A estação mais quente do ano chegou e, com ela, algumas doenças. Assim como boa parte dos humanos, os micróbios gostam de temperaturas altas. O calor e a umidade favorecem a proliferação de micro-organismos como vírus, bactérias, protozoários e fungos.
No verão, a aglomeração de pessoas em áreas externas, muitas vezes sem proteção adequada, é um prato cheio para quadros como insolação e desidratação. Ao mesmo tempo, o aumento das chuvas — como acontece em boa parte do país nessa época do ano — aumenta a proliferação de mosquitos que causam doenças potencialmente graves. Conheça condições comuns nessa e como evitá-las.
Desidratação
“A desidratação é, disparado, a doença que mais aumenta durante o calor”, afirma Sara Mohrbacher, clínica geral do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. O principal sinal de que você não está bebendo água suficiente é a urina escura. Quando a pessoa não está bem hidratada, o rim começa a concentrar a xixi para, assim, economizar água.
Ficar atenta aos avisos que o corpo manda, como sede, tontura e pele e boca seca, ajuda a evitar o problema. A tontura, em especial, pode ser um alerta de uma desidratação mais severa.
Para prevenir o quadro, é importante tomar bastante água, consumir alimentos ricos no líquido, como frutas, e evitar bebidas que desidratam, tipo o álcool. Além disso, recomenda-se permanecer em locais frescos, arejados e sombreados.
Insolação
Quando o calor é extenuante demais, o corpo pode não conseguir se resfriar para manter uma temperatura adequada. Existem alguns mecanismos de resfriamento do organismo, sendo o principal deles o suor.
A insolação pode ser grave e até mesmo fatal, por isso requer atendimento médico imediato diante dos sintomas, que incluem: dor de cabeça, tontura, náusea, pele quente e seca, temperatura elevada, palpitação e confusão mental.
A dica é não ficar muito tempo exposta ao sol, principalmente sem protetor solar, e não realizar atividades físicas extenuantes, sobretudo em períodos em que a temperatura está no ápice, por volta do meio-dia. Usar roupas leves e frescas e tomar muita água também ajuda a evitar a condição.
Candidíase
A candidíase ocorre quando há um crescimento excessivo do fungo Candida, geralmente Candida albicans. Estima-se que 75% das mulheres tenham o quadro pelo menos uma vez na vida.
“Fungos gostam de calor e umidade. No verão, a gente vai mais à praia e à piscina. Acaba ficando com biquíni ou maiô molhado por mais tempo, e isso pode aumentar a chance da proliferação do fungo que causa a candidíase vaginal”, explica Mohrbacher.
Os principais sintomas do quadro na região genital são coceira, ardência, inchaço, vermelhidão, placas vermelhas ou esbranquiçadas, corrimento esbranquiçado, leitoso ou com grumos e dor durante a relação sexual. Dependendo do grau da infecção, a pessoa pode ter desconforto ao urinar pela existência de microlesões na região.
O tratamento envolve o uso de antifúngicos tópicos, como cremes ou pomadas, e também orais em comprimidos ou cápsulas para infecções mais graves. Para evitar a candidíase, o ideal é não ficar muito tempo com biquíni molhado e usar roupas ventiladas que não abafem a área.
Intoxicação alimentar
A alta temperatura favorece a multiplicação de bactérias em alimentos que não foram conservados e armazenados de maneira adequada. Além disso, um prato estragado servido em um evento — como as festas de fim de ano — pode contaminar várias pessoas ao mesmo tempo.
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“Tenha muito cuidado com o consumo de frutos do mar na beira da praia e também alimentos que exigem refrigeração”, alerta a clínica geral. É bom prestar atenção também na água ingerida. Mesmo aquela aparentemente potável, da torneira, oferece riscos, porque nem sempre é fluorada. Alguns patógenos que causam gastroenterite podem vir da água, como a giárdia.
Os principais sintomas da intoxicação alimentar são diarreia, náusea, vômito, indisposição, cólica abdominal e febre. A maioria dos casos se resolve sozinha e não precisa de tratamento medicamentoso. A orientação é descansar, hidratar-se e consumir alimentos leves, como batata e massa.
No entanto, a pessoa precisa ficar alerta diante de alguns fatores de alarme, que incluem: seis a oito episódios de diarreia por dia, dor abdominal severa, febre acima de 38,5ºC e presença de sangue ou muco nas fezes. Nesse caso, pode ser uma disenteria e precisar de antibiótico.
Algumas estratégias para evitar a intoxicação alimentar são comer alimentos corretamente armazenados e em locais de confiança, lavar as mãos antes das refeições e higienizar frutas e saladas.
Dengue, zika e chikungunya
Em boa parte do território brasileiro, o verão é também a estação das chuvas. O acúmulo de água favorece a propagação de mosquitos, não só daqueles chatos que causam coceira, mas também dos que ameaçam a saúde e até mesmo a vida.
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A dengue, por exemplo, é uma doença infecciosa causada por um vírus e transmitida pela picada de mosquitos fêmea, principalmente da espécie Aedes aegypti. Os sintomas são febre alta (acima de 38ºC) de início repentino, e pelo menos duas das seguintes manifestações: dor de cabeça, prostração, dor muscular e/ou articular e dor atrás dos olhos.
Na presença desses sintomas, o Ministério da Saúde orienta procurar o serviço de saúde para obter o tratamento oportuno. “Quem conseguir achar a vacina e tiver a indicação, deve usá-la”, afirma a clínica geral.
Outras doenças causadas por mosquitos também merecem atenção, como a zika e a chikungunya. Para prevenir as três, é fundamental eliminar criadouros de água parada e usar repelentes, telas de proteção nas casas e roupas compridas em áreas de risco.
Conjuntivite
O calor aumenta o risco de conjuntivite, uma inflamação da conjuntiva, a membrana que reveste a parte branca do olho e a superfície interna das pálpebras. A alta temperatura, por si só, já favorece a proliferação de vírus e bactérias que podem desencadear o quadro.
Mas há outros motivos pelos quais a doença aumenta na estação. “Piscinas com muito cloro, machucado com areia das praias e contato com produtos químicos também podem desencadear a conjuntivite”, afirma a clínica geral.
Algumas medidas para evitar a inflamação são lavar as mãos com frequência, evitar esfregar os olhos e não compartilhar maquiagem e toalha de rosto.
O tratamento da conjuntivite consiste no uso de colírios antibióticos, antifúngicos e/ou anti-inflamatórios, variando de acordo com a causa da doença. Dependendo do caso, pode ser necessário também o uso de remédio orais.
“Se o olho ficar vermelho, lacrimejante, com secreção e muita sensibilidade à luz, vale a pena visitar um oftalmologista”, recomenda Mohrbacher.