos, observa-se um aumento no número de pacientes que apresentam algum grau de vício em apostas virtuais. Acredita que a pandemia e a “praticidade” de se realizar apostas facilmente na palma da mão interferiu neste aumento?

Sim. A acessibilidade e disponibilidade tornam o comportamento dependente mais recorrente. O fato de estarem disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, no conforto de casa ou em qualquer lugar com acesso à internet facilita a frequência e a intensidade das apostas. Além disso o ambiente online pode gerar uma sensação de impunidade e dificultar a percepção das consequências do comportamento. A grande variedade de jogos e a rapidez com que as apostas podem ser feitas e os resultados obtidos intensificam a impulsividade.

Reconhecer que algo não vai bem, que as apostas tem tomado muito espaço em sua vida, afetando suas relações e finanças, é o primeiro passo na busca de um tratamento. A saúde mental importa, e cuidar dela faz toda a diferença no seu bem-estar e na sua qualidade de vida. Sempre há um caminho possível, e sempre haverá profissionais prontos para te acolher e te ajudar no tratamento.

Psiquiatria Saúde mental Texto

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