Urologista e cirurgião de redesignação sexual e afirmação de gênero do Hospital fala da importância do procedimento para pessoas transgênero
São Paulo, 28 de junho de 2024 – Neste mês do Orgulho LGBTQIAPN+ aproveitamos para tratar de um assunto de suma importância para a população transgênero. A cirurgia de redesignação sexual é um procedimento complexo que visa melhorar a qualidade de vida e alinhar o corpo de pessoas transgênero com sua identidade de gênero.
A grande e principal indicação para este procedimento é a disforia de gênero, que indica um desconforto significativo com a genitália atual.
Esta avaliação é realizada por uma equipe multiprofissional, composta por psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, urologistas, cirurgiões plásticos, ginecologistas, entre outros especialistas.
No Brasil, é exigido um acompanhamento mínimo de um ano antes da cirurgia, durante o qual a equipe multiprofissional avalia a saúde física e mental do paciente, garantindo que ele esteja em condições adequadas para a realização do procedimento. Doenças pré-existentes, como hipertensão arterial e diabetes, devem ser controladas antes do procedimento cirúrgico.
“A cirurgia de redesignação sexual é um tratamento muito eficaz e que melhora muito a qualidade de vida de pessoas trans que apresentam disforia de gênero com a sua genitália, ou seja, pessoas que apresentam sofrimento, um desconforto importante que afete a sua funcionalidade relacionado à presença de genitais que não são coincidentes com o seu gênero de identificação”, explicou o urologista e cirurgião especialista em redesignação sexual e afirmação de gênero do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Thiago Caetano.
É essencial destacar que a cirurgia de redesignação sexual não é um procedimento estético, lembra o especialista, mas sim uma intervenção médica destinada a reduzir o sofrimento causado pela disforia de gênero. Reconhecer a importância do procedimento é fundamental para combater o preconceito e a discriminação enfrentados pela comunidade transgênero.
“É importante conscientizar a sociedade de que não se trata de um procedimento estético ou superficial. É uma cirurgia que melhora a forma como essa pessoa vive e a funcionalidade dessa pessoa na sua vida como um todo”, afirmou o especialista.
Existem dois tipos principais de cirurgia de redesignação sexual: feminizante e masculinizante. A primeira visa transformar uma genitália originalmente masculina em feminina, enquanto a segunda faz o oposto.
No entanto, o urologista explica, antes da cirurgia, os pacientes são submetidos a exames que variam de acordo com sua condição de saúde.
Pacientes jovens e saudáveis podem precisar apenas de exames de sangue simples e avaliações cardíacas básicas, enquanto aqueles com condições médicas pré-existentes podem necessitar de exames mais detalhados.
Embora a cirurgia de redesignação sexual possa trazer melhorias significativas na qualidade de vida, é importante estar ciente das possíveis complicações, como infecções pós-operatórias e abertura de pontos. No entanto, complicações mais graves, como trombose, são raras. O acompanhamento pós cirúrgico dura no mínimo seis meses, diz Caetano.
“A recuperação da cirurgia para as mulheres é demorada e envolve cuidados em geral com a região operada, como higiene e repouso, e a necessidade de dilatação do canal vaginal. A dilatação vai fazer o canal que foi recém-criado, ganhar e manter as suas dimensões. O acompanhamento pós-operatório é de extrema importância, deve ser realizado de perto pelas equipes médica e assistencial.
Já a redesignação sexual masculinizante envolve cuidados intensivos para assegurar a recuperação adequada. Inclui gestão da dor e cuidados com os ferimentos cirúrgicos, especialmente com o neofalo criado. A reabilitação pode envolver fisioterapia e acompanhamento psicológico. É crucial seguir todas as recomendações médicas para evitar complicações e promover uma recuperação saudável e segura.
Segundo o especialista, para muitas pessoas transgênero, a cirurgia de redesignação sexual é uma etapa crucial em sua jornada para viver de acordo com sua identidade de gênero.
“É de suma importância promover o acesso equitativo a esses procedimentos e combater o estigma em torno da cirurgia, reconhecendo sua importância na promoção da saúde e bem-estar das pessoas transgênero”, conclui o médico.
Letramento LGBT: saúde e inclusão
Em meio aos avanços da sociedade em direção à inclusão e respeito à diversidade, o letramento LGBT surge como uma ferramenta importante para promover um ambiente de saúde mais acolhedor e inclusivo, especialmente nos espaços hospitalares.
Dentro do Programa de Diversidade e Inclusão do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, desde 2023 foram criados grupos de afinidades de diferentes áreas, um deles é focado para funcionários e pacientes LGBT. Os grupos de afinidade têm um espaço dedicado ao fortalecimento mútuo, promovendo o compartilhamento de experiências, valorização das singularidades, aprendizado e criar um ambiente seguro para esse público.
“O treinamento de competências culturais é uma parte essencial do letramento LGBT. Ele visa não apenas ensinar sobre as especificidades dessa população, mas também sobre como tratá-los com dignidade e respeito. Afinal, o objetivo é criar um ambiente que seja acolhedor e seguro para todos, independentemente da sua orientação sexual ou identidade de gênero” diz o especialista.
O letramento vai além do simples conhecimento, se trata de uma conscientização que busca educar indivíduos e comunidades sobre as questões relacionadas à diversidade sexual e de gênero.
O urologista, explica que, em ambientes de saúde, a importância do letramento ocorre em fornecer um cuidado mais sensível e eficaz às pessoas LGBT.
“Ainda existem diversas barreiras que dificultam o acesso a um atendimento de qualidade para essa população, como a falta de conhecimento sobre questões específicas relacionadas à diversidade de gênero e orientação sexual”, afirmou o especialista.
Dela, Dele
Um dos aspectos cruciais do letramento LGBT é o uso adequado de pronomes. O emprego incorreto pode gerar desconforto e invalidar a identidade da pessoa, contribuindo para a sua marginalização.
“É essencial que profissionais de saúde estejam familiarizados com o uso correto dos pronomes e saibam como respeitar a identidade de gênero de cada paciente”, enfatiza o urologista.
Além disso, questões administrativas também entram em jogo no processo de letramento LGBT. A adequação de formulários e documentos para que sejam mais inclusivos, deixando de lado a binaridade de gênero e incorporando espaços para a autoidentificação do paciente, é uma medida fundamental para garantir que todos se sintam reconhecidos e respeitados nos ambientes de saúde.