Fatores de Risco para o Declínio Cognitivo e Funcional de Pacientes com Doença de Alzheimer

Os fatores de risco para o declínio cognitivo e funcional de pacientes com doença de Alzheimer não são completamente compreendidos, e foram avaliados prospectivamente em pacientes de São Paulo, Brasil. Pacientes ambulatoriais consecutivos com doença de Alzheimer de início tardio foram avaliados com relação aos haplótipos APOE e os seguintes preditores basais potenciais: sexo, escolaridade, idade de início da síndrome demencial, tempo de moradia em área urbana e condições sanitárias, complexidade ocupacional, engajamento em atividades físicas e cognitivas, fatores de risco cerebrovascular (obesidade, uso de álcool, tabagismo, duração de hipertensão arterial e diabetes mellitus, duração do perfil dislipidêmico), uso de marcapasso, depuração da creatinina, índice de massa corporal, circunferência abdominal, traumas de crânio com perda de consciência, infecções bacterianas sistêmicas tratadas com antibióticos, quantidade de procedimentos cirúrgicos sob indução anestésica geral, e história familiar de doença de Alzheimer. Os participantes foram acompanhados entre Outubro de 2010 e Maio de 2017 para avaliação das associações de fatores de risco no início da síndrome demencial com o tempo para as mudanças nos escores do Clinical Dementia Rating e do Mini-Exame do Estado Mental. Para 227 pacientes (154 mulheres, 119 portadores do alelo APOE-ε4), o início mais tardio da doença de Alzheimer (média 73,60±6,4 anos, mais precoce para portadores do haplótipo APOE-ε4/ε4, p<0,001) foi a única variável a acelerar a progressão cognitiva e funcional da doença em todas as fases, enquanto a depuração basal de creatinina e o uso de álcool ao longo da vida aceleraram a progressão cognitiva e funcional da doença somente nas fases iniciais. Mulheres tiveram progressão cognitiva precoce mais rápida, enquanto a escolaridade teve um efeito protetor cumulativo sobre a progressão cognitiva mais tardia, principalmente para portadores do alelo APOE-ε4. Exclusivamente para portadores do alelo APOE-ε4, traumas de crânio com perda de consciência foram prejudiciais para a progressão cognitiva mais precoce, enquanto condições sanitárias ao longo da vida foram protetoras quanto à progressão cognitiva mais tardia. A conclusão do estudo é que resultados cognitivos e funcionais na doença de Alzheimer representam prováveis interações entre efeitos da reserva cerebral e da perfusão cerebral sobre mecanismos de neurodegeneração. O artigo original foi publicado no Journal of Alzheimer’s Disease no final de 2018.

Referência: De Oliveira FF, Almeida SS, Chen ES, Smith MC, Naffah-Mazzacoratti MG, Bertolucci PHF. Lifetime Risk Factors for Functional and Cognitive Outcomes in Patients with Alzheimer’s Disease. J Alzheimers Dis 2018;65(4):1283-1299, https://doi.org/10.3233/JAD-180303