Peixe em vez de carne pode evitar morte precoce

Data: 10/04/2024 Publicado em: EM.COM.BR/BELO HORIZONTE

Trocar a carne vermelha por peixes forrageiros marinhos — espécies pequenas que servem de alimento para aquelas de criadouro — pode evitar 750 mil mortes prematuras por ano até 2050, diz um estudo publicado na revista British Medical Journal Global Health. Segundo os autores, adotar uma dieta em que a principal fonte proteica são a sardinha, o arenque e a anchova, por exemplo, pode “reduzir significativamente a prevalência de incapacidades resultantes de doenças relacionadas com a alimentação”.

A pesquisa, do Instituto Nacional de Estudos Ambientais, no Japão, ressalta que, especialmente nos países de baixa renda e em desenvolvimento, esses peixes são baratos e abundantes. Além disso, devido ao aumento de consumo de alimentos ultraprocessados, a população dessas regiões têm sofrido um forte impacto das doenças cardiovasculares.

Consumo de carne bovina: alimentação sem carne vermelha merece atenção

“Cada vez mais evidências associam o consumo de carne vermelha e processada a riscos aumentados de doenças não transmissíveis, que foram responsáveis por cerca de 70% de todas as mortes mundiais em 2019”, disse, em nota, o epidemiologista Shujuan Xia, principal autor do artigo. “Desses óbitos, as doenças coronárias, os acidentes vasculares cerebrais, a diabetes e o câncer do intestino representaram quase metade (44%).”

Na terceira idade, carne vermelha é perigo para o coração

Ácidos graxos

“Peixes como sardinha contêm gorduras insaturadas, consideradas boas por proteger a saúde cardiovascular e reduzir o risco de desenvolvimento de vários tipos de câncer”, explica a nutricionista clínica Juliana Vieira, de São Paulo, acrescentando salmão e atum à lista. “Essa propriedade se deve à presença dos ácidos graxos ômega-3, que combatem e previnem a atividade inflamatória, um forte fator de risco para tumores malignos. A carne vermelha é rica em gorduras saturadas e favorece a inflamação, por isso, o excesso deve ser evitado”, ensina.

Além das propriedades de proteção cardiovascular, peixes forrageiros marinhos são abundantes em cálcio e vitamina B12, destaca o estudo publicado ontem. Além disso, têm a pegada de carbono mais baixa do que qualquer outra fonte animal, com menos emissão de gases de efeito estufa.

Para entender o impacto da substituição de proteína na dieta, os pesquisadores criaram quatro cenários, baseados em dados sobre a projeção do consumo de carne vermelha em 2050, incluindo o Brasil, e de captura de peixes forrageiros marinhos. Os modelos variaram progressivamente quanto à quantidade de calorias provenientes da pesca, em substituição a outras fontes animais, sendo que o primeiro prevê prioridade aos pescados e o último um consumo equilibrado.

Renda

A análise mostrou que, no primeiro cenário, a adoção de uma dieta prioritariamente composta por peixes forrageiros poderia “proporcionar benefícios substanciais à saúde pública, particularmente em termos de redução da ocorrência de doenças coronarianas”. Nos países com menor consumo de pescado, especialmente nos de renda baixa e média, o fardo dessas enfermidades seria reduzido substancialmente, mostra a pesquisa.

Globalmente, caso os países priorizassem o abastecimento interno com peixes forrageiros e estimulassem essa fonte de proteína em substituição ao gado, aos ovinos e aos caprinos, entre 500 mil e 700 mil mortes por doenças relacionadas à alimentação seriam evitadas por ano, até 2050. Além disso, a mudança no cardápio poderia evitar 15 milhões de anos vividos com deficiências associadas à dieta.

No Brasil, país onde o consumo de carne vermelha é considerado alto, 34% de óbitos prematuros relacionados à alimentação, especialmente por doenças cardiovasculares, diabetes e câncer colorretal, poderiam ser evitados, diz o estudo. Os autores recomendam uma agenda nutricional no Hemisfério Sul que priorize a alimentação à base de peixes forrageiros, especialmente aqueles mais abundantes local e nacionalmente.

Dieta mediterrânea

Para os países sem litoral e sem acesso direto aos produtos marinhos, como algumas nações africanas, a Mongólia e o Turquemenistão, o comércio global de peixe forrageiro precisaria de ser expandidos, diz a pesquisa. Os autores também defendem estratégias como informação sobre o impacto da carne vermelha nas mudanças climáticas nas embalagens desses produtos, assim como a educação dos consumidores sobre o elevado valor nutricional — e o baixo nível de químicos — desse tipo de pescada.

“A oferta limitada de peixe forrageiro não é suficiente para substituir toda a carne vermelha”, reconhecem os autores. “Mas aumentar o consumo diário per capita de peixe para perto do nível recomendado de 40 kcal, na maioria dos países, poderia reduzir mortes por doenças coronarianas, acidentes vasculares cerebrais, diabetes e câncer do intestino em 2% em 2050”, defendem.

Os autores também destacam que, nos países com baixo consumo de peixe, o estímulo à adoção de uma dieta no estilo mediterrâneo pode apresentar bons resultados no combate às doenças relacionadas à alimentação.

“É possível que populações não mediterrâneas adotem esse estilo de vida e conquistem seus benefícios com produtos disponíveis localmente e em seus próprios contextos culturais e sociais”, destaca a pesquisadora Caroline Reigada, especialista em medicina interna e nefrologia no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Além de evitar a carne vermelha e priorizar o peixe como fonte de proteína animal, a alimentação mediterrânea caracteriza-se pelo alto consumo de frutas, verduras, legumes, cereais e leguminosas.

Você tem várias formas de agendar consultas e exames:

AGENDE POR MENSAGEM:

WhatsApp

Agende sua consulta ou exame:

Agende online
QR Code Agende sua consulta ou exame

Agende pelo app meu oswaldo cruz

App Meu Oswaldo Cruz disponível no Google Play App Meu Oswaldo Cruz disponível na App Store