Demência senil não existe e é importante você nunca se esquecer disso

Data: 17/05/2022 Publicado em: UOL VIVA BEM/UOL/SÃO PAULO

“Não existe demência senil, não existe demência senil, não existe…”— no desenho que o neurologista Diogo Haddad Santos projeta para seus alunos na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o personagem Bart, filho mais velho da família Simpson no desenho criado pelo cartunista americano Matt Groening, copia a frase diversas vezes. E é preciso mesmo que ela entre na cabeça — e não só na dos futuros médicos na sala de aula.

“Envelhecer não é doença e o esperado é que o cérebro mantenha a sua funcionalidade, organizando as ideias e preservando a autonomia, mesmo que o indivíduo tenha 90, 95, 100 anos”, garante o professor. “Claro, dentro de parâmetros normais para aquela idade”, completa.

Ao ouvir isso, questiono: mas o que seria normal? “Depende um pouco do quanto a pessoa usou o seu cérebro ao longo da vida e há também um pouco de subjetividade, isto é, das expectativas de cada um”, responde o médico que, então, me conta uma história bastante emblemática. Aconteceu no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, onde ele é o coordenador do Núcleo de Memória.

O senhor, de mais de seus 90 anos, estava aflito. “Acho que estou com Alzheimer”, queixava-se com eloquência. Ele ainda estava na ativa profissionalmente e cuidando de uma firma com algumas dezenas de colaboradores. Aflito, já não se lembrava de tudo o que estava acontecendo no escritório.

Diogo Haddad então lhe disse que, claro, ele faria exames e que, sim, diante dos resultados seriam indicadas melhores estratégias de reabilitação para o seu caso. Mas disparou a seguinte pergunta: “O senhor pratica corrida?” Nesse instante, o sujeito à sua frente arregalou os olhos sem entender nada. “Como sabe, pessoas saudáveis na sua idade conseguem andar, mas já não têm força para uma corrida e certamente não cobram isso dos seus músculos. É a mesma coisa: por que está cobrando o equivalente a uma maratona do seu cérebro?”.

A comparação é excelente para a gente entender o envelhecimento cerebral normal, como o daquele paciente — que, aliás, continua com a cabeça tinindo, mas agora com o bom senso de não forçá-la a controlar as informações diárias do escritório, poupando-a para decisões mais estratégicas, onde a tal da experiência conta um bocado.

O fato é que existem extremos, que Diogo Haddad conhece bem, atendendo pacientes da rede pública na Santa Casa e particular, no Oswaldo Cruz. Na rede pública, em especial, muitos indivíduos chegam em estágios bastante avançados de demências, quando já há menos o que se fazer — o que é pena, porque hoje há algumas boas possibilidades terapêuticas para frear a velocidade com que avançam.

Já no consultório privado, é mais frequente encontrar gente que estranha os primeiros sinais de que a memória já não anda a mesma. Ainda assim, são menos casos do que Diogo Haddad e seus colegas gostariam de encontrar.

“Há dois principais motivos para isso”, nota o médico. “Um deles é que, em português, o termo demência assusta ainda mais do que lá fora, por ser carregado de preconceito.” Ele lembra que, por aqui, a palavra demente soa como o nome que se dá ao portador de uma doença neurogenerativa, mas é usado até como xingamento. Tanto que toma o cuidado de evitar pronunciar que males como Alzheimer é uma forma de demência — e é.

Assim como essa doença que provoca paulatinamente um apagão nas lembranças, existe a demência frontotemporal ou simplesmente DFT e a demência de corpos de Lewi, para citar os tipos mais comuns na nossa população. Sem contar as afasias progressivas primárias, que afetam a linguagem, mas que, adianto, no fundo são formas ou do Alzheimer ou do DFT.

“Nos últimos tempos, aprendemos que existem subtipos de cada uma das formas de demência e não duvido que, em dez anos, o que hoje chamamos só de Alzheimer, por exemplo, se desdobrará em vários nomes”, aposta o neurologista. Só um deles, nesta altura já sabe, deve ser apagado da nossa memória — demência senil. Porque não existe.

Você tem várias formas de agendar consultas e exames:

AGENDE POR MENSAGEM:

WhatsApp

Agende sua consulta ou exame:

Agende online
QR Code Agende sua consulta ou exame

Agende pelo app meu oswaldo cruz

App Meu Oswaldo Cruz disponível no Google Play App Meu Oswaldo Cruz disponível na App Store